Moradora de Queimados, na Baixada Fluminense, Júlia de França, de 9 anos, já garantiu a primeira dose da vacina do HPV procurando um posto de saúde com sua avó. “É bem melhor prevenir do que ficar doente um dia. Só uma picadinha que nem dói e já me sinto protegida, todas as meninas deveriam se vacinar”, afirmou a menina. Especialistas alertam que vacinar os adolescentes que ainda não iniciaram a vida sexual para garantir uma melhor cobertura da imunização. Mas os números não são animadores. A cobertura da vacina está muito abaixo do esperado nacionalmente.
Em 2015, apenas 44% das meninas de 9 a 11 anos tomaram a segunda dose da vacina contra HPV, o que deixa a população vulnerável às doenças relacionadas ao vírus. Com a introdução de meninos na vacinação pública contra o HPV o desafio foi ainda maior. Para tentar aumentar esses índices, a saída é levar a vacina até as escolas. Por isso, os ministérios da Saúde e da Educação lançaram o Programa Saúde na Escola, um repasse de verbas aos municípios para promover ações que incentivem esses aspectos conforme o planejamento e a realidade local. O prazo para os municípios aderirem ao programa terminou dia 14.
É grande o desafio que a maioria dos países que não adotaram a vacinação na escola está enfrentando para alcançar taxas satisfatórias de cobertura vacinal da população adolescente contra vírus como o HPV. No Brasil, o Ministério da Saúde alerta para a importância do envolvimento do setor educacional e a adoção da vacinação em escolas públicas, particulares e unidades básicas de saúde. O problema é similar com outra vacina recentemente adotada pelo Programa Nacional de Imunizações para a mesma faixa etária, a vacinameningocócica C conjugada.
A Austrália é um exemplo de sucesso com a vacinação nas escolas: desde o início da vacinação pública contra o HPV, o programa está vinculado às escolas. O país foi o primeiro a oferecer gratuitamente em 2007 a vacina quadrivalente contra o HPV para meninas e mulheres de 12 a 26 anos, com taxas satisfatórias de cobertura vacinal de 70%, em média, para pessoas entre 12 e 17 anos, e mais de 32% para a faixa entre 18 e 26 anos.
A infecção pelo HPV atinge mais de 630 milhões de homens e mulheres no mundo (uma em cada 10 pessoas), segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, estima-se que entre 9 e 10 milhões de pessoas sejam portadoras do vírus e que 700 mil novos casos sejam registrados a cada ano, por isso as doenças relacionadas ao HPV provocam grande impacto do ponto de vista individual e de saúde pública.
“Estima-se que 80% da população sexualmente ativa vá contrair HPV durante a vida e uma parte dela desenvolverá doenças significativas. No caso da população mundial feminina, cerca de 10% têm HPV, que é mais frequente entre as menores de 25 anos, cujas taxas podem chegar a 40-50%”, afirma Edison Natal Fedrizzi, professor de Ginecologia e Obstetrícia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e chefe do Centro de Pesquisa Clínica “Projeto HPV” no Hospital Universitário da UFSC, onde desenvolve pesquisas na área de DSTs/HPV.
Luisa Villa, bióloga docente do departamento de radiologia e oncologia da faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e chefe do laboratório de biologia molecular do Centro de Investigação Translacional em Oncologia do Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp).
“O impacto da vacinação em termos de saúde coletiva se dá pelo alcance de 80% de cobertura vacinal, gerando uma ‘imunidade coletiva ou de rebanho’, ou seja, reduzindo a transmissão mesmo entre as pessoas não vacinadas”, declarou a gestora, que ainda afirmou que a principal forma de transmissão do HPV se dá por relações sexuais, mas também pode ocorrer no momento do parto (passando de mãe para filho), e, mais raramente, pelo contato das mãos.