A raiva é uma das enfermidades mais letais do mundo, com quase 100% de mortalidade, e é transmitida ao ser humano por animais silvestres ou domésticos ou não vacinados. No meio urbano, ela pode ser transmitida principalmente por cães ou gatos.
O Brasil está há quase 10 anos sem registros de raiva humana transmitida por cães, superando o prazo de cinco anos exigido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para declarar uma área livre da doença. Apesar de a transmissão estar controlada, a doença continua sendo motivo de preocupação.
Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2010 e 2025, o Brasil registrou 50 casos de raiva humana, com diferentes fontes de transmissão, como cães, gatos, morcegos e primatas não humanos. Os morcegos foram responsáveis pelo maior número de transmissões, com 22 ocorrências, seguidos por macacos e ratos.
Em agosto de 2023, o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) de São Paulo confirmou um caso em um cão no bairro do Butantã, associado a uma variante de morcego (AgV3). Já em 2025, foram confirmados dois casos de raiva humana transmitida por saguis no Nordeste, o que reforça que, mesmo em áreas urbanas, o vírus segue em circulação e requer vigilância contínua.
Alerta para uma das zoonoses mais graves e antigas do mundo
Em 28 de setembro, Dia Mundial Contra a Raiva, é feito o convite à reflexão sobre uma das zoonoses mais graves e antigas do mundo, que ainda hoje exige atenção constante. A data reforça orientações sobre prevenção e cuidados contra a doença.
Doença infecciosa, a raiva é causada por um vírus da família Rhabdoviridae. A transmissão ocorre do animal infectado para o ser humano, principalmente por mordedura. Embora não tenha cura, a doença pode ser prevenida por meio da vacinação.
A raiva é uma infecção aguda causada por um vírus, e sua transmissão acontece quando ocorre uma mordida, lambida ou contato com fluidos corporais de animais contaminados”, explica a infectologista Pâmella Wander, do Hospital Estadual de Trindade – Walda Ferreira dos Santos (Hetrin).
De janeiro a agosto deste ano, a unidade pública do Governo de Goiás, administrada pelo Instituto de Medicina, Estudos e Desenvolvimento (IMED) – realizou 76 atendimentos antirrábicos.
Entenda as manifestações clínicas da doença
Entre os sintomas mais comuns estão febre, fadiga, mal-estar e dor ao engolir. Nos casos mais graves, quando não há intervenção, podem surgir confusão mental, dor de cabeça intensa e agitação.
Em caso de suspeita ou acidente com animais, é crucial procurar imediatamente auxílio médico para iniciar as medidas necessárias. Quando possível, também será feita a avaliação do animal transmissor. É fundamental não interromper o tratamento”, reforça a infectologista.
O período de incubação, ou seja, tempo entre o contato com o vírus até o aparecimento dos primeiros sinais da doença é variável entre as espécies, desde dias até anos. Nos animais, a raiva provoca distúrbios neurológicos, incluindo alterações comportamentais e paralisia progressiva.
Entre as mudanças de comportamento, podem ocorrer apatia, agressividade e, em alguns casos, isolamento. Já os sinais de paralisia geralmente começam com um andar cambaleante, dificuldade para engolir e evoluem para coma e morte.
Em cães e gatos infectados, a eliminação do vírus pela saliva pode ocorrer de dois a cinco dias antes do surgimento dos sinais clínicos, e a morte costuma acontecer entre cinco e sete dias após o início das manifestações.
Já nos seres humanos, inicialmente surgem alterações inespecíficas, como pequeno aumento de temperatura, dor de cabeça, náuseas e inquietude. À medida que a doença avança, surgem manifestações mais graves, com evolução para paralisia e morte.
O que fazer em caso de mordida
A raiva é transmitida pelo contato com a saliva de animais infectados, geralmente por mordidas ou lambidas em feridas abertas. Se uma pessoa for mordida por um animal infectado, a recomendação é fazer a limpeza do ferimento com água corrente abundante e sabão ou outro detergente.
Após a limpeza, devem ser utilizados antissépticos como o gluconato de clorexidine ou álcool iodado, com o objetivo de neutralizar a ação do vírus na porta de entrada. Em seguida, procurar imediatamente um posto de saúde. É essencial e não pode ser adiado.
A orientação é que a vítima identifique o animal que a mordeu e seu tutor. O cão ou o gato deve ficar preso por dez dias, com alimentação normal, e seu comportamento deve ser informado ao posto de saúde.
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Por que a raiva é uma questão de saúde pública?
Vacina antirrábica é obrigatória desde 1973
Pâmella destaca que a prevenção é a forma mais eficaz de combate à doença. “É essencial manter o cartão vacinal de todos os animais atualizado. Sempre que houver campanhas, vacine seus animais. E, caso encontre animais silvestres mortos, evite o contato e comunique as autoridades locais”, orienta.
