Comandando pensamentos, emoções, movimentos e todas as funções do corpo, o cérebro é um órgão essencial. Mas, nem sempre recebe a atenção que merece. No Dia Mundial do Cérebro, celebrado em 22 de julho, o alerta é para os sinais que muitas vezes passam despercebidos, mas podem indicar o início de doenças neurológicas.

Por isso, a data foi instituída para promover a conscientização sobre a importância de cuidar da saúde cerebral em todas as fases da vida. Em 2025, o tema global da campanha é “Saúde Cerebral para Todas as Idades”, com ênfase no cuidado contínuo, desde a infância até a terceira idade.

Promovida pela Federação Mundial de Neurologia, a campanha deste ano se apoia em cinco pilares essenciais: conscientização, educação, prevenção, acesso e advocacy. A proposta é clara: proteger o cérebro é uma responsabilidade coletiva e diária.

Segundo Claudia Suemoto, diretora da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia de São Paulo e diretora do Biobanco para Estudos em Envelhecimento da Faculdade de Medicina da USP, o cérebro é um órgão extraordinário, mas extremamente sensível ao nosso estilo de vida. “Diversos hábitos cotidianos, muitas vezes negligenciados, podem comprometer significativamente a saúde cognitiva”, alerta.

Entre os principais inimigos da saúde cerebral, destacam-se oito fatores comuns:

  1. Privação de sono
  2. Estresse crônico
  3. Sedentarismo
  4. Má alimentação
  5. Consumo excessivo de álcool
  6. Tabagismo
  7. Descontrole de fatores de risco cardiovasculares, como hipertensão, diabetes, obesidade e colesterol alto
  8. Isolamento social com baixa estimulação mental
  9. Baixa escolaridade
  10. Déficits sensoriais, como perda auditiva e visual

Esses hábitos impactam diretamente funções essenciais do cérebro. Dormir menos de seis horas por noite, por exemplo, prejudica a consolidação da memória e favorece processos inflamatórios. Já o estresse prolongado eleva os níveis de cortisol, hormônio que, em excesso, pode afetar áreas cerebrais cruciais, como o hipocampo. A falta de atividade física reduz a plasticidade neural, enquanto dietas ricas em sal, açúcar e gordura saturada aceleram o envelhecimento cerebral.

O excesso de álcool e o tabagismo danificam neurônios e comprometem a vascularização do cérebro. Fatores de risco cardiovasculares mal controlados aumentam o risco de AVCs e declínio cognitivo. E a solidão, aliada à falta de estímulo intelectual, pode levar à atrofia cerebral precoce.

De acordo com a Dra. Suemoto, mudanças simples no estilo de vida podem gerar efeitos profundos e duradouros. Algumas recomendações práticas incluem:

  • Manter uma rotina de sono adequada
  • Praticar exercícios físicos regularmente (como caminhada, musculação, dança ou natação)
  • Adotar uma alimentação rica em frutas, vegetais, grãos integrais e peixes
  • Reduzir o consumo de álcool
  • Abandonar o cigarro
  • Controlar fatores de risco cardiovasculares com acompanhamento médico
  • Cultivar uma vida social ativa e manter o cérebro em constante desafio com leitura, música, jogos e novos aprendizados

Ela ainda destaca curiosidades importantes: durante o sono profundo, o cérebro realiza uma espécie de “faxina”, que remove resíduos tóxicos acumulados. A prática de exercícios físicos estimula a produção de BDNF, uma proteína fundamental para a proteção e crescimento de neurônios. Já alimentos como frutas vermelhas, vegetais crucíferos e peixes ricos em ômega-3 funcionam como antioxidantes naturais, contribuindo para a prevenção de doenças como a doença de Alzheimer.

“Ao longo da vida, desde a gestação até a velhice, o cérebro exige cuidado constante. Esses dez fatores representam grandes ameaças, mas a boa notícia é que podemos agir. Com pequenas mudanças consistentes, é possível manter nossa vivacidade mental com o passar dos anos. O Dia Mundial do Cérebro nos convida a refletir, educar e lutar por um acesso mais igualitário aos cuidados para o cérebro. Afinal, proteger o cérebro é proteger aquilo que temos de mais valioso: a nossa autonomia e capacidade de decisão”, conclui a Dra. Suemoto.

A SBGG-SP aproveita a data para reforçar recomendações práticas: adotar hábitos protetores, realizar check-ups periódicos, estimular o cérebro com novas atividades e, principalmente, compartilhar essas informações com familiares e amigos.

