Nesye Dia do Médico (18 de Outubro), uma nova pesquisa acende um alerta sobre a saúde emocional de quem está na linha de frente dos cuidados. Um estudo realizado pela Afya Research & Innovation Center aponta que 45% dos médicos brasileiros apresentam ou já receberam diagnóstico de algum transtorno de saúde mental.

A situação é ainda mais crítica na região Sudeste, onde o índice chega a 55% dos profissionais. Entre as principais condições temos a síndrome de burnout, caracterizada pelo esgotamento físico e mental relacionado ao trabalho, atingindo patamares críticos.

Nos últimos 12 meses, cerca de 50% dos médicos em todo o Brasil relataram sintomas da síndrome. O Sudeste segue com um cenário igualmente alarmante, registrando que metade dos médicos da região foi acometida pelo burnout no mesmo período.

A psicóloga da Afya Contagem, Dra. Amanda Alves Ramos Piacente, destaca que o exercício da medicina é uma experiência emocionalmente intensa, que exige preparo técnico, equilíbrio emocional e um elevado senso ético. E que por sua própria natureza, coloca o profissional em contato direto com a dor, o sofrimento, as incertezas e decisões difíceis, sempre sob a responsabilidade de zelar pela vida de outras pessoas. “Com o tempo, essa pressão se soma a outros fatores: jornadas extensas, plantões longos, múltiplos vínculos, pressão por resultados e um ambiente de trabalho que ainda pode ser bastante competitivo e hierarquizado. Tudo isso contribui para uma sobrecarga física e emocional significativa”.

A especialista ainda ressalta que o burnout é um tipo de esgotamento emocional que se instala aos poucos e que ele não surge de um dia para o outro. É o resultado de uma exposição constante a altos níveis de estresse, sem tempo ou espaço para recuperação. “É fundamental entender que o burnout não é uma falha individual. Ele é uma resposta humana a um contexto de sobrecarga e de falta de suporte. Por isso, o enfrentamento precisa acontecer em dois níveis: o pessoal, com estratégias de autocuidado, autoconhecimento e equilíbrio e o institucional, garantindo que existam pausas, apoio entre colegas, espaços de escuta e reconhecimento”.

Estresse, depressão e baixa adesão à prevenção

A vulnerabilidade emocional é reforçada pelo quadro de depressão. O surgimento recente da doença entre médicos na região alcança 19% dos casos, um número próximo à média nacional de 20%. Além disso, o estresse é uma realidade para quase 52% dos médicos.

Dra Amanda Piacente, reforça que a sobrecarga contínua impacta diretamente o equilíbrio emocional do médico e isso acontece tanto no plano físico quanto psicológico. “Quando o corpo é submetido a longas horas de trabalho, com pouco descanso, múltiplas demandas e ausência de pausas, ele entra num estado de alerta contínuo. Isso afeta o sono, a alimentação, o humor e até o raciocínio clínico”

pesquisa da Afya Research & Innovation Center também evidencia um descompasso entre a necessidade de autocuidado e a prática regular de atividades saudáveis. No Sudeste, apenas 38% dos profissionais declararam praticar atividade física regular, um fator crucial para a saúde mental e prevenção de condições como o estresse e o burnout. “O autocuidado, na verdade, é o que sustenta a prática médica ao longo da vida. Não precisa ser algo grandioso, são pequenos gestos que fazem diferença: uma pausa entre os atendimentos, uma refeição feita com calma, algumas horas de sono reparador, uma caminhada curta. São atitudes simples, mas que ajudam o corpo e a mente a se reorganizar”, conclui a psicóloga.

Dia da Saúde Mental expõe a outra ponta do cuidado: burnout atinge 2 a cada 3 médicos no Brasil

Especialista da Plenno alerta que, além das jornadas exaustivas, a burocracia silenciosa compromete o bem-estar de quem cuida da população

Há três anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu o burnout como uma síndrome ocupacional. Embora atinja profissionais de diferentes setores, a medicina está entre as áreas mais impactadas. Dois em cada três médicos brasileiros já apresentaram sintomas da síndrome, segundo a pesquisa “Saúde Mental do Médico”, da Afya. Outros 47% têm ou já tiveram diagnóstico de ansiedade e 46% sofrem de depressão.

Isso porque a rotina dos profissionais de saúde no Brasil é marcada por turnos de 12 horas e acúmulo de vínculos em diferentes hospitais e clínicas. Muitos chegam a trabalhar entre 49 e 72 horas semanais. O impacto é ainda mais grave entre  intensivistas: o estudo científico ‘Prevalence of burnout syndrome in intensivist doctors in five Brazilian capitals’ indica que até 61,7% deles apresentam burnout.

No contexto do Dia da Saúde Mental (10 de outubro), Guto Quirós, o CEO da Plenno, healthtech que simplifica e moderniza a rotina médica em uma única plataforma, ressalta que o alerta precisa se estender também a quem cuida da saúde da população. Segundo o especialista, o desgaste não está restrito às longas jornadas dos médicos, mas também à sobrecarga invisível que envolve a desorganização das escalas e à burocracia administrativa que consome tempo e energia.

“Quando falamos em saúde mental dos médicos, não podemos restringir o problema apenas ao tempo dentro do hospital. O caos das escalas, a imprevisibilidade de horários e a carga de tarefas burocráticas são fatores que corroem aos poucos o bem-estar desses profissionais”, aponta Quirós.

O peso da burocracia

De acordo com o levantamento da Afya, as atividades administrativas são apontadas como principal fator associado ao burnout por 60% dos médicos entrevistados. O problema está no excesso de trâmites e na falta de integração das ferramentas usadas no dia a dia.

“Muitos ainda organizam agenda e finanças em planilhas, grupos de WhatsApp e sistemas isolados. Isso gera desorganização, erros e perda de horas em processos que poderiam ser automatizados”, explica Quirós.

Segundo ele, esse desgaste invisível se soma às longas jornadas e compromete diretamente a qualidade de vida.

A digitalização como caminho

Para o executivo, a tecnologia tem papel decisivo na reversão desse cenário. Ao unificar escalas, finanças e burocracias em um único ambiente digital, as soluções digitais otimizam o tempo do médico e devolvem previsibilidade e controle sobre à rotina. A reorganização impacta diretamente a qualidade do descanso, a gestão de múltiplos vínculos e a capacidade de focar no que realmente importa: o atendimento ao paciente.

Na visão do especialista, outro fator importante está na redução de falhas comuns em sistemas fragmentados. Com menos retrabalho e maior integração entre equipes, hospitais e profissionais conseguem eliminar horas desperdiçadas em tarefas operacionais, abrir espaço para uma jornada mais equilibrada e mitigar riscos de erros humanos.

“Não se trata de discutir se o setor da saúde deve adotar ou não a digitalização, mas como acelerar o processo de forma inteligente e segura. Afinal a tecnologia é uma solução para essa sobrecarga invisível. Ela permite ao médico recuperar o tempo perdido em burocracia e dedicar sua energia ao cuidado dos seus pacientes”, conclui o CEO da Plenno.

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