A médica-veterinária Kathia Soares, da MSD Saúde Animal, também alerta para a necessidade de manter a vacinação dos pets sempre atualizada. “A vacinação anual é indispensável. Ela oferece uma proteção eficaz aos animais e, ao mesmo tempo, contribui para o controle da circulação da doença entre espécies, reduzindo o risco de transmissão aos humanos”, afirma.
Desde 1973, o Programa Nacional de Profilaxia da Raiva (PNPR) tornou obrigatória a vacinação antirrábica de cães e gatos em todo o território nacional. De acordo com o Ministério da Saúde, essa medida foi fundamental para reduzir de forma expressiva os casos da doença em animais domésticos e para manter o controle no país. Ainda assim, a raiva continua sendo uma ameaça relevante à saúde pública.
O fato de todos os anos serem confirmados casos de morcegos com raiva evidencia a necessidade de cães e gatos receberem a vacina anualmente. A imunização pode ser feita em campanhas públicas ou diretamente em estabelecimentos médico-veterinários.
Uma vacina inativada formulada com a cepa Pasteur, a mesma utilizada em vacinas humanas, indicada para cães, gatos e ferrets a partir de 3 meses de idade, e com eficácia comprovada mesmo em cenários de alto desafio. “É um recurso seguro, confiável e essencial para manter os animais protegidos, além de contribuir para a saúde coletiva”, explica Kathia.
Agenda Positiva
Estado do Rio distribuirá 2,5 milhões de doses de vacina antirrábica para municípios
Dia D de Vacinação ocorrerá em 27 de setembro em todo o estado
Tutores de cães e gatos têm um compromisso importante no sábado, 27 de setembro: o Dia D da Vacinação Antirrábica Animal, que acontecerá em todo o estado do RJ. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) vai disponibilizar cerca de 2,5 milhões de doses para vacinar cães e gatos a partir de três meses de idade.
As doses serão distribuídas pela SES-RJ a todos os 92 municípios fluminenses que estarão mobilizados para a tarefa de imunizar o maior número possível de animais de estimação.
A coordenadora de Vigilância Ambiental da SES-RJ, Patrícia Meneguete, lembra que a vacina antirrábica é gratuita, segura e essencial para proteger a saúde dos animais e das pessoas.
A raiva é uma doença grave e fatal, mas pode ser evitada com uma simples dose da vacina. Leve seu animal ao posto de vacinação mais próximo de sua casa. Vacinar é um ato de amor e responsabilidade. Proteja seu melhor amigo”, estimula a coordenadora.
A vacinação antirrábica é aplicada em postos municipais. A definição dos locais e dos horários da imunização fica a cargo das Secretarias Municipais de Saúde de cada cidade. Vale ressaltar que a raiva não possui tratamento. A única forma de prevenção é a vacinação anual dos pets.
Niterói inicia Campanha de Vacinação Antirrábica Animal
Os tutores de pets devem ficar atentos aos dias, locais e regiões em que a vacina estará disponível
Até os anos 1980, ainda havia casos de raiva humana transmitida por cães em Niterói. A partir daí, quando foram instituídas as campanhas anuais de vacinação animal, não houve mais óbito pela doença no município. A secretária municipal de Saúde, Ilza Fellows, destaca a importância da vacinação.
A vacinação antirrábica é fundamental, uma vez que a raiva é uma doença que pode ser fatal para os animais. Não deixe de levar seu gato ou cachorro para serem imunizados, essa é a melhor forma de prevenção e proteção”, afirma a secretária.
A Prefeitura de Niterói dará início à Campanha de Vacinação Antirrábica Animal de 2025, no sábado (4). A primeira a receber a campanha será a região Praias da Baía, que compreende os bairros do Centro, Icaraí, Ingá, Boa Viagem, São Francisco, Charitas e Jurujuba, entre outros.
No dia 11, a vacinação será na Zona Norte, e no dia 18, na Região Oceânica, Pendotiba e Região Leste. Ao todo, serão 66 postos fixos espalhados pela cidade à espera de cães e gatos, machos e fêmeas, a partir dos três meses de idade. A vacina é segura e não tem contraindicação.
Os cães deverão ser conduzidos por coleiras e em casos de animais grandes, com focinheiras. Os gatos devem ser levados em caixas de transporte, uma vez que esses animais se estressam facilmente e podem fugir. A contenção é de responsabilidade do condutor do animal, cabendo ao vacinador apenas a aplicação da dose.
O chefe do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Fábio Vilas Boas, alerta para a gravidade da doença e reforça a importância da vacinação.
A vacina é segura e é a forma mais eficaz de proteger cães, gatos e também a saúde de todo mundo. Por isso, a gente reforça o recado: leve seu bichinho até um ponto de vacinação. Cuidar dos nossos pets é também cuidar da nossa comunidade”, explicou.
Com Assessorias