Mais de 100 mil pessoas iniciaram tratamento para deixar de fumar nas unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) em 2021. Os dados são da Divisão de Controle do Tabagismo do Instituto Nacional de Câncer (Inca), divulgados nesta segunda-feira, 29, Dia Nacional de Combate ao Fumo.

O tabagismo é uma doença crônica e epidêmica causada pela dependência à nicotina presente nos produtos à base de tabaco. Essa dependência é enquadrada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no grupo de transtornos mentais e de comportamento, em decorrência do uso de substâncias psicoativas.

Para reduzir a prevalência de fumantes e a consequente morbimortalidade relacionada ao consumo do tabaco, o Ministério da Saúde desenvolve, por meio do Inca, ações de prevenção e tratamento do tabagismo articuladas nacionalmente.

O Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCT) é uma das estratégias coordenadas pelo Inca e tem como objetivo articular ações nacionais junto às secretarias estaduais de saúde e educação visando à prevenção da iniciação, promoção da cessação e proteção da população dos riscos do tabagismo ativo e passivo.

Embora o tratamento do tabagismo seja disponibilizado em todos os níveis de atenção do SUS, a Atenção Primária à Saúde (APS) tem papel fundamental no enfrentamento à doença. Todos os profissionais de saúde devem estar aptos e capacitados para realizar pelo menos uma abordagem breve nos atendimentos, orientar e encaminhar as pessoas tabagistas para o tratamento mais adequado e eficaz disponível localmente, caso a pessoa sinalize o desejo de parar de fumar.

A abordagem básica para que o paciente pare de fumar pode ser feita por qualquer profissional de saúde durante os atendimentos de rotina e inclui 5 etapas:

Perguntar sobre o uso do tabaco;

Avaliar a vontade de parar de fumar;

Aconselhar a cessação do tabagismo com mensagens claras e individualizadas;

Preparar para a cessação;

Acompanhar e organizar o suporte.

Para os casos em que há necessidade de tratamento mais intensivo, envolvendo abordagem multidisciplinar baseada em recomendações clínicas, o tratamento envolve avaliação, intervenção e manutenção da abstinência.

Indica-se a associação entre o aconselhamento terapêutico estruturado/abordagem intensiva e a farmacoterapia para tratar a dependência à nicotina. A combinação das duas formas de tratamento é mais eficaz do que somente aconselhamento terapêutico estruturado/abordagem intensiva ou a farmacoterapia isolada.

O tratamento não medicamentoso é feito por meio de aconselhamento e consiste em realizar sessões periódicas, com base na abordagem cognitivo-comportamental. O aconselhamento terapêutico estruturado/abordagem intensiva deve ser garantido a todos os pacientes que irão iniciar ou já estejam em tratamento, independentemente de terem indicação para uso de medicação ou não.

O tratamento medicamentoso, por sua vez, é recomendado como terapia adicional à abordagem não farmacológica. O medicamento para controle do tabagismo deve ser administrado a partir de indicação profissional, após avaliação individual. A pessoa tabagista deve ser informada sobre as orientações de uso, possíveis efeitos adversos e demais informações acerca do tratamento.

Atualmente, os 26 estados e o Distrito Federal possuem coordenadores estaduais responsáveis por gerenciar e operacionalizar as ações propostas no Programa Nacional de Controle do Tabagismo, oferecendo serviços de prevenção e acolhimento durante o processo de cessação da dependência à nicotina.

Quer parar de fumar, mas não sabe por onde começar? Neste Dia Nacional de Combate ao Fumo, 29 de agosto, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (SMS-Rio) informa que há tratamento disponível nas unidades de Atenção Primária da cidade (centros municipais de saúde e clínicas da família) para quem quer largar o vício.

“O cigarro provoca três tipos de dependências: física, comportamental e emocional. Não adianta só falar para fumante que faz mal. Na primeira entrevista do programa, tentamos perceber qual a ligação dele com o cigarro e fazê-lo se reconhecer nessas dependências para saber lidar com elas. A interrupção não é mágica”, explica a responsável pelo Programa de Controle do Tabagismo da SMS-Rio, a psicóloga Ana Helena Rissin.

Segundo Rissin, a pessoa escolhe a data em que pretende parar de fumar e, nesse período, aprende estratégias para tal. Os profissionais de saúde buscam motivar o paciente, mostrando as vantagens de abandonar a prática, inclusive os ganhos financeiros.

“No final do tratamento, há até casos de pessoas que reformaram a casa com o dinheiro que usavam para comprar os maços de cigarros. Sem falar nos benefícios para a saúde. Vale lembrar que tanto o cigarro tradicional quanto o eletrônico liberam inúmeras substâncias tóxicas e cancerígenas tanto para quem fuma quanto para os que estão ao seu redor”, ressalta.

Como participar – Para ingressar no programa, a pessoa deve procurar a unidade de saúde mais próxima da sua casa. O tratamento pode ser em grupo ou individual, e começa com um acompanhamento semanal durante um mês. Depois a periodicidade das consultas passa a ser quinzenal e, por fim, mensal, por um período de até um ano, a fim de se evitar recaídas.

De acordo com Rissin, entre os fumantes que buscam o tratamento, 40% a 50% param de fumar no primeiro mês. A maioria tem mais de 40 anos, começou a fumar cedo, antes dos 19 anos de idade, e alguns já possuem alguma doença relacionada ao fumo.

É proibido – Neste Dia Nacional de Combate ao Fumo, a SMS-Rio alerta ainda sobre a proibição do consumo de qualquer produto fumígeno, derivado ou não do tabaco, em ambientes de uso coletivo, públicos ou privados, total ou parcialmente fechados, conforme a Lei Federal 9294/96 e a Lei Estadual 5517/09. Isso inclui o cigarro eletrônico, vape, pod, e-cig e narguilé, entre outros. Para conscientizar comerciantes e consumidores, o Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (Ivisa) realiza atividades educativas a respeito da legislação e malefícios do consumo desses produtos.

Tabagismo no Brasil e no mundo

O quarto relatório da OMS de 2021, sobre tendências globais do tabaco, revela que existem mais de 1,3 bilhão de usuários de tabaco no mundo. Estima-se que 80% deles vivem em países de baixa e média renda, nos quais a carga das doenças e mortes em decorrência do consumo de tabaco é mais presente e extensa. Análises da OMS em 2010 apontavam que os fumantes, na época, consumiam cerca de 6 trilhões de cigarros todos os anos.

De acordo com o Inca, o Brasil emprega anualmente cerca de R$ 125 bilhões para tratar as doenças e incapacitações provocadas pelo tabagismo. Dados do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco de Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (Vigitel 2021) apontam que o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 9,1%. Nesse cenário, 11,8% dos homens dessa faixa etária são fumantes, já as mulheres fumantes representam 6,7% dessa população.

Fonte: Inca, Ministério da Saúde e SMS-Rio

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