Para mais da metade (52%) dos brasileiros, a saúde mental é o principal problema de saúde do país. De acordo com o Ipsos, o número representa um “salto significativo” em relação a 2018, quando 18% dos entrevistados tinham a mesma percepção. O câncer (37%) e o estresse (33%) aparecem na sequência como as maiores preocupações de saúde no Brasil, seguidas de obesidade e abuso de drogas.
Os dados são da sétima edição do Ipsos Health Service Report 2025 (Relatório sobre os Serviços de Saúde 2025), divulgada nesta terça-feira (7). A pesquisa ouviu 23.172 adultos em 30 países sobre as percepções em relação ao sistema de saúde e os desafios de saúde que cada um deles enfrenta. Também foram avaliados conhecimento sobre GLP-1, medicamentos que promovem a perda de peso e a confiança nas vacinas.
O estudo também revela que 74% dos brasileiros pensam “com muita frequência” sobre seu bem-estar mental, colocando o país em terceiro lugar no ranking global, atrás de México e África do Sul. No Brasil, foram entrevistados aproximadamente 1 mil indivíduos, e a margem de erro é de 3,5 pontos percentuais para mais ou para menos. Veja ranking no fim do texto.
O Brasil está na quinta posição entre os países que no ano passado as pessoas se sentiram estressadas a ponto de acharem que não conseguiam lidar com as situações: 31% dos entrevistados se sentiram dessa forma e 39% se sentiam assim várias vezes”, diz a pesquisa.
Para Marcos Calliari, CEO da Ipsos Brasil, o crescimento da preocupação dos brasileiros com a saúde mental também é observado nos demais países pesquisados, e um dos principais fatores para o aumento é a pandemia de Covid-19.
A média dos 30 países, por exemplo, que citam saúde mental como principal preocupação na área da saúde, saiu de 27%, em 2018, para 45% em 2025, portanto a gente vê um aumento igualmente robusto, igualmente intenso em diversos outros países também”, diz Calliari.
A partir de 2020 a gente tem o processo de pandemia e, mesmo durante a pandemia, quando a gente perguntava para a população brasileira, a gente via que a preocupação com saúde mental apresentava crescimento muito alto, muito intensos inclusive muito mais altos do que em outros países. Então a gente obviamente tem a pandemia como principal fator acelerador da preocupação com saúde mental”.
Confira os principais números:
- Saúde mental: 52% (eram 18% em 2018);
- Câncer: 37% (eram 57%);
- Estresse: 33% (eram 19%);
- Abuso de drogas: 26% (eram 42%);
- Obesidade: 22% (eram 24%).
Preocupação é maior entre mulheres e jovens da geração Z
Entre as mulheres são 60%, enquanto 44% dos homens a consideram o principal problema. Mesmo assim, saúde mental também é o problema de saúde mais citado por eles. Entre as gerações, a diferença também é marcante: o tema é citado por 60% da geração Z (nascidos entre 1997 e 2012), contra 40% dos Boomers (nascidos entre 1947 e 1963). A menção do estresse como principal problema também acompanha essa tendência: 25% entre os Boomers x 37% entre a Gen Z.
O que a gente nota é que as gerações mais jovens, por exemplo, geração Z, se percebe sentindo mais problema de saúde mental, mais vulnerabilidade. Então a gente vê aqui que tanto a questão geracional quanto a questão da pandemia tiveram efeitos bastante importantes, aumentando e acelerando a preocupação com saúde mental entre os brasileiros”, diz o CEO da Ipsos.
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Melhora avaliação da qualidade da saúde entre brasileiros
Tempo de espera para acesso a saúde preocupa 43%.
Para 80% dos brasileiros, a população em geral não consegue arcar com uma boa assistência à saúde. Os principais desafios apontados para o sistema são os longos tempos de espera por atendimento (43%) e a falta de investimentos (39%). O custo do tratamento é visto como uma barreira por 24% dos brasileiros, um índice abaixo da média global, que é de 33%.