Com o apoio de instituições como a ONU e a Organização Mundial da Saúde (OMS), a campanha internacional busca reduzir o impacto das doenças neurológicas, que são atualmente a principal causa de anos vividos com incapacidade no mundo. No Brasil, a SBGG-SP se soma a esse esforço com ações de educação, engajamento social e promoção da longevidade cognitiva.

10 sinais de que o cérebro pode estar “pedindo socorro”

De acordo com Hugo Sterman Neto, neurocirurgião do Hospital Vila Nova Star e São Luiz Itaim, da Rede D’Or, é comum que algumas mudanças cognitivas ocorram com o passar dos anos. No entanto, quando essas alterações começam a interferir nas atividades do dia a dia ou a causar preocupação entre familiares, é hora de procurar ajuda especializada.

Confira abaixo dez sinais de que o cérebro pode estar “pedindo socorro”:

1.   Dificuldade de guardar informações recentes, como datas e eventos, passando a depender de anotações, lembretes ou da ajuda de outras pessoas.

2.   Perda de rendimento em tarefas habituais, especialmente com números, como pagar contas ou organizar finanças, levando mais tempo que o habitual para finalizá-las.

3.   Desorientação no tempo e no espaço, como esquecer onde está ou como chegou a determinado local.

4.   Alterações visuais que dificultam a percepção de cores, formas e profundidade, o que pode atrapalhar, por exemplo, ao dirigir.

5.   Dificuldade para encontrar palavras ou nomear objetos, com empobrecimento do vocabulário.

6.   Esquecer onde deixou objetos com frequência e criar justificativas que não condizem com a realidade, como imaginar que foram roubados.

7.   Falhas no manejo do dinheiro, como pagar valores errados.

8.   Descuido com a higiene pessoal ou a alimentação.

9.   Isolamento social ou afastamento de atividades antes prazerosas, incluindo o trabalho.

10. Mudanças de humor e de personalidade, como irritabilidade, apatia ou desconfiança excessiva.

Segundo o especialista, esquecimentos isolados, como esquecer uma palavra ou um compromisso, podem ser normais e fazem parte do envelhecimento natural. O que merece atenção é a frequência e o impacto desses lapsos na rotina. “Quando os sintomas começam a atrapalhar o cotidiano ou a autonomia da pessoa, é fundamental buscar avaliação neurológica”, explica Sterman.

Entre as doenças mais associadas a esses sintomas estão as demências, com destaque para o Alzheimer, a demência vascular e a doença de Parkinson. Essas condições costumam se manifestar de forma sutil no início, e os primeiros sinais podem passar despercebidos ou ser confundidos com o envelhecimento comum.

Acredita-se que alterações no cérebro ocorram anos antes dos sintomas surgirem, mas ainda não temos estratégias de tratamentos para antes do surgimento clínico das doenças. Com a chegada de novos medicamentos que estão em estudo, alguns conceitos devem ser repensados em breve”, destaca o médico.

Além da predisposição genética, fatores do estilo de vida desempenham um papel importante na saúde cerebral. Dormir mal, viver sob estresse constante, manter uma alimentação desbalanceada, sedentarismo e isolamento social aumentam os riscos de comprometimento cognitivo ao longo dos anos.

“Em contrapartida, investir em uma rotina saudável, com exercícios, boa alimentação, interação social e estímulos mentais, como leitura e jogos, ajuda a fortalecer o cérebro e criar uma espécie de reserva cognitiva, que protege o órgão contra o desgaste do tempo”, orienta o especialista.

Quando procurar um neurologista?

  • Se os sintomas de alerta se repetirem e interferirem na rotina.
  • Se familiares notarem mudanças de comportamento ou lapsos de memória frequentes.
  • Em caso de histórico familiar de doenças neurodegenerativas.

O diagnóstico precoce pode não significar a cura, mas faz toda a diferença no acompanhamento e controle dos sintomas. Quanto mais cedo uma doença for identificada, mais eficazes são as estratégias para preservar a qualidade de vida e a independência da pessoa.

Cuidar do cérebro desde cedo é o melhor investimento que podemos fazer para envelhecer bem. Assim como nos preocupamos com o coração e os músculos, precisamos lembrar que a mente também precisa de atenção e estímulo constantes”, reforça Hugo Sterman Neto.

Com Assessorias

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *