
O procedimento consiste em uma cirurgia para remover a próstata e as vesículas seminais, sendo um tratamento curativo para o câncer de próstata, principalmente em estágios iniciais. Nesse procedimento, a próstata é removida completamente, juntamente com os tecidos ao seu redor, como as vesículas seminais e, em alguns casos, os linfonodos pélvicos, para eliminar o tumor e reduzir o risco de recorrência.
De acordo com a portaria, as áreas técnicas terão o prazo máximo de 180 dias para efetivar a oferta no SUS. Deverá constar também o relatório de recomendação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) sobre essa tecnologia. Em agosto deste ano, a Conitec aprovou, em parecer final, a incorporação da prostatectomia radical assistida por robô para o tratamento de pacientes com câncer de próstata localizado ou localmente avançado.
Para especialistas do setor, é um avanço histórico por se tratar da primeira incorporação no SUS de cirurgia robótica em Oncologia, cerca de 20 anos após o início da utilização da tecnologia no país. A conquista, fruto do esforço de entidades como a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) em consolidar as principais referências científicas que evidenciam os benefícios para os pacientes e demonstram o quanto a tecnologia é custo-efetiva, ganha amplitude quando se olha para os números.
Reconhecemos que há um esforço por parte da equipe técnica em promover equidade no tratamento e assegurar que mais pacientes possam se beneficiar dos melhores cuidados disponíveis”, disse o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Rodrigo Nascimento Pinheiro.
Pinheiro explicou que “os próximos passos para que a cirurgia robótica esteja amplamente disponível nos hospitais conveniados ao SUS incluem a definição de protocolos, de centros de referência e treinamento das equipes com foco na garantia de segurança e qualidade dos procedimentos.
Segundo ele, a técnica robótica tem mostrado sua eficácia na formação de novos profissionais, reduzindo a curva de aprendizado ao permitir treinamentos em ambientes controlados e supervisionados.
Como é feito hoje e as novas perspectivas
Atualmente, o tratamento mais comum para pacientes com câncer de próstata no SUS é a prostatectomia radical aberta, um procedimento tradicional e amplamente utilizado, que exige grande experiência do cirurgião.
Com o avanço da tecnologia, a prostatectomia robótica tem ganhado destaque por permitir movimentos mais precisos, maior preservação de estruturas e, consequentemente, menor risco de complicações como incontinência urinária e disfunção erétil. Por ser minimamente invasiva e controlada por um médico especialista por meio de um robô, essa técnica tem demonstrado melhores resultados na recuperação dos pacientes.
A Recomendação Preliminar da Conitec era desfavorável à incorporação, com a observação de que as evidências científicas disponíveis são heterogêneas e de baixa qualidade, o que inviabiliza, segundo a Comissão, a comprovação de superioridade clínica consistente em relação às técnicas já existentes. A Conitec destacou também a necessidade de se revisar as análises de impacto orçamentário, incluindo de forma explícita os custos relacionados à aquisição do equipamento.
6 em cada 10 cirurgias de câncer por robô são na próstata
Tecnologia recebe parecer favorável final de incorporação no SUS. Conitec deu a recomendação final de incorporação de cirurgia robótica para pacientes com câncer de próstata
Ao longo da última década, por exemplo, mais de 5 mil cirurgias robóticas foram realizadas no Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR), referência nacional em assistência ao paciente e formação de profissionais para atuar com uso de robô cirúrgico.
Neste período, 65% dos 5 mil procedimentos realizados na instituição foram em pacientes com diagnóstico de câncer de próstata, órgão que é a principal indicação para operações por meio do uso de robôs por conta da precisão da técnica, que possibilita vantagens específicas, quando comparada com outras modalidades cirúrgicas, como menor risco de incontinência urinária e de disfunção erétil após a cirurgia, além do impacto positivo comum a outros tipos de câncer, como menor sangramento e menos tempo de internação.
