Depois de uma temporada de tempo quente e seco, chega a estação chuvosa e, com ela, os alertas para as doenças sazonais como intoxicação alimentar, infecções respiratórias por fungos e problemas relacionados à pele, além das já conhecidas dengue e leptospirose.

O verão, conhecido por suas altas temperaturas e atividades ao ar livre, também é um período que favorece a disseminação de doenças infecciosas. As condições quentes e úmidas da estação criam o ambiente perfeito para que vírus, bactérias e fungos prosperem, aumentando os riscos para crianças e adultos.
Infecções gastrointestinais – como as que têm ocorrido em cidades do litoral paulista – são comuns no verão, sendo causadas principalmente pela ingestão de alimentos ou água contaminados por microrganismos.
Hábitos simples de higiene, limpeza e atenção contribuem para que essas enfermidades não ganhem força e se tornem um problema de saúde pública. Por isso, é importante seguir alguns cuidados essenciais para evitar doenças infecciosas comuns nos dias mais quentes.

Principais doenças que atacam no verão

Além do calor, as chuvas aumentam a proliferação de mosquitos, elevando o risco de doenças. Entre as mais comuns se encontram: 

– Doenças Respiratórias [Influenza (gripe), Covid e RSV (Vírus Sincicial Respiratório)]: a forma mais comum de transmissão é por meio de gotículas do indivíduo contaminado ao falar, espirrar e tossir;

– Doenças transmitidas pela água ou alimentos contaminados (Hepatite A): a pessoa infectada elimina o vírus pelas fezes e urina, podendo contaminar um alimento – trata-se de transmissão oral-fecal;

– Gastroenteritese apresenta clinicamente com vômitos e diarreia, conhecida popularmente como intoxicação alimentar (diarreia infecciosa com inúmeros agentes etiológicos);

– Arboviroses (Dengue, Zika, Chikungunya, Malária, Febre Amarela): doenças transmitidas pela picada de inseto;

– ISTs (Infecção Sexualmente Transmissíveis, como HIV, HPV, Sífilis, Gonorreia)o maior consumo de bebida alcoólica aumenta o risco de exposição a essas infecções, que podem evoluir para doenças (por exemplo, o HIV pode causar a Aids, ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), e por diminuir a atenção dada às estratégias de prevenção, daí a importância de utilizar preservativo em todas as relações sexuais;

– Doenças de Pele (Micoses e Dermatites): quanto maior o calor e a umidade, maior a proliferação de fungos e risco de contágio. A transmissão pode ocorrer por meio de contato com a areia e água contaminadas nas praias.

Infectologistas trazem dicas práticas para que a população se previna e evite contratempos à saúde.

Aglomerações fazem aumentar o risco

Seja no centro urbano, em praias ou lugares fechados, é certo que o local das festividades terá bastante aglomeração, e isso pode ser o ambiente perfeito para a transmissão de muitas enfermidades.

Quanto maior o número de pessoas no mesmo local, as chances de disseminação de vírus e bactérias são mais elevadas, resultando nas doenças respiratórias como Covid, Influenza, RSV e até meningite meningocócica em época de epidemia, entre outras”, afirma Alexandre Piva Sobrinho, médico infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Cidade de S. Paulo (Unicid).

Já a biomédica Ertênia Paiva Oliveira, professora do curso de Biomedicina do Centro Universitário de João Pessoa (Unipê) , diz que para se proteger em meio a aglomerações locais urbanos é preciso higienizar bem as mãos com água e sabão ou álcool 70%. Isso reduz significativamente a transmissão de patógenos entéricos e respiratórios.

Além do cuidado com as mãos, é importante estar em dia com a caderneta de vacinação contra Influenza e Covid-19. Em locais fechados ou situações de alta densidade populacional, o uso de máscaras é recomendado para prevenir a transmissão de doenças respiratórias, especialmente durante períodos de alta circulação viral”, comenta a biomédica. 

