Estima-se que 7 em cada 10 pessoas intoxicadas com metanol apresentam os sintomas visuais e podem perder a visão, caso não recebam o tratamento imediatamente. Uma das notícias que mais chamaram a atenção foi o caso de uma moradora de São Paulo que perdeu a visão de forma muito rápida, após o consumo de bebida alcoólica adulterada com metanol.

Mas os problemas oculares não se restringem à ingestão de metanol misturado à bebida de forma criminosa. Danos na visão podem ocorrer mesmo em pessoas que bebem moderadamente, desde a síndrome do olho seco e a catarata até a neuropatia óptica alcoólica e a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI).

A parte dos casos de metanol, que chamaram a atenção de todos, precisamos falar os males que o etanol, presente nas bebidas alcoólicas, causa à visão. O álcool pode causar problemas imediatos na visão, bem como em longo prazo”, alerta a oftalmologista Maria Beatriz Guerios, especialista em glaucoma.

Consumo de álcool também prejudica a visão

A preocupação faz sentido sobretudo em um país onde cerca de 25% dos adultos consomem bebidas alcoólicas pelo menos em um dia da semana. Normalmente, ao consumir uma bebida alcoólica, a pessoa pode apresentar visão turva e redução da precisão dos movimentos dos músculos oculares. Com isso, podem ocorrer dificuldade em focar objetos e visão dupla”, aponta Dra. Maria Beatriz.

“Outros efeitos do álcool são a dificuldade para ajustar o foco de perto e de longe, bem como ofuscamento e dificuldade de enxergar com nitidez, principalmente à noite. Como o álcool age no sistema nervoso central, é comum a percepção das imagens ficar mais lenta e menos precisa.

Adicionalmente, o campo visual lateral pode ficar mais restrito e os olhos podem ficar bastante vermelhos, devido à dilatação dos vasos sanguíneos na conjuntiva”, complementa a especialista. “Esses efeitos costumam ser passageiros, mas são um importante fator de risco para acidentes de carro, quedas e outros incidentes”, ressalta.

No entanto, é preciso conscientizar as pessoas sobre os efeitos cumulativos do álcool no organismo. “Nas pessoas que consomem bebidas alcoólicas de forma rotineira e naquelas que são alcoolistas, o álcool pode levar a uma série de doenças oculares graves”, alerta Dra. Maria Beatriz.

Efeitos do álcool podem surgir em longo prazo

Uma recente revisão sistemática e meta-análise revelou que o consumo excessivo de álcool aumentou significativamente o risco de catarata relacionada à idade. Portanto, a ingestão de bebidas alcóolicas pode acelerar o surgimento da catarata. Outro resultado do consumo de álcool é o desenvolvimento da síndrome do olho seco.

Outra doença ocular que pode ser causada pelo consumo regular de bebida alcóolica é a neuropatia óptica alcoólica, que leva a danos progressivos no nervo óptico. Nesses casos, os danos têm relação com os efeitos tóxicos do álcool e com a má nutrição, presente em boa parte dos alcoolistas.

Para além dos danos no nervo óptico, o consumo abusivo de álcool pode levar ao desenvolvimento de doenças na retina, como a Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI), uma das principais causas de cegueira em todo o mundo, especialmente em idosos.

Há inúmeros estudos que apontam uma ligação entre o consumo de álcool e a DMRI. Uma meta-análise indicou que o consumo de mais de 30 g/dia de álcool foi correlacionado a um risco maior de DMRI precoce, entre 43 e 67%”, aponta a médica.

Já de acordo com um dos estudos mais importantes sobre consumo de álcool, o Melbourne Collaborative Cohort Study, consumir mais de 20 g de álcool por dia aumentou a incidência de DMRI precoce em aproximadamente 20% em ambos os sexos. Este estudo também revelou que mesmo quem bebe “socialmente” ou de forma moderada apresenta risco maior de desenvolver a DMRI precoce.

Enfim, o álcool é uma substância nociva para a saúde e não há dose segura. Há efeitos imediatos e em longo prazo, ou seja, cumulativos. Embora as doenças que atingem o fígado sejam as mais conhecidas, torna-se importante aumentar o conhecimento da população a respeito dos efeitos do álcool na saúde visual”, finaliza Dra. Maria Beatriz.

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Ao ser metabolizado pelo fígado, o metanol se transforma em compostos altamente tóxicos que atacam o sistema nervoso — com o nervo óptico entre os mais vulneráveis

O metanol, também conhecido como álcool metílico, é amplamente empregado na indústria em solventes, combustíveis e na fabricação de produtos químicos. Apesar de sua utilidade, a ingestão dessa substância representa um risco extremo à saúde humana.