O IUCR, pioneiro e referência na utilização da robótica no Brasil para tratamento de tumores localizados no trato urinário, como próstata, rim e bexiga, também realiza treinamentos para formação de novos cirurgiões. São mais de 10 programas implementados no Brasil, com mais de 200 médicos treinados por meio do Programa de Consultoria e Capacitação em Cirurgia Robótica do IUCR.
O nosso programa tem como objetivo apoiar as instituições de saúde em todas as fases de implantação e/ou ampliação do Programa Robótico, formando assim cirurgiões e profissionais de saúde envolvidos com a cirurgia”, destaca o urologista e cirurgião oncológico Gustavo Cardoso Guimarães, diretor do IUCR e coordenador dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos da BP.
OS AVANÇOS DA ROBÓTICA NA CIRURGIA DO CÂNCER
As cirurgias robóticas têm avançado significativamente nas últimas décadas, trazendo inovações tecnológicas que transformaram várias especialidades médicas, tanto no Brasil quanto no mundo. O sistema mais conhecido é o da Intuitive Surgical, que, desde sua introdução, passou por várias atualizações, melhorando a instrumentação, a visualização 3D e a precisão dos movimentos.
A possibilidade de realizar cirurgias em áreas que antes eram consideradas de alto risco (por exemplo, na cirurgia cardíaca ou em determinadas neoplasias) faz com que mais pacientes tenham acesso a tratamentos que podem salvar suas vidas”, ressalta Guimarães.
Além disso, avalia Gustavo Guimarães, as novas gerações oferecem ergonomia aprimorada para os cirurgiões e tecnologia de realidade aumentada. “Com braços robóticos que possuem articulações de precisão e instrumentos cirúrgicos miniaturizados, as cirurgias robóticas permitem procedimentos mais delicados, com menos danos aos tecidos circundantes”, reforça o cirurgião.
Em cirurgia de câncer, muitas vezes um milímetro, embora tão pequeno, pode fazer muita diferença. Com a robótica é maior a capacidade de realizar procedimentos por pequenas incisões, reduzindo assim o trauma cirúrgico, levando a menor dor e aceleração na recuperação dos pacientes. Isso também diminui o risco de complicações e infecções pós-operatórias.
Guimarães também destaca que o uso de simuladores de cirurgia robótica está se tornando comum, permitindo que novos cirurgiões treinem em ambientes virtuais antes de realizar procedimentos em pacientes. “Isso contribui para melhores resultados cirúrgicos”, reforça.
Outros aspectos importantes são o fato de a combinação de cirurgia robótica com técnicas de imagem avançadas, como tomografia e ressonância magnética, permitir uma visualização mais precisa da área a ser operada, apoiando decisões cirúrgicas em tempo real. “Sistemas de imagens avançados com uso de inteligência artificial e até impressoras 3D permitem recriar em ambiente virtual a área a ser operada, aumentando a precisão e eficiência dos procedimentos cirúrgicos”, explica.
AMPLITUDE DA CIRURGIA ROBÓTICA
A cirurgia robótica está estabelecida em diversas especialidades médicas, como urologia, cirurgia torácica, cirurgia de cabeça e pescoço, ginecologia, proctologia, cirurgia geral, gastroenterologia e cardiologia.
Estes últimos 20 anos demonstraram que a tecnologia e a inovação são aspectos indissociáveis da evolução da humanidade e da saúde. A cirurgia robótica como conhecemos é apenas o início desse processo de transformação que vai nos levar ao centro cirúrgico do futuro”, analisa Guimarães.
Em resumo, considerando todas as diferentes especialidades contempladas, a cirurgia robótica oferece menor tempo de internação; recuperação pós-operatória mais rápida; menos sangramento e diminuição das taxas de transfusão; redução do risco de infecção e das dores e complicações pós-cirúrgicas; retorno mais rápido às atividades cotidianas (geralmente o paciente pode voltar a se alimentar no mesmo dia).
