Estudos científicos dando conta que a deficiência de vitamina D poderia estar associada aos pacientes diagnosticados com a Covid-19 fizeram muita gente correr para a farmácia para comprar suplementos ou aproveitar o confinamento para pegar um sol na varanda, no terraço, no quintal ou  até mesmo da janela do apartamento. Após um estudo publicado pela Universidade de Turim, na Itália, nas últimas semanas muito se tem discutido sobre o uso da vitamina D para o tratamento de pacientes com a doença causada pelo novo coronavírus.

Dados preliminares coletados pelos pesquisadores italianos mostraram que a deficiência desta vitamina hoje é muito notada entre os pacientes hospitalizados por Covid-19. Assim, a substância poderia ter um papel importante no tratamento e prevenção da doença. A pesquisa analisou a relação entre a deficiência deste nutriente no corpo e o novo coronavírus e propõe a vitamina D não como cura, mas como uma ferramenta importante para reduzir os fatores de risco.

Também em documentos da Associação Dietética Britânica, os autores sugerem aos médicos, além de medidas gerais de prevenção conhecidas, que sejam garantidos os níveis adequados de vitamina D na população, principalmente nos familiares de pacientes já infectados pelo coronavírus, idosos, pessoas em regime de clausura e profissionais de saúde.

No Brasil, entretanto, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP) afirma que não há até o momento um estudo científico que comprove que a vitamina pode conter a infecção pelo coronavírus. E alertam para para a superdosagem desse hormônio.

Não existem comprovações científicas, até o momento, de que a vitamina D deva ser utilizada para combater a Covid-19. As superdosagens podem apresentar sérios riscos à saúde, como o aumento dos níveis de cálcio no sangue (hipercalcemia), que pode gerar calculose renal e perda da função renal. A hipercalcemia ainda pode trazer sintomas como fadiga, fraqueza muscular, náuseas e até anorexia, confusão mental e desidratação”, afirma Sergio Setsuo Maeda, presidente da SBEM-SP.

Médica alerta para efeitos colaterais do excesso

Na Itália, a falta de vitamina D afeta grande parte dos habitantes, especialmente os mais idosos, cujo país tem a segunda maior população do mundo, depois do Japão. Os mais velhos fazem ainda parte do grupo de risco do novo coronavírus. Fortemente a atingida pela pandemia, a Itália já registrou o maior número de mortes do mundo em decorrência da Covid-19.

No artigo dos pesquisadores italianos, foi observado que os pacientes infectados apresentavam níveis mais baixos de vitamina D, mas pode ser apenas uma coincidência, visto que a hipovitaminose é muito frequente nos meses de inverno e, também, em idosos, que foram os mais acometidos na Itália”, afirma Carolina Aguiar Moreira, médica endocrinologista do Laboratório PRO da Fundação Pró-Renal.

Ela confirma que a vitamina D tem um papel importante para vários tecidos no organismo, principalmente para os ossos, e uma ação no sistema imunológico também já foi demonstrada. Entretanto, isto não justifica usar altas doses de vitamina D sem orientação médica.

Dra Carolina ainda faz um alerta que o excesso da vitamina D no corpo pode aumentar o cálcio no sangue e predispor a formação de cálculos renais, podendo também ocasionar uma insuficiência renal aguda. Outros sintomas também são desidratação, fadiga e confusão mental. “Os efeitos colaterais por excesso de vitamina D também pode ocorrer quando doses muito altas são usadas, como tem sido divulgado nas redes sociais”, ressalta.

Quando utilizar a suplementação de vitamina D?

É importante ressaltar que com o isolamento e a falta de exposição solar, é possível que os níveis de vitamina D no sangue (através da dosagem da 25 OH Vitamina D) fiquem reduzidos, já que a disponibilidade de vitamina D em alimentos do dia a dia é muito pequena. Sendo assim, é recomendado fazer a suplementação de vitamina D para prevenir os efeitos deletérios da sua deficiência, principalmente nos ossos, e, claro, também no sistema imunológico,, principalmente, neste período de maior suscetibilidade a infecções virais.