Nas últimas semanas, centenas de casos de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas vêm sendo investigados. As consequências podem ser devastadoras: desde cegueira irreversível até falência múltipla de órgãos e morte.

Mas por que isso acontece?

A substância é extremamente tóxica para o corpo humano, mesmo em pequenas quantidades. Os danos do metanol à saúde têm relação com a sua metabolização, que ocorre no fígado, onde é convertido em formaldeído e, em seguida, em ácido fórmico, compostos altamente tóxicos que atacam o sistema nervoso central, os nervos ópticos, o fígado e os rins. 

Ambas as substâncias são extremamente tóxicas para o corpo humano. Como resultado ocorre uma acidose metabólica, ou seja, o sangue se torna mais ácido do que o normal. Um dos principais danos da intoxicação por metanol ocorre no nervo óptico, pois o ácido fórmico chega rapidamente às células da retina e do nervo óptico, levando a lesões irreversíveis”, explica Maria Beatriz Guerios.

De acordo com o oftalmologista e cirurgião ocular Henock Altoé, os casos de intoxicação por metanol ocorrem, em sua maioria, após o consumo de bebidas alcoólicas adulteradas.

Após ser ingerido, o metanol é metabolizado pelo fígado e transformado em substâncias que comprometem gravemente o sistema nervoso. O nervo óptico, responsável por levar os sinais visuais da retina ao cérebro, é especialmente sensível. O ácido fórmico interfere na produção de energia das células nervosas, causando distúrbios visuais que, em muitos casos, evoluem para cegueira permanente”, explica o especialista.

Sintomas iniciais podem enganar

Os primeiros sinais visuais da intoxicação por metanol geralmente aparecem entre 6 e 24 horas após a ingestão. A visão começa a ficar turva, como se o paciente enxergasse através de um vidro embaçado. Logo depois, surge uma intensa sensibilidade à luz — a fotofobia — que dificulta manter os olhos abertos em ambientes iluminados.

Também podem surgir manchas escuras no campo visual, comprometendo a distinção de formas e cores. À medida que a intoxicação avança, a perda de visão se intensifica, podendo culminar em cegueira permanente caso não haja atendimento médico imediato.

O médico oftalmologista Henock Altoé descreve o metanol como uma substância traiçoeira. “Nos estágios iniciais, os sintomas se assemelham aos de uma embriaguez comum, o que leva muitas pessoas a subestimarem o perigo e atrasarem a busca por ajuda”, alerta.

Segundo ele, esse atraso no diagnóstico é o principal fator de agravamento nos casos de intoxicação. “Ao contrário do etanol, o metanol continua agindo no organismo com o passar do tempo. Quando o indivíduo percebe que não se trata apenas de uma ressaca, os danos já podem estar avançados e órgãos vitais comprometidos. A rapidez no atendimento é decisiva.”

Diante da suspeita de intoxicação por metanol, é essencial procurar assistência médica imediatamente. Informar o histórico de consumo de bebidas — especialmente aquelas de procedência duvidosa ou com odor e sabor incomuns — pode ser determinante para o diagnóstico. Cada hora de espera aumenta consideravelmente o risco de sequelas graves ou até mesmo de morte.

Recomendações importantes

  • Procure atendimento médico urgente se apresentar sintomas como visão borrada, dor abdominal, confusão mental, sonolência ou embriaguez persistente entre 6 e 24 horas após o consumo.
  • Informe o local de compra, tipo de bebida e se outras pessoas também consumiram o produto — isso ajuda na investigação epidemiológica.
  • Não tente induzir vômito nem realizar procedimentos caseiros.
  • O tratamento hospitalar pode incluir antídotos (como etanol medicinal ou fomepizol), hemodiálise e suporte clínico.

Linha do tempo da intoxicação

Até 12 horas – sintomas leves e enganosos

  • Náuseas, dor abdominal, tontura e dor de cabeça podem parecer uma simples ressaca.
  • Alterações metabólicas já estão em curso.
  • Exames podem indicar acidose metabólica e aumento do osmolar gap.

De 12 a 24 horas – comprometimento visual

  • O ácido fórmico afeta a retina e o nervo óptico.
  • Sintomas incluem visão borrada, fotofobia e pontos luminosos.
  • Sem intervenção, há risco de cegueira permanente.

Até 48 horas – risco de morte

  • O ácido fórmico atinge o sistema nervoso central, podendo causar convulsões, coma e arritmias.
  • Coração, pulmões e rins entram em colapso.
  • Após 48 horas, os danos são difíceis de reverter.

 

Com Assessorias

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