O tabagismo é, sem dúvida, o principal responsável pelos casos de câncer de pulmão, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). A medida mais efetiva para a redução da incidência da doença é não fumar, incluindo qualquer forma de consumo: cigarro, charuto, cachimbo ou narguilé e o vape (cigarro eletrônico). Mas é crescente a prevalência da doença em pessoas que nunca fumaram como reflexo de outros fatores de risco como a poluição do ar, exigindo estratégias amplas de conscientização.
Além do importante alerta sobre os males do tabagismo na campanha Agosto Branco, de conscientização sobre câncer de pulmão, o Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT) chama a atenção da população para a crescente ocorrência de câncer de pulmão entre aqueles que nunca fumaram. Cerca de 8 mil brasileiros não fumantes podem ter o diagnóstico da doença este ano Esses casos são reflexo, em grande parte, do impacto da poluição ambiental.
Estudo publicado na revista The Lancet Respiratory Medicine em fevereiro de 2025 por pesquisadores da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), da OMS, aponta que 195 mil casos anuais de câncer de pulmão no Mundo são atribuíveis à poluição do ar por material particulado (MP), com evidência de crescimento principalmente de adenocarcinomas entre as gerações mais jovens, especialmente as mulheres.
Perfil genético reforça influência da poluição
No trabalho publicado na Nature, os pesquisadores analisaram o genoma de tumores em 871 indivíduos nunca fumantes com câncer de pulmão, de 28 regiões geográficas distintas. Os autores observaram que a poluição do ar, especialmente partículas finas PM₂.₅, está fortemente ligada a mutações no gene TP53, associadas à supressão tumoral e controle da integridade do genoma da célula, e ao encurtamento dos telômeros, responsáveis por proteger as extremidades dos cromossomos e cuja perda é um indicador de envelhecimento celular.
Em outras palavras, a poluição interfere na capacidade das células de reparar danos que podem levar ao desenvolvimento do câncer de pulmão”, explica o oncologista clínico Vladmir Cordeiro de Lima, presidente do GBOT.
Outro trabalho, publicado em 2024 no Brazilian Journal of Health Review conclui que há uma íntima relação entre a poluição atmosférica e o câncer de pulmão. O presidente do GBOT acrescenta que a exposição continuada à poluição do ar, incluindo emissões de veículos, processos industriais e usinas de energia, é um fator de risco conhecido para o câncer de pulmão.
No Brasil, os dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) projetam que 32 mil pessoas devem receber o diagnóstico de câncer de pulmão em 2025. Desta forma, seguindo a proporção de 25%, cerca de 8 mil brasileiros que nunca fumaram podem ter o diagnóstico de câncer de pulmão este ano.
O câncer de pulmão em não fumantes está em sétimo lugar como maior contribuinte para morte por câncer. Entender os fatores associados ao desenvolvimento da doença é muito importante, pois o câncer de pulmão em quem nunca fumou é, biologicamente, bastante diferente do câncer de pulmão causado pelo tabagismo”, explica.
“Apoiar políticas que visam reduzir a poluição do ar e promover energia limpa são medidas que podem mitigar esse risco”, complementa Vladmir Lima. Além da exposição a poluentes, há forte associação também com fatores hereditários (história de câncer de pulmão em parentes de primeiro grau) e doenças pulmonares prévias.
Aumento de casos entre não fumantes preocupa especialistas
O câncer de pulmão no mundo responde por cerca de 1,8 milhão de mortes por ano, sendo a principal causa de óbitos por tumores malignos. Estudo publicado em julho de 2025 na Nature aponta que o câncer de pulmão em não fumantes (LCINS) corresponde a cerca de 25% de todos os casos de câncer de pulmão globalmente, sendo o adenocarcinoma o subtipo mais prevalente.
De acordo com o Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, cerca de 10% a 20% dos cânceres de pulmão são diagnosticados ao ano no país em pessoas que nunca fumaram ou fumaram menos de 100 cigarros durante a vida.
Cerca de 60% a 80% desses cânceres de pulmão encontrados em pessoas que nunca fumaram são adenocarcinomas, o tipo mais comum também em fumantes. Os demais casos de câncer de pulmão em não fumantes são carcinomas de células escamosas (10% a 20%), carcinoma de pequenas células (2%) e o restante de diferentes tipos raros.
Sintomas de câncer de pulmão variam de pessoa para pessoa
Estar atento aos sintomas que podem indicar a presença de um câncer de pulmão é muito importante, especialmente em fumantes ou ex-fumantes, mas também em não fumantes. Os sintomas do câncer de pulmão variam de pessoa para pessoa.
Muitas vezes, são facilmente confundidos com doenças respiratórias comuns, como bronquite ou pneumonia, atrasando um diagnóstico preciso. Os sintomas mais comuns do câncer de pulmão incluem:
– Tosse que não desaparece e piora com o tempo
– Dor no peito constante e muitas vezes agravada pela respiração profunda, tosse ou riso
– Dor no braço ou ombro
– Tosse com sangue ou catarro cor de ferrugem
– Falta de ar
– Chiado
– Rouquidão
– Infecções como pneumonia ou bronquite que não desaparecem ou voltam com frequência
– Inchaço do pescoço e rosto
– Perda de apetite ou perda de peso
– Sentir-se fraco ou cansado
– Alargamento das pontas dos dedos e leito ungueal (região da pele que fica sob a unha) também conhecido como “baqueteamento digital”
Se o câncer de pulmão se espalhar para outras partes do corpo, pode causar:
– Dor no osso
– Fraqueza no braço ou dormência na perna
– Dor de cabeça, tontura ou convulsão
– Problemas de equilíbrio ou uma marcha instável
– Icterícia (coloração amarela) da pele e dos olhos
– Gânglios linfáticos inchados no pescoço ou ombro
Com informações do GBOT