Diagnosticada em 2011 com esclerose múltipla, uma doença que pode deixar sequelas importantes para a vida do paciente, a aposentada Roseli Zanlorensi conta que a incontinência urinária foi um dos primeiros sintomas que percebeu.

Comecei a sentir dormência nas pernas e aos poucos também escapes de urina. Passei por muitos ortopedistas, até um neurologista fechar o diagnóstico de esclerose múltipla”.

Com a progressão da doença, o funcionamento da bexiga foi afetado e Roseli sofreu com infecções. “Foi uma fase muito difícil, terrível mesmo. As infecções sempre me acompanharam e não melhoravam apesar do uso de medicamentos e da fisioterapia”, diz.

Controlada pelo sistema nervoso, a bexiga, que armazena e elimina a urina, pode ser afetada pela esclerose múltipla,  uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso central e acomete aproximadamente 2,8 milhões de pessoas em todo mundo. Algumas pessoas podem urinar com mais frequência enquanto outras têm dificuldade no esvaziamento.

Quando o esvaziamento não é realizado regularmente podem surgir infecções, mesmo quando a quantidade de urina residual na bexiga é pequena. Outro problema pode ser a falta de controle na urgência em urinar, deixando a urina vazar involuntariamente

As informações da bexiga enchendo sobem pela medula e chegam na área do cérebro que interpreta e dá o comando de urinar. Quando a esclerose múltipla causa lesões medulares essa comunicação é interrompida, então pode haver espasmos da bexiga e da musculatura da pelve, impedindo o funcionamento correto”, argumenta o urologista Rogério de Fraga.

De acordo com Dr. Rogerio, quando isso acontece, a bexiga não faz o esvaziamento e aumenta a pressão sobre os rins e o risco de infecções. “É por isso que o grande objetivo do tratamento da retenção urinária crônica associada à esclerose múltipla é deixar a bexiga com baixa pressão para evitar o risco de lesões renais e perda de função renal que pode levar a infecção generalizada e óbito”, afirma.

Para Rogerio de Fraga, mesmo que ainda haja muito a ser descoberto sobre a doença, o manejo da condição urológica está bastante avançado, protegendo as pessoas de agravamento do quadro. “A esclerose múltipla, como o próprio nome diz, pode ter múltiplas consequências, mas temos tecnologia importante na urologia, que garante a qualidade de vida para as pessoas com retenção urinária”, afirma.

Técnica do cateterismo intermitente limpo

O quadro de Roseli só melhorou quando ela passou a fazer uso do cateterismo intermitente limpo. “Comecei fazendo o esvaziamento três vezes ao dia, hoje faço seis vezes ao dia e as infecções melhoraram muito”, comenta. O CIL, como é conhecido é uma forma de esvaziar a bexiga quando algum quadro clínico impede que isso aconteça espontaneamente, por meio da introdução de um cateter na uretra ou outro canal cateterizável.

Manter a bexiga vazia vai proteger o rim desse paciente, então o esvaziamento de tempo em tempo, através do CIL, é um procedimento muito bem estabelecido e usado, inclusive, para outras condições neurológicas”, explica o médico.

Segundo as diretrizes da Sociedade Brasileira de Urologia, a técnica do cateterismo intermitente limpo é considerada como o padrão ouro em cuidado da retenção urinária e é a mais difundida, porque possibilita o funcionamento fisiológico do sistema urinária e previne a distensão da bexiga, mantendo o tecido saudável e preservando a perfusão sanguínea no local, garantindo a ação das células contra a invasão e multiplicação de microrganismos.

Nesse sentido, os cateteres hidrofílicos são os mais recomendáveis porque já vêm pronto para o uso, facilitando a utilização, inclusive, por pessoas sem ou com baixa destreza manual; têm orifícios polidos e lubrificados, o que reduz o atrito na inserção e retirada e, consequentemente, os traumas na uretra e porque existes evidências científicas de que reduz o risco de complicações como infecções urinárias, traumas, sangramentos na urina,[iv] além de ser preferido pelos usuários e apresentar bom custo efetividade.

Uma doença com múltiplas sequelas

O dia 30 de Agosto foi instituído pela Lei nº 11.303/2.006 como o Dia Nacional de Conscientização sobre a Esclerose Múltipla, com o objetivo de ampliar o conhecimento da população e alertar para a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado.

A causa da esclerose múltipla não é conhecida, mas a principal hipótese é que os indivíduos que desenvolvem o quadro tenham sido expostos a algum vírus (possivelmente um herpesvírus ou retrovírus) ou a alguma substância ainda não desvendada que aciona o sistema imunológico para atacar os tecidos do próprio corpo.

“As consequências da esclerose múltipla dependem da região afetada pela lesão e da sua extensão. Seu avanço pode levar à mobilidade reduzida quando a medula é atingida, tornando o paciente dependente de cadeira de rodas. Além disso, pode causar dores crônicas, problemas cognitivos e de memória”, explica Rogerio de Fraga, médico urologista.

Segundo o especialista, apesar de a doença alterar muito a percepção e a qualidade de vida, podendo causar, inclusive, depressão e ansiedade, o diagnóstico não deve ser recebido com medo pelos pacientes. “Atualmente temos muitos tratamentos disponíveis que ajudam a controlar bem os sintomas”, afirma.

Os principais sinais podem variar muito. Os mais frequentes, dependendo do local da lesão, incluem fadiga intensa, dificuldades motoras, fraqueza muscular, falta de coordenação e de equilíbrio, formigamento nos membros, problemas de memória e concentração e espasmos musculares. A visão pode se tornar turva ou pouco clara e, principalmente, as pessoas perdem a habilidade de enxergar quando olham para frente (visão central).

Qualquer um desses sintomas que tenha um início súbito precisa ser investigado pelo neurologista, que é o profissional mais habilitado para tratar a esclerose múltipla”, ressalta Dr. Rogerio de Fraga.

“Normalmente o médico vai combinar vários métodos para identificar a doença. Deve avaliar os sintomas clínicos e os achados neurológicos de cada paciente”, esclarece. Para fechar o diagnóstico, é solicitada a ressonância magnética, que é o melhor exame de imagem para detectar a esclerose múltipla. “Por meio da ressonância magnética é possível avaliar se é uma lesão aguda e já iniciar o planejamento do tratamento”, assegura. Muitas pessoas desconhecem, mas uma das consequências importantes da doença é a retenção urinária.

 

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