“Na impossibilidade de realizar a dosagem da vitamina D para saber o nível, reposição das necessidades mínimas diárias de 1000-2000 UI ao dia podem ser realizadas com segurança“, afirma a médica da Pró-Renal. Dra Carolina também reforça a importância de sempre consultar um médico sobre a necessidade de suplementação ou sobre o aparecimento de sintomas de alguma possível doença. “Ele é a melhor pessoa para entender sobre as suas necessidades e para avaliar os exames laboratoriais e/ou médicos”.

Endocrinologistas, dermatologistas e nutricionistas também recomendam inserir nas refeições alimentos ricos em vitamina D, como ovos, carnes, fígado de boi, peixes gordurosos (como sardinha e atum em lata, e salmão), óleo de fígado de bacalhau, cogumelos secos, ovos, leite e derivados (queijo cheddar, manteiga, iogurte), entre outros.

Mais sobre a pesquisa na Itália

Coordenado pelo professor Giancarlo Isaia, docente em geriatria e presidente da Academia de Medicina de Turim, e por Enzo Medico, professor de Histologia (estudo de tecidos), a pesquisa publicada na Itália no dia 26 de março mostrou em dados preliminares que “os pacientes com a Covid-19 apresentam uma prevalência muita alta de deficiência de vitamina D“.

Os dados apurados na pesquisa, segundo os dois especialistas, mostraram que a vitamina D tem papel ativo na regulação do sistema imunológico. Outras evidências indicam que o composto tem um efeito “na redução do risco de infecções respiratórias de origem viral, inclusive na do coronavírus“. O elemento também teria capacidade de combater danos pulmonares causados por inflamações.

Ter vitamina D suficiente no organismo também “pode ser necessário para determinar uma maior resistência às infecções de Covid-19, (possibilidade) que, apesar de haver menos evidências científicas, pode ser considerada verossímil”, escrevem os pesquisadores. A falta da molécula no organismo é ainda frequentemente associada a diversas doenças crônicas que podem reduzir a expectativa de vida em idosos, “tanto mais no caso de infecções da Covid-19”.

Isaia e Medico já submeteram o documento com dados da pesquisa à Academia de Medicina de Turim. No texto, eles recomendam aos médicos que, associada a outras medidas, eles garantam “níveis adequados” de vitamina D na população, “mas sobretudo em pacientes já contagiados, seus familiares, agentes de saúde, idosos frágeis, no público de residências assistenciais, em pessoas em regime de isolamento e em todos aqueles que, por vários motivos, não se expõe adequadamente à luz solar”.

Além disso, os autores dizem que a administração intravenosa da forma ativa da vitamina D, o Calcitriol, também pode ser considerada em pacientes da doença respiratória Covid-19, causada pelo coronavírus, com funções respiratórias particularmente comprometidas. Eles lembram ainda que a carência pode ser compensada, antes de tudo, com exposição das pessoas à luz solar pelo maior tempo possível, “em varandas e terraços, além de ingerir alimentos ricos em vitamina D e tomando preparados farmacêuticos especiais – mas sempre após consulta médica”.

Como a vitamina D age no sistema imunológico

A vitamina D é um hormônio esteroide lipossolúvel que pode ser obtido após exposição solar ou por meio da alimentação. Somos muito privilegiados por vivermos em um país tropical, onde temos sol praticamente o ano inteiro. Mas, ainda assim, cerca de 80% das pessoas que vivem no ambiente urbano estão deficientes da Vitamina D, um  micronutriente que age em muitos processos no organismo.

A deficiência deste hormônio é a causa de muitas pessoas estarem adoecendo sem nem saber o porquê. Vivem com cansaço, infecções recorrentes, dores musculares, alterações de humor, queda de cabelo e a sua deficiência, favorece 17 tipos de câncer”, afirma a endocrinologista Bruna Marisa, médica, pós-graduada em Medicina Ortomolecular e Endocrinologia e membro da Sbem.

Ela explica que a Vitamina D é fundamental para manter saudável o sistema imunológico e para a manutenção do tecido ósseo, além de controlar 270 genes, inclusive células do sistema cardiovascular.

A especialista afirma que para repor a vitamina D é necessário que a pessoa se exponha à luz do sol pelo menos 15 minutos diariamente, ainda que seja em varandas e terraços. “Não se expor ao sol NUNCA, é tão nocivo quanto a exposição excessiva”, diz a médica.

