Na semana passada, o Ministério da Saúde anunciou um recorde histórico em transplantes de órgãos: foram mais de 30 mil somente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), responsável por mais de 9-% dos procedimentos realizados no Brasil.
Em abril, a Central de Transplantes de São Paulo, da Secretaria de Estado da Saúde (SES), divulgou que o estado também registrou crescimento no número de transplantes de órgãos realizados. Nos primeiros três meses de 2025, o levantamento apontou um aumento em praticamente todos os tipos de procedimentos.
O destaque foi o transplante de pâncreas, que passou de 11 para 26 intervenções, uma alta de 136% em relação ao mesmo período de 2024. Também foram registrados aumentos nos transplantes de coração, que subiram 34% (de 32 para 43), de rim, com crescimento de 16% (de 329 para 406), de pulmão, com 12% a mais (de 25 para 28), e de fígado, que tiveram elevação de 9% (de 127 para 139)
Para Lucas Nacif, cirurgião gastrointestinal e membro da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), os números de São Paulo representam um avanço importante, mas o cenário nacional ainda exige atenção.
O crescimento registrado no estado é bastante positivo, mas, em todo o Brasil, os índices de doação ainda estão aquém do necessário. Como dependemos 100% de doações, é fundamental fortalecer, cada vez mais, a cultura da doação no país. Esse movimento é essencial para ampliar o número de transplantes efetivos. Um único doador falecido, por exemplo, pode beneficiar até dez pessoas que aguardam na fila”, destaca.
E como funciona a fila de espera?
Quando um paciente precisa de um transplante, é comum surgirem dúvidas sobre como funciona a fila de espera. Segundo o membro da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Dr. Lucas Nacif, o processo é nacional, rigoroso e segue critérios técnicos bem definidos.
A lista é única, séria e, acima de tudo, criteriosa. Ela reúne todos os pacientes que aguardam um transplante, independentemente de estarem em hospitais públicos ou privados, com ou sem convênio. A ordem de prioridade é determinada por fatores como gravidade da doença, tempo de espera, tipo de órgão necessário e compatibilidade. Muitas vezes, quem parece ‘passar na frente’ está, na verdade, em situação clínica mais grave”, explica o especialista.
E a doação em vida?
A doação em vida também é possível e ocorre em casos específicos, como a doação de órgãos duplos principalmente rins ou de parte do fígado e pulmão. A doação de medula óssea é outra alternativa bastante comum.
Para ser um doador em vida, a pessoa precisa estar em perfeito estado de saúde, já que o procedimento não pode colocar sua integridade física em risco. “Todo doador passa por uma avaliação completa para garantir que a doação será segura tanto para ele quanto para o receptor”, reforça Nacif.
Como manifestar o desejo de ser doador
No caso da doação após a morte, é fundamental que a pessoa manifeste sua vontade em vida, principalmente aos familiares, já que são eles os responsáveis por autorizar o procedimento. Além disso, ele explica que a avaliação do potencial doador é feita por equipes especializadas, considerando diversos critérios técnicos.
Pacientes internados há até sete dias, por exemplo, são considerados ideais para a doação. Mas isso não significa que casos além desse prazo sejam descartados. Cada situação é analisada individualmente. E fatores como idade avançada, histórico de tabagismo, uso de drogas ou consumo excessivo de álcool podem ser limitadores”, finaliza Dr. Lucas Nacif.