Segundo o especialista, incorporar a cirurgia robótica às opções de serviços é uma tendência orgânica das instituições de saúde que buscam modernização, ganhos efetivos de produtividade e resultados positivos para pacientes e equipes. O caminho para essa implementação, segundo ele, passa por uma avaliação que vai muito além da aquisição de equipamentos e da adaptação da estrutura física. “Envolve toda a cadeia de processos e serviços”, orienta.
As principais etapas para implementação de cirurgias robóticas incluem planejamento e estudo de viabilidade econômica; criação e formatação de processos e pacotes de serviços; acompanhamento do processo de implantação; capacitação e treinamento das equipes; monitoramento, desenvolvimento e aprimoramento de novas habilidades das equipes e avaliação de resultados e incremento do programa.
POSICIONAMENTO OFICIAL DA SBCO
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, representada por seu presidente, Rodrigo Nascimento Pinheiro, com profundo respeito e rigor científico, manifesta seu apoio à incorporação da prostatectomia radical robótica no Sistema Único de Saúde, visando aprimorar o tratamento do câncer de próstata em estágios localizados ou localmente avançados.
O documento da SBCO ressalta que a prostatectomia radical robótica (RARP) tem sido amplamente estudada em comparação com a prostatectomia radical laparoscópica (LRP) e a prostatectomia radical aberta (ORP) para o tratamento do câncer de próstata localizado. A literatura médica sugere que a RARP pode ser uma opção, especialmente quando realizada em centros com alto volume de casos, devido a várias vantagens clínicas e econômicas.
Em termos de custo-efetividade, a RARP tem demonstrado ser mais custo-efetiva do que a LRP e a ORP em vários estudos. Por exemplo, um estudo realizado no Reino Unido mostrou que a RARP é uma opção dominante em relação à LRP, com maior ganho em anos de vida ajustados pela qualidade (QALYs).
Além disso, uma revisão sistemática concluiu que a RARP tende a ser mais custo-efetiva ao longo de horizontes temporais mais longos.[2]. As vantagens clínicas da RARP incluem menor morbidade perioperatória, como menor necessidade de transfusões sanguíneas e menor tempo de internação hospitalar, em comparação com a ORP.
Além disso, a RARP tem sido associada a uma menor taxa de margens cirúrgicas positivas, o que pode impactar positivamente nos resultados oncológicos a longo prazo.[4-5] A centralização da RARP em hospitais com alta capacidade de casos pode reduzir os custos totais do procedimento, tornando-o ainda mais custo-efetivo.
Considerando a gestão de listas de espera, a RARP pode ser uma escolha preferencial em centros com alta capacidade de casos, onde os benefícios clínicos e econômicos são maximizados.]. A SBCO reforça que a disparidade no acesso a tecnologias avançadas entre os sistemas privado e público é uma preocupação substancial.
Introduzir a cirurgia robótica no SUS representa um avanço importante para mitigar essa desigualdade, promovendo equidade no tratamento e assegurando que mais pacientes possam se beneficiar dos melhores cuidados disponíveis. Além disso, a técnica robótica tem mostrado sua eficácia na formação de novos profissionais, reduzindo a curva de aprendizado ao permitir treinamentos em ambientes controlados e supervisionados.
A presença de consoles duais nas plataformas robóticas proporciona um ambiente de aprendizado robusto, imprescindível para a formação de cirurgiões altamente qualificados. “Acreditamos que a adoção da prostatectomia radical robótica nos hospitais públicos propiciará a padronização e incremento na qualidade dos procedimentos realizados. Isso contribuirá não apenas para atrair e manter profissionais de excelência no sistema público, mas também para otimizar a infraestrutura hospitalar existente, reduzindo custos indiretos para o sistema”, afirma Pinheiro.
Considerando estes aspectos, a SBCO manifesta seu pleno apoio à inclusão da prostatectomia radical robótica no SUS, ancorada em um processo decisório que seja transparente e baseado em evidências científicas de alta qualidadea.
Com Agência Brasil e Assessorias