Vitamina D traz benefícios para pele e cabelo

Além de garantir a saúde dos ossos, regular o sistema imunológico e cardiovascular,  a Vitamina D auxilia na saúde a pele e tem muitas outras ações. “Na pele tem um efeito protetor contra o envelhecimento, pois é um antioxidante. Atua também na renovação celular e tem propriedades antimicrobianas. A sua deficiência leva a ao prejuízo dessas ações”, explica a médica dermatologista Veridiana Abud, da clínica For All Group de São Paulo.
Quando o assunto é pele, no entanto, ainda não há comprovação científica sobre todos os benefícios.  “O que existe comprovado cientificamente é que baixos níveis de vitamina D influenciam em certas doenças crônicas como dermatite atópica, rosácea e psoríase, favorecendo a exacerbação das lesões. Por influenciar na parte imunológica, a vitamina D é fundamental para manter íntegra a barreira da pele e deve ser suplementada caso esteja insuficiente ou deficiente”, alerta a dermatologista Fabiana Seidl, do Rio de Janeiro.
Dra. Fabiana explica que níveis de vitamina D estão associados a uma piora na queda dos cabelos. “Isso ocorre principalmente em casos de eflúvio telógeno e alopecia areata. Portanto, os níveis de vitamina D devem ser investigados em casos de queda de cabelo”.
As especialistas destacam que tomar sol é considerada uma prática importante, mas não em excesso. “O sol é importante para a conversão de pró vitamina D em vitamina D, mas ao contrário do que muitas pessoas pensam não é necessário prolongar a exposição solar . Apenas poucos minutos por dia, com braços ou pernas expostas é o suficiente e a maioria das pessoas já faz isso normalmente, não sendo necessário mudar a rotina”, destaca Dra. Fabiana.

Nutrólogo esclarece 9 dúvidas sobre o tema

Em tempos de pandemia e surgimento de novas doenças, é importante que a população esteja protegida e com seus índices de saúde controlados. Vários estudos pelo mundo têm mostrado o papel fundamental da vitamina D na modulação da imunidade inata, sendo capaz de atacar agentes agressores de forma a impedir seu avanço e multiplicação dentro do organismo.

Pensando nestas questões, Renato Leça, nutrólogo, oftalmologista, pesquisador sobre vitamina D e professor da Faculdade de Medicina do ABC, tira as principais dúvidas sobre o assunto, lembrando várias outras pesquisas sobre o tema. Confira:

1. O que é a vitamina D e para que serve?

A vitamina D é um micronutriente que, entre outras funções no corpo, atua no funcionamento do sistema imunológico, auxilia na absorção de cálcio e tem papel importante no equilíbrio do açúcar no sangue. Ou seja, atua como um hormônio multifuncional, já que diversas células e tecidos possuem receptores para síntese da vitaminaA deficiência dessa vitamina está comprovadamente ligada a uma série de doenças, como as doenças autoimunes, o diabetes, a osteoporose.

2. Eu preciso tomar vitamina D? De quanto precisamos?

Estudos mostram que 77% da população brasileira têm vitamina D abaixo de 20ng/ml, considerado insuficiente. E níveis adequados de vitamina D são muito importantes para a manutenção da saúde. A dose ideal para cada paciente varia de acordo com seu perfil. Quando há deficiência é possível fazer uma dose de ataque inicial mais alta, para melhorar o estoque desta vitamina. Depois é mantida doses que podem variar de acordo com o estado de cada paciente. É importante consultar um médico para entender sua necessidade.

3. Existe um grupo de risco para a falta de vitamina D?

Vivemos uma reconhecida pandemia de hipovitaminose D¹ ², comprovada cientificamente, então todos temos que nos atentar a isso mas especialmente idosos, gestantes, lactantes, pacientes bariátricos ou com raquitismo, osteomalácia, hiperparatireoidismo, doenças inflamatórias, doenças imunes, doença renal crônica,  entre outras situações que merecem maior atenção aos níveis sanguíneos dessa vitamina  no organismo.

Somado a isso, os pesquisadores do Departamento de Clínica Médica da Escola de Medicina da Universidade Trinity College, em Dublin, na Irlanda, concluíram que a falta da vitamina no ponto de corte menor a 30 nmol/L deve ser revertida para evitar doenças ósseas, uma estratégia que também pode proteger a função do músculo esquelético no envelhecimento.