Ainda de acordo com a professora do Unipê, não compartilhar objetos pessoais é extremamente importante, já que podem atuar como fômites (peças capazes de transportar micro-organismos), principalmente em relação a doenças como mononucleose e herpes simples.

Evite o consumo de alimentos de origem ou manipulação duvidosa, e garanta que a água seja de fonte segura ou tratada. Isso minimiza o risco de doenças transmitidas por via fecal-oral”, afirma Oliveira.

Dengue, zika e chikungunya

Durante o verão, as picadas do mosquito Aedes aegypti podem transmitir doenças como dengue e chikungunya. Alexandre Piva Sobrinho, médico infectologista e professor do curso de Medicina da Universidade Cidade de S. Paulo (Unicid), afirma que as férias no litoral podem transmitir diversas enfermidades diferentes, devido a fatores ambientais, comportamentais e biológicos.

Infecções causadas por vetores possuem maior presença em regiões litorâneas, como Aedes Aegypti, responsável pela transmissão da dengue, zika e chikungunya, devido ao acúmulo de água. Daí a importância do uso de repelente, ter telas nas janelas, evitar regiões com água parada e vacinar-se”, afirma  

dengue causa febre alta, dores no corpo e manchas vermelhas, enquanto a chikungunya provoca febre e intensas dores articulares.  A combinação do calor, umidade e chuvas é ideal para proliferação do mosquito, portanto, é recomendada a atenção redobrada aos locais com água parada e à manutenção de objetos que acumulam água como garrafas, pneus e vasos de plantas.

O combate ao mosquito foi um grande desafio para toda a população, governo e comunidade médica em 2024. Foram registrados 6,5 milhões de possíveis casos de dengue no Brasil, de acordo com o Painel de Monitoramento das Arboviroses do Ministério da Saúde.

O combate ao mosquito é um cuidado constante e necessário. Além da prevenção para não permitir a reprodução das larvas, o uso de repelente e mosquiteiros é muito importante. Atenção se sentir os sintomas: febre alta, manchas vermelhas, dor muscular, dor de cabeça, no fundo dos olhos e perda de apetite, procure atendimento médico”, alerta a infectologista da Afya, Raíssa de Moraes. 

Na persistência dos sintomas, é importante procurar atendimento médico e seguir as orientações do profissional para uma melhor recuperação. Como não existe tratamento antiviral específico, o foco deve ser a prevenção.

Prevenir as picadas de mosquito é essencial para evitar essas doenças. Repelentes, roupas adequadas e a eliminação de criadouros são medidas simples, mas eficazes. Além disso, no caso da dengue, temos a vacina disponível na rede pública de saúde para crianças e adolescentes de 10 a 14 anos e na rede privada, indicada para pessoas de 4 a 60 anos”, destaca Dra. Jéssica Ramos.

De olho no que come

Sintomas como febre alta, vômitos, diarreia persistente ou irritações graves na pele não devem ser ignorados, pois podem indicar doenças que requerem cuidados médicos imediatos. A infectologista Jéssica Ramos, integrante do Núcleo de Infectologia do Hospital Sírio-Libanês e membro de comitês de doenças infecciosas, destaca a importância de procurar atendimento médico o mais rápido possível ao perceber esses sintomas.
Os sintomas dessas doenças geralmente incluem cólicas abdominais, diarreia, náuseas, vômitos e febre. O tratamento varia conforme o agente causador, mas podem incluir hidratação oral para repor os líquidos perdidos, além de medicamentos para controlar os sintomas, como antieméticos e antidiarreicos, e, em casos mais graves, o uso de antibióticos ou antivirais”, explica a especialista.
Para a Dra. Jessica, a prevenção é essencial, e enfatiza a importância de lavar as mãos com frequência, evitar alimentos de procedência duvidosa, dar preferência aos alimentos bem cozidos e priorizar o consumo de água potável.
Com prevenção, atenção e cuidados básicos de higiene, é possível transformar o verão em um período de diversão e bem-estar para toda a família, sem colocar a saúde em risco”, afirma a médica.

