O Dia Mundial do Vegetarianismo, celebrado em 1º de outubro, destaca a crescente adesão a dietas à base de vegetais no país, um movimento impulsionado por uma maior conscientização sobre saúde, sustentabilidade, pela causa animal e por uma nova onda de celebridades que abraçam a causa.
Pesquisa Datafolha, encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), revela que 7% da população já se reconhece como vegana, projetando um número aproximado de 14 milhões de pessoas. O levantamento, divulgado
Os principais motivadores para os brasileiros deixarem de comer carne: saúde (74%), meio ambiente (43%) e a causa animal (42%). Na última pesquisa do IBOPE Inteligência divulgada em 2018, os vegetarianos já somavam 14% da população brasileira um número que cresce a cada ano
Além disso, um estudo do IPEC (2021) revelou que 46% dos brasileiros com mais de 35 anos já deixaram de consumir carne ao menos uma vez na semana por vontade própria, caracterizando o crescimento do flexitarianismo – nome dado às pessoas que adotam uma alimentação predominantemente vegetal, reduzindo o consumo de produtos de origem animal.
O mercado responde a essa demanda. De acordo com a Bloomberg Intelligence, o setor global de produtos à base de plantas deve saltar de US$ 29,4 bilhões em 2020 para US$ 162 bilhões até 2030. No Brasil, o programa Selo Vegano da SVB já certificou mais de 4.000 produtos, e o volume de buscas pelos termos “vegano” e “vegan” cresceu aproximadamente 600% entre 2014 e 2023.
Um convite para refletir sobre o impacto da produção de alimentos na vida dos animais
Muito além de tendências e negócios no setor de alimentação, a Proteção Animal Mundial – World Animal Protection (WAP, na sigla em inglês) – lembra que vegetarianismo não é apenas sobre escolhas no prato. A data também é “um convite para refletir sobre o impacto que o modelo de produção de alimentos predominante tem na vida dos animais, tanto os que são destinados à alimentação quanto os animais silvestres.
Segundo a ONG internacional, hoje, “bilhões de animais silvestres estão sob ameaça porque florestas inteiras são derrubadas para abrir espaço para pastagens e monoculturas, além de contaminadas pelo uso intensivo de agrotóxicos e outros resíduos como bactérias multirresistentes, fertilizantes e metais pesados ligadas à pecuária industrial”.
Alguns dados que não podem ser ignorados:
- De acordo com o MapBiomas (2023), uma rede colaborativa de universidades, ONGs e empresas de tecnologia, 97% do desmatamento no Brasil está ligado ao setor agropecuário.
- O relatório da Plataforma Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES, 2019) alerta que 1 milhão de espécies podem ser extintas nas próximas décadas, sendo o uso da terra para agricultura uma das principais causas.
- Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a pecuária é responsável por cerca de 14,5% das emissões globais de gases de efeito estufa, intensificando a crise climática que também impacta habitats naturais.
Isso significa que onças, tamanduás, lobos-guará e milhares de outras espécies estão perdendo suas casas, e nós estamos perdendo os serviços ambientais que garantem chuvas, regulação climática e segurança alimentar”, ressalta a WAP.
A organização aponta outro caminho para repensar o atual sistema alimentar é também defender a vida silvestre. E propõe reduzir a dependência da pecuária industrial, apoiar práticas sustentáveis e colocar o bem-estar animal no centro das soluções. ” Na Proteção Animal Mundial, acreditamos que transformar o sistema alimentar é urgente para garantir o futuro das pessoas, dos animais e do planeta”, finaliza.
O poder da influência: artistas abraçam a causa
A campanha Segunda Sem Carne (SSC), tem sido uma porta de entrada fundamental para essa transformação. O movimento, que incentiva a substituição de proteínas animais por vegetais pelo menos uma vez por semana, convida as pessoas a descobrirem novos sabores ao substituir a proteína animal pela vegetal causando um impacto positivo na saúde, no meio ambiente e na vida dos animais.
O movimento foi implementado no Brasil pela SVB, é o maior do mundo em adesão e está presente em escolas, hospitais e órgãos públicos de todo o país. Historicamente apoiada por ícones globais como Paul McCartney e nacionais como Xuxa Meneghel e Reynaldo Gianecchini, a campanha conta com o engajamento de uma nova geração de artistas.
Nomes como os atores Henrique Camargo e Maicon Santini e as atrizes Dani Moreno e Day Mesquita são apenas alguns dos que compõem o time de apoiadores, utilizando suas plataformas para inspirar uma alimentação mais consciente.
Para a presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira, Mônica Buava, o Dia Mundial do Vegetarianismo é o momento perfeito para celebrar essa transformação cultural.
O que vemos hoje é uma união poderosa: de um lado, dados que mostram que milhões de brasileiros estão mais conscientes sobre o impacto de sua alimentação. Do outro, uma nova geração de formadores de opinião que usam sua voz para normalizar e incentivar essa mudança. A ‘Segunda Sem Carne’ serve como um convite para descobrir novos sabores de forma leve, e o apoio desses embaixadores é fundamental para que a mensagem chegue a cada vez mais pessoas.”
Presente em mais de 40 países, a campanha Segunda Sem Carne tem no Brasil seu maior case de sucesso. Ao longo de 15 anos de trabalho, o programa já ultrapassou a marca de 530 milhões de refeições à base de vegetais servidas pelos seus parceiros. O impacto ambiental é igualmente impressionante: apenas no estado de São Paulo, a iniciativa já poupou mais de 1 bilhão de litros de água e evitou a emissão de 197 mil toneladas de CO₂.