Também houve uma melhora na percepção sobre a qualidade dos serviços de saúde nos últimos anos, segundo a Ipsos O relatório mostra que 3 em cada dez brasileiros (29%) acreditam que todos no país recebem o mesmo padrão de atendimento, indicando a percepção de disparidades no sistema de atendimento. Em 2018, 18% concordavam com a afirmação, sinalizando uma melhora na percepção de desigualdades na saúde.
Em 2025, 34% dos entrevistados classificam como “boa ou muito boa” a qualidade dos cuidados que recebem, um aumento em relação aos 18% de 2018. No entanto, o otimismo em relação a melhorias futuras na assistência médica variou negativamente de 61% (em 2018) para 57% neste ano e Brasil (43%), enquanto 80% acreditam que a população brasileira não pode arcar com uma boa assistência à saúde.
70% da população apoia as vacinas
A pesquisa Ipsos também avaliou a confiança dos entrevistados nas vacinas: 70% dos brasileiros concordam que a vacinação contra doenças infecciosas graves deveria ser obrigatória (13% discordam), deixando o Brasil no top cinco de países com maior concordância com o tema. Já 41% confiam que o sistema de saúde do Brasil oferece o melhor tratamento (em 2018, era 20%).
Por outro lado, os brasileiros estão entre os que mais se automedicam, assumindo a terceira posição entre os países pesquisados: 73% declaram que no Brasil frequentemente as pessoas tomam medicamentos sem consultar um médico ou um profissional de saúde.
Confira outros resultados da pesquisa Ipsos:
- Vacinação: 70% dos brasileiros apoiam a vacinação obrigatória contra doenças infecciosas graves, um índice 9 pontos percentuais acima da média global (61%).
- Custo da saúde: 24% no Brasil citam o custo do tratamento de saúde como uma barreira significativa, abaixo da média global de 33%.
- Obesidade: 55% dos brasileiros entrevistados acreditam que obesidade irá aumentar no país nos próximos 10 anos, seguindo a média global de 54%.
- Remédios para obesidade: a conscientização sobre medicamentos como Ozempic (do tipo GLP-1) é de 58% no Brasil, muito acima da média global de 36%. A maioria (45%) ouviu falar sobre eles nas redes sociais, e não por um profissional de saúde (19%).
Preocupação com saúde mental nos países
- Chile – 68%
- Suécia – 63%
- Austrália – 62%
- Espanha – 62%
- Canadá – 59%
- Irlanda – 58%
- Holanda – 54%
- Singapura – 53%
- Colômbia – 53%
- Brasil – 52%
- Argentina – 51%
- Grã-Bretanha – 50%
- Estados Unidos – 50%
- Alemanha – 48%
- Indonésia – 48%
- França – 47%
- Coreia do Sul – 46%
- Peru – 44%
- Bélgica – 44%
- Polônia – 42%
- Itália – 41%
- Malásia – 40%
Metodologia
A Ipsos entrevistou um total de 23.172 adultos com 18 anos ou mais na Índia, de 18 a 74 anos no Canadá, República da Irlanda, Malásia, África do Sul, Turquia e Estados Unidos, de 20 a 74 anos na Tailândia, de 21 a 74 anos na Indonésia e Singapura e de 16 a 74 anos em todos os outros países.
A amostra é composta por aproximadamente 1.000 indivíduos na Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Indonésia, Itália, Japão, Espanha, Turquia e EUA, e 500 indivíduos na Argentina, Chile, Colômbia, Hungria, Irlanda, Malásia, México, Holanda, Peru, Polônia, Romênia, Singapura, África do Sul, Coreia do Sul, Suécia e Tailândia.
A amostra na Índia é composta por aproximadamente 2.200 indivíduos, dos quais aproximadamente 1.800 foram entrevistados pessoalmente e 400 foram entrevistados online. A margem de erro para o Brasil é de 3,5 p.p.
Fonte: G1 e Ipsos