Intoxicação alimentar

Alimentos mal armazenados em locais suscetíveis às águas das chuvas, podem ser facilmente contaminados e levar a pessoa que os consumiu a uma série de problemas gastrointestinais. Por isso, ao alimentar-se em quiosques, barracas e espaços de rua, que estão mais expostos a essas condições, observar a cor, sabor e odor antes da ingestão do alimento é fundamental.

A especialista explica que, mesmo em casa, a atenção à higienização dos alimentos e a forma de preparo são importantes.

Lavar as mãos antes de se alimentar ou manusear alimentos, higienizar bem frutas e legumes e evitar alimentos crus ou mal-passados reduz a chance de se expor aos microorganismos que levam à intoxicação”, reforça.

Outras dicas compartilhadas por Raíssa são aquecer os alimentos apenas na hora do consumo e evitar fazer isso, caso estejam em temperatura ambiente por muito tempo.

Em geral, a intoxicação alimentar pode ser tratada em casa, sem uso de medicação, apenas com hidratação e alimentação leve. Porém, em caso de febre, dor abdominal, vômito e diarreia intensa, muco ou sangue nas fezes é necessário procurar atendimento médico.

Infecções relacionadas a fungos

Assim como o tempo seco compromete o sistema respiratório, o excesso de umidade também não é favorável às pessoas. O acúmulo de umidade em ambientes fechados favorece a proliferação de fungos, que podem causar rinite, sinusite, conjuntivite e até infecções fúngicas mais graves em pessoas vulneráveis, como a histoplasmose.

Para evitar essa proliferação é preciso ter atenção à limpeza da casa, deixar sempre o ambiente arejado, manter o banheiro ventilado, limpar com frequência os armários e impermeabilizar lajes e paredes. Se for, por exemplo, limpar telhado, um porão ou uma casa que está há muito tempo fechada, é importante usar os equipamentos de proteção adequados para não respirar a poeira que está ali há muito tempo parada”, esclarece a doutora.

Biquíni molhado e muito suor

As infecções fúngicas também são comuns no verão, especialmente devido ao aumento da transpiração causado pelo calor intenso e ao uso prolongado de biquínis e sungas molhadas. Estas situações favorecem a proliferação de fungos, que podem causar infecções na pele, unhas e mucosas.
Os sintomas incluem coceira, vermelhidão, bolhas e descamação e o tratamento envolve o uso de antifúngicos tópicos ou orais que só podem ser recomendados após avaliação médica. Por isso, é importante tentar manter a pele limpa e seca, evitando roupas apertadas que dificultam a ventilação, não ficar com roupas úmidas por muito tempo e não compartilhar itens pessoais, como toalhas e roupas, para prevenir o contágio”, explica a especialista.

O infectologista ressalta que ao fazer festas na praia é importante evitar permanecer por tempo prolongado com roupas úmidas, além de ficar por muito tempo na areia molhada, e ao ir aos banheiros públicos, as pessoas devem utilizar algum tipo de calçado, com o objetivo de evitar infecções.

Piva faz um alerta para os viajantes: “Neste período de verão são bastante comuns as viagens em cruzeiros marítimos, que pode aumentar consideravelmente o risco de contaminação, principalmente por doenças respiratórias e diarreicas. Portanto, vale adotar os cuidados contra infecções”, finaliza.

Doenças de pele

A umidade do ar associada a temperaturas mais elevadas pode resultar em doenças de pele como a micose e outras irritações. “Em geral, essas irritações não geram um quadro clínico preocupante, porém é preciso cuidado e higiene para que as lesões não evoluam”, diz.

No caso de aparecimento de dermatites ou micoses é recomendável manter a pele limpa e hidratada, evitar roupas molhadas no corpo por muito tempo e não compartilhar objetos pessoais como toalhas e calçados. “A higiene regular ajuda a prevenir infecções cutâneas e evita a proliferação de fungos”, pontua Raíssa.

Com Assessorias

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