4. Qual a forma adequada para se obter bons níveis da vitamina D?

Para que a formação da vitamina D no organismo seja adequada, é necessária a exposição solar de, no mínimo, 15 minutos diários, de preferência entre 10h e 14h, momento de maior presença dos raios UV, responsáveis por ativar o metabolismo de formação da vitamina D a partir da pele,  com pelo menos os braços descobertos – quanto maior a área de exposição do corpo à luz solar melhor –, sem o uso de protetores solares, que atrapalham a ativação das vias metabólicas de formação da vitamina D.

A rotina das grandes cidades nem sempre permite a síntese de vitamina D por raios solares, contudo, é possível absorver a vitamina em alguns poucos alimentos, como peixes gordurosos, óleo de fígado de bacalhau e cogumelos secos. Leite, ovos e fígado bovino também têm a vitamina, mas em menor quantidade. Também é uma alternativa bastante interessante repor a vitamina D por meio de suplementação.

Em um trabalho científico que realizamos na Faculdade de Medicina do ABC, em parceria com a Unifesp, observamos que os estudantes de medicina que praticavam exercícios em quadras cobertas apresentaram níveis de vitamina D cerca de 40% menor que seus colegas que praticavam exercícios ao ar livre, e além disso, o nível médio de vitamina D do grupo da quadra mostrou-se na faixa da insuficiência , mesmo tendo uma boa alimentação, por isso a suplementação é importante.

5. Então existem suplementos que substituem alimentos e exposição solar?

Para aqueles casos em que a combinação de exposição solar e alimentação não é suficiente, é possível fazer uso de suplementos de vitamina D – a partir da recomendação médica -, a fim de fazer uma reposição ou até mesmo a manutenção dos índices ótimos da vitamina no organismo.

6. O que a deficiência de vitamina D pode causar?

A falta dela pode aumentar o risco de problemas cardíacos, osteoporose, alguns tipos de câncer, gripes e resfriados, e doenças autoimunes como esclerose múltipla e diabetes. Em mulheres grávidas deficiência de vitamina D pode aumentar o risco de parto prematuro e favorecer a pré-eclâmpsia. Vários estudos já mostraram que pessoas que vivem em ambientes urbanos são mais carentes em vitamina D. Isso ocorre porque elas passam grandes períodos em locais fechados e não se expõem ao sol.

7. É importante estar com a vitamina D regulada durante a pandemia de coronavírus?

Um estudo italiano recente, realizado por cientistas da Universidade de Turim, aponta que os pacientes que foram infectados pelo Covid-19 apresentam baixos níveis de vitamina D. Não se trata de uma prevenção, mas de estar com o sistema imune funcionando adequadamente. Como a vitamina D tem ação imunomoduladora comprovada cientificamente é importante manter seus níveis adequados nesse momento.

8. Então, a vitamina D é um apoio no tratamento da Covid-19, mas não a cura, já que ajuda na imunidade?

Sim, a vitamina D em níveis adequados certamente auxilia a manter resistência do organismo em dia. Vale salientar que como não temos ainda anticorpos a esse vírus, a principal linha de ataque do organismo acontece pela imunidade inata, que é modulada pela vitamina D, daí sua grande importância para a defesa do nosso organismo.

9. A suplementação por vitamina D tem algum papel para determinar a gravidade de uma infecção pelo coronavírus?

Segundo o ex-chefe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, Tom Friedena suplementação de vitamina D reduz o risco de infecções respiratórias, regula a produção de citocina e pode limitar o risco associado a outros vírus, como de Influenza. Mas não se sabe ainda se a vitamina D desempenha algum papel no nível de gravidade da infecção por Covid-19.

Dada a prevalência da hipovitaminose-D, ele aponta ser seguro recomendar que as pessoas tomem doses diárias da vitamina. É difícil obter essas doses por meio apenas da exposição ao sol e da alimentação, especialmente entre alguns grupos populacionais. Hábitos modernos levam a população a passar grande parte do dia em ambientes internos (em casa, escritórios, fábricas etc) e poucos alimentos são ricos em vitamina D.

Com Assessorias

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