No dia 4 de setembro, o mundo volta suas atenções para a celebração do Dia Mundial da Saúde Sexual. A data, mais que um lembrete anual, é uma oportunidade para discutir e promover a importância do cuidado contínuo com a saúde sexual, essencial para o bem-estar geral e um aspecto fundamental dos direitos humanos.

saúde sexual não se restringe à ausência de doenças, mas abrange o bem-estar físico, emocional, mental e social em relação à sexualidade. No centro destas discussões, estão as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs),  que constituem um dos principais desafios de saúde pública de nosso tempo, e onde o papilomavírus humano (HPV) se destaca por sua prevalência e consequências em longo prazo.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que mais de 1 milhão de ISTs curáveis são adquiridas diariamente no mundo. As consequências vão além dos sintomas físicos, podendo incluir infertilidade, complicações na gestação e aumento do risco de transmissão do HIV. 

Estima em relação ao HIV persiste no Brasil

O Brasil enfrenta um cenário preocupante: o avanço das ISTs e a persistência do estigma contra pessoas com HIV. Juntos, esses fatores agravam a crise em saúde pública e reforçam a urgência de conscientização e respeito.

O Índice de Estigma em Relação às Pessoas Vivendo com HIV 2025, lançado pelo programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (Unaids), revela que 52,9% dessas pessoas já sofreram algum tipo de discriminação, enquanto 38,8% relatam ter sido alvo de comentários ou fofocas.

Esse estigma afasta os indivíduos dos serviços de testagem, diagnóstico e tratamento, dificultando a quebra da cadeia de transmissão das ISTs. Ao mesmo tempo, dados parciais do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) mostram que no último ano o país notificou 23.055 casos de sífilis adquirida e 4.743 novos casos de HIV/Aids, números que reforçam a urgência da mobilização.

O psicólogo da Afya Montes Claros, Carlos André Moreira, explica que muitas dessas pessoas não sofrem diretamente por causa do vírus, mas sim por causa do preconceito historicamente associado a ele.“Esse estigma afeta profundamente a saúde mental, pois reforça a exclusão, a culpa e o medo do julgamento, tornando o enfrentamento da condição muito mais difícil do que seria se fosse tratada como qualquer outra doença crônica”.

O psicólogo da Afya ainda reforça que, apesar dos avanços no tratamento do HIV, comentários, fofocas e discriminações sociais ainda afetam profundamente o bem-estar emocional de quem convive com o vírus.

Mesmo que o HIV não represente mais uma sentença de morte, o momento do diagnóstico ainda reativa sentimentos como medo, culpa e vergonha. Muitas pessoas, especialmente as mais jovens, que vivem a sexualidade com mais liberdade, acabam sendo brutalmente confrontadas com julgamentos morais ao receberem o diagnóstico. Esses estigmas reforçados por falas e atitudes cotidianas dificultam o acolhimento e agravam o sofrimento psíquico, mostrando que o preconceito ainda é uma das maiores barreiras enfrentadas por quem vive com HIV”, complementa o especialista.

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Crescimento da sífilis no Brasil chama atenção

Dia Mundial da Saúde Sexual: um alerta para a importância do cuidado contínuo

A sífilis no Brasil ainda é um dos maiores pontos de atenção. De acordo com o Boletim Epidemiológico 2024 do Ministério da Saúde, houve um aumento expressivo nas taxas de detecção da doença, tanto na população geral quanto em gestantes, o que eleva o risco de sífilis congênita, com impactos sérios para os recém-nascidos. Também foram registrados 785 casos de hepatite B e 205 de hepatite A.

O crescimento expressivo entre gestantes é especialmente preocupante devido ao risco de transmissão vertical, ou seja, da mãe para o bebê, o que pode causar consequências graves à saúde da criança. Por isso, a identificação precoce da infecção durante o acompanhamento pré-natal é fundamental para a prevenção da sífilis congênita e para a proteção da saúde materno-infantil”, afirma o infectologista da Afya Itajubá, Bruno Michel e Silva.

Um alerta para o câncer anal causado pelo HPV

Segundo o coloproctologista Danilo Munhóz, o HPV merece atenção especial devido ao seu papel em condições coloproctológicas, afetando tanto homens quanto mulheres. Estima-se que a infecção pelo HPV impacte cerca de 80% dos indivíduos sexualmente ativos em algum momento de suas vidas.

No entanto, as implicações podem ser particularmente severas quando não geridas adequadamente. De uma forma geral, tanto em homens como em mulheres, o HPV pode levar a complicações como as verrugas genitais e, em casos mais severos, está relacionado ao câncer anal.

O câncer anal é uma condição de saúde cada vez mais discutida em razão de sua associação com ISTs, especialmente o HPV, um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença. O contágio pelo HPV pode ocorrer por meio do contato sexual, independente se houver proteção, ela apenas minimiza o risco”,  explica o coloproctologista.

O diagnóstico do câncer anal geralmente é feito por meio de exames clínicos e análise de tecidos, como a anuscopia e a biópsia, que ajudam na identificação de células anormais. A prevenção abrange o exame preventivo conhecido como Papanicolau anal, especialmente para grupos de risco, e a vacinação contra o HPV.

O tratamento, por sua vez, pode incluir desde aplicação de medicamentos tópicos, cirurgia, radioterapia e quimioterapia, dependendo do estágio e da localização do tumor. No entanto, a detecção precoce continua sendo a melhor estratégia, possibilitando intervenções menos invasivas e reduzindo consideravelmente o risco de complicações graves.

Em relação às mulheres, a coloproctologista Aline Amaro explica que além das verrugas genitais, o HPV é notoriamente associado ao câncer do colo do útero, o segundo tipo de câncer mais comum entre mulheres em idade reprodutiva.

Embora o diagnóstico inicial de HPV no colo do útero seja realizado por ginecologistas, é crucial que as pacientes também recebam acompanhamento de um coloproctologista para uma avaliação completa, dada a possibilidade de acometimento anorretal”, diz a médica.

Como prevenir as ISTs?

O infectologista Bruno Michel e Silva afirma que as medidas preventivas mais eficazes contra as ISTs podem ser adotadas de forma combinada ou individualizada, dependendo do contexto e da vulnerabilidade de cada pessoa.

Entre as principais estratégias, destacam-se as vacinas contra o HPV e as hepatites B e C, o uso regular de preservativos masculinos e femininos, a testagem periódica para detecção precoce de infecções e o uso de antivirais para prevenção do HIV.

Tanto a PEP (profilaxia pós-exposição), indicada após uma situação de risco, quanto a PrEP (profilaxia pré-exposição), voltada à prevenção contínua em pessoas mais expostas. Essas ações, quando articuladas, ampliam significativamente a proteção e o controle das ISTs.”

Para o coloproctologista Danilo Munhóz, neste Dia Mundial da Saúde Sexual, a mensagem é clara: cuidar da saúde sexual é cuidar da vida. “Incentivar a educação sexual, promover e facilitar o acesso à vacinação e exames regulares, bem como abrir espaço para conversas abertas e informadas, são passos essenciais”, finaliza.

Com assessorias

 

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