Em 2009, quando morava em Miami, nos Estados Unidos, a psicóloga Fernanda Schwyter desenvolveu uma hemorragia subdural (acúmulo de sangue entre o cérebro e o crânio) devido a uma complicação cirúrgica, causando sérias dificuldades na fala e para andar. Foram seis meses entre idas e vindas ao hospital, em corredores imensos e gelados, sempre com um grande sentimento de solidão e impotência.
No mesmo ano, após sua recuperação, conversando com uma amiga, Fernanda ficou sabendo da história de Ilma Lopes, uma brasileira que também morava em Miami e que havia acabado de ser diagnosticada com câncer de mama metastático. A psicóloga foi visitá-la e logo no primeiro encontro se estabeleceu uma relação de amizade e cumplicidade entre elas. Ambas falaram sobre a solidão que era enfrentar doenças tão limitadoras estando longe de casa, sem a família por perto para dar apoio, e o quanto isso impactava suas vidas e de seus familiares.
Fernanda passou a acompanhar a nova amiga em suas consultas médicas e sessões de quimioterapia, criando laços com médicos e outros pacientes que falavam muito sobre a importância da pesquisa clínica para os avanços no tratamento desta doença. Lá, conheceu o Dr. Orlando Silva, médico oncologista responsável pelo tratamento de Ilma. Conversavam muito sobre o tipo de câncer de mama da amiga e, principalmente, sobre a possibilidade de uma cura. A resposta do especialista deu início a uma nova fase na vida da psicóloga: faltava investimento em pesquisa clínica.
Foi assim que Fernanda teve a ideia de criar o Projeto Cura, uma associação sem fins lucrativos que tem colaborado com diversos especialistas de todo o Brasil na luta contra o câncer. O objetivo da iniciativa é levantar fundos para a pesquisa clínica sobre o câncer no Brasil. Fernanda acompanhou todo o tratamento da amiga, e passou a mergulhar no universo da oncologia. Nele, descobriu que muitos pacientes se deslocavam por horas – e até mesmo dias – de suas casas para testarem novos tratamentos. Muitas vezes chegavam a vender tudo o que tinham para isso.
Dr. Orlando Silva foi dando um curso de pesquisa clínica em oncologia para mim. Ficamos muito amigos e fui apresentada a outros médicos. Acabei me tornando um tipo de porta-voz para os pacientes, já que muitos deles iam sozinhos às consultas e tinham dificuldades de se comunicar com eles. Acabei me tornando uma voluntária na causa”, conta Fernanda.
Em 2012, especialistas americanos e europeus decidiram organizar um congresso no México sobre as dificuldades e a necessidade de avanços da pesquisa clínica na América Latina. Fernanda foi a responsável pela organização do encontro. Depois, organizou um time para fazer parte da arrecadação dos recursos da American Cancer Society, por ocasião do Outubro Rosa.
Encontrei muitas pessoas e entidades sem fins lucrativos envolvidas na luta. Percebi que era possível o envolvimento da sociedade civil, tanto na conscientização da doença quanto na busca por novas alternativas de tratamento. Foi quando pensei que poderia fazer algo mais, como estimular o voluntariado a longo prazo através do incentivo à pesquisa clínica. Foi assim que surgiu a ideia do Projeto Cura”, explica.
Projeto conscientiza sobre importância da pesquisa clínica
Todos os anos, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) divulga um documento que aponta a estimativa de novos casos de câncer no Brasil. Para 2019, o Instituto chegou a um número assustador: 60 mil pessoas serão diagnosticadas com a doença até dezembro. A notícia só faz com que pacientes e familiares questionem: onde está a cura? Restabelecer a saúde de alguém com a neoplasia envolve muitos fatores, que vão do diagnóstico precoce ao tratamento do paciente.
Fernanda Schwyter conta que a associação nasceu para ser uma peça transformadora dentro da sociedade. Para isso, o Cura escolheu a arte como a principal ferramenta de conscientização para a importância dessa causa.
“Somos uma plataforma de interação e engajamento, que usa da música, arte, design, esporte, moda e eventos para envolver pessoas e embaixadores na luta contra o câncer. Por meios das nossas iniciativas podemos receber doações de pessoas físicas ou de pessoas jurídicas, de maneira direta, com doações via site ou participação nos eventos beneficentes, ou indireta”, explica Fernanda.
A iniciativa tem ligação com a Latin American Cooperative Oncology Group, a LACOG, organização sem fins lucrativos fundada em 2008 por um grupo de profissionais de saúde especializados em oncologia, que tem como objetivo desenvolver, conduzir e coordenar estudos acadêmicos e pesquisas clínicas na América Latina.