A morte neste sábado (2) do ator Maurício Silveira, de 48 anos, menos de 15 dias após o falecimento de Preta Gil, 50, reacende o alerta para o aumento dos casos de câncer colorretal, o mesmo que levou a óbito os jogadores Pelé e Roberto Dinamite, entre tantas outras celebridades.
Maurício estava em coma induzido e chegou a passar por uma cirurgia para a retirada de um tumor no intestino, mas teve complicações no pós-operatório, o que exigiu uma segunda intervenção cirúrgica. A causa da morte foi confirmada pela família do ator em post nas redes sociais, ao comunicar o velório e sepultamento no Cemitério Jardim da Saudade Sulacap no Rio de Janeiro.
Às vezes, um simples sorriso ilumina tudo. Existem almas que brilham”, citou a família no comunicado, usando uma frase do artista na arte de despedida.
O ator – que trabalhou em novelas da TV Globo, como ‘Cobras & Lagartos’, ‘Faça Sua História’ e ‘Insensato Coração’, além de participar de produções na Record, como ‘Balacobaco’ e a série ‘Reis’ – estava internado no Hospital Municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Há alguns dias, a família chegou a pedir doações de sangue para ele.
Mauricio Silveira — Foto: Reprodução / Instagram
Incidência da doença em pessoas com menos 50 anos aumentou quase 80%
O câncer colorretal, também chamado de câncer de cólon ou câncer de intestino, é o segundo tumor mais frequente no aparelho digestivo e o terceiro que mais mata no Brasil, de acordo com informações do Instituto Nacional de Câncer (Inca). A doença afeta ambos os sexos e é mais frequente na faixa entre 60 e 70 anos de idade.
No entanto, nos últimos anos têm aumentado o número de casos entre pessoas jovens no Brasil e no mundo. O Inca apontou que o número de diagnósticos em jovens no país tem aumentado, especialmente em tipos como câncer de mama, tireoide, cólon e reto.
Um levantamento global concluiu que em apenas três décadas, houve um aumento de quase 80% na quantidade de novos casos de câncer descobertos anualmente em pessoas com menos de 50 anos e o de intestino está entre eles. Nos últimos 30 anos, o número de casos de câncer entre adultos com menos de 50 anos disparou em quase 80% no mundo todo, conforme dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS). No mesmo período, a mortalidade nessa faixa etária cresceu 28%.
Nos Estados Unidos, o câncer de cólon se tornou a principal causa de morte por câncer em homens com menos de 50 anos no país. Segundo dados da American Cancer Society (ACS), a demografia dos pacientes está mudando, e os diagnósticos se concentram, cada vez mais, em adultos jovens e de meia-idade. Embora o câncer ainda seja mais prevalente em pessoas com mais de 60 anos, os casos entre adultos jovens têm chamado a atenção.
Um estudo publicado no periódico BMJ Oncology corrobora a informação de que os casos de câncer de início precoce, aqueles diagnosticados antes dos 50 anos, aumentaram. Entre os tipos da doença que mais acometem essa faixa etária estão o colorretal, o de mama, o de estômago e o de pulmão.
A médica e professora da Universidade George Washington, Leana Wen detaca, em entrevista à imprensa, que os tipos de câncer que mais afetam o público jovem e geram óbito são o câncer de mama, câncer traqueal, brônquico e pulmonar e cânceres de estômago e colorretal.
No Brasil, embora os dados ainda sejam limitados, especialistas já observam esse movimento nos consultórios. A situação tem preocupado entidades ligadas à pesquisa e análise sobre o comportamento dos tipos de câncer de próstata, de mama e de outros tumores.
Hábitos alimentares e obesidade podem ser a causa de cânceres em jovens
O estilo de vida moderno é apontado como um dos principais responsáveis por esse crescimento. Dietas ricas em alimentos ultraprocessados, consumo excessivo de açúcar e gordura, sedentarismo, privação de sono e estresse crônico formam um cenário propício ao desenvolvimento de doenças crônicas, incluindo o câncer.
Um estudo da ACS, publicado na revista The Lancet Public Health, identificou aumento na incidência de cânceres relacionados à obesidade em adultos entre 25 e 49 anos. Vários estudos apontam que, além da obesidade, os hábitos alimentares com uso de alimentos ultraprocessados, o sedentarismo e fatores ambientais, como carcinógenos liberados no ar e água, podem estar por trás do aumento de casos nos adultos com menos de 50 anos.
A combinação entre maus hábitos alimentares, sedentarismo e obesidade pode estar por trás do aumento de casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos. De acordo com as autoridades de saúde, os hábitos e o estilo de vida das novas gerações são os principais fatores que contribuem para o aumento da incidência da doença.
O diagnóstico da doença em pessoas mais jovens tem sido motivo de alerta para órgãos e especialistas em saúde. Caso o comportamento desse público permaneça o mesmo, a projeção é que se veja cada vez mais jovens lidando com os sintomas do câncer e os efeitos colaterais da quimioterapia e dos outros tratamentos para a doença.
Maioria dos fatores de risco pode ser evitada
Foto: Freepik
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncologica (SBCO) confirma que esse fenômeno tem acontecido e alerta que, como a doença pode se desenvolver silenciosamente por um tempo, boa parte das pessoas descobrem o tumor em estágios já avançados.
O diagnóstico do câncer de cólon e reto, em particular, tem chamado atenção por ocorrer com frequência crescente em pacientes sem histórico familiar, sendo que a principal forma de rastrear a condição é a partir da incidência de casos na família.
A boa notícia é que a maioria desses fatores é modificável. A adoção de hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada, prática regular de atividade física e redução do consumo de álcool e tabaco, pode reduzir o risco de desenvolver câncer, segundo a OMS.