Falar abertamente sobre HIV é uma das maneiras mais simples e eficazes de se diminuir as mortes por Aids, assim como o estigma e o preconceito. No Brasil quase 700 mil pessoas estão em tratamento para HIV. De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 95% são indetectáveis e não transmitem o vírus por via sexual. Quem vive com HIV indetectável há 6 meses, tem zero chance de transmitir o vírus sexualmente.

Luis Felipe Pisci Loka nasceu em São Paulo em 1989, cresceu em bairros como Capão Redondo, Jardim Ângela, Cupecê e Guarapiranga e foi diagnosticado com HIV em 2018. Seu canal, o Loka de Efavirenz, foi criado no Youtube, segundo ele afirma, para que as pessoas tenham informações e parem de reproduzir desinformação. “E também para tirar pessoas da invisibilidade”, desabafa.

Diagnosticado com HIV em 2018, Pisci criou o canal Loka de Efavirenz para combater desinformação no Youtube (Foto: Divulgação)

O youtuber é um dos personagens reais do documentário que o SescTV exibirá, em formato de especial, às 22h30 do dia 1º de dezembro, Dia Internacional de Luta contra a Aids. A produção “Youtubers e HIV”, com 45 minutos, traz ainda depoimentos de Gabriel Estrela (GO), Daniel Fernandes (MA), João Geraldo Neto (GO), Rafael Bolacha (SP) e Gabriel Comicholi (PR), de diferentes canais e regiões do Brasil, e investiga o que move seus trabalhos.

Em comum, além do mesmo diagnóstico, a maioria relata o temor de como comunicar o quadro à família, a realidade do tratamento (ou ausência dele) e o combate ao estigma e preconceito como estratégia de enfrentamento e sobrevivência.

Aos 30 anos, diagnosticado aos 23, Gabriel Estrella foi o primeiro a falar sobre HIV com regularidade no Youtube (Foto: Divulgação)

Gabriel Estrela, nascido em Goiânia (GO) em 1992, foi diagnosticado em 2015 e criou o Projeto Boa Sorte. Foi o primeiro youtuber a falar sobre HIV com regularidade. Para ele, o Youtube é visto como um processo de educação contínua e não só de entretenimento, o que considera um diferencial.

“É um vetor e funciona nos dois sentidos, ou seja, é uma troca porque na medida em que produz conteúdo, também recebe”, avalia. Sua iniciativa se deu como parte de um processo de sensibilizar o espectador, de entender que a pessoa que vive com HIV também lava roupas, vai a uma festa, conhece alguém e tem inseguranças que não passam apenas pela Aids.

No canal Prosa Positiva, o jovem maranhense Daniel Fernandes, diagnosticado aos 17 anos, traz pessoas soropositivas para falar sobre o tema (Foto: Divulgação)

Criador do canal Prosa Positiva, Daniel Fernandes nasceu em Imperatriz (MA) em 1994 e foi diagnosticado em 2011. Quando descobriu a sorologia, pensou em fazer palestras, mas como não tinha contado para a mãe, resolveu esperar. Estudou Atuação para Cinema em Porto Alegre e decidiu fazer um canal sobre filmes, mas pensou em falar sobre sorologia e, ao revelar o diagnóstico para a mãe, teve todo o apoio que precisava. Em seu canal, Fernandes traz profissionais e outras pessoas soropositivas, de diversas áreas, para falar sobre o vírus.

Diagnosticado com HIV aos 21 anos, João Geraldo Neto criou o canal Super Indetectável (Foto: Divulgação)

Por sua vez, José Geraldo Neto, de Anicuns (GO), é o criador do canal Super Indetectável. Nascido em 1982 e diagnosticado em 2003, ele relembra que, quando tomou conhecimento de seu quadro, queria contar para todo mundo. Para Neto, era a oportunidade para ser ativista e, assim, tentar mudar a vida de alguém.

“Minha vida seria tão medíocre se o HIV não tivesse acontecido”, avalia. Ele ainda comenta que é complicado manter o ego não inflado, mas nunca irá permitir que fique maior do que a causa, que é levar conhecimento, informação e conforto para as pessoas, além de apresentar as diversas medidas de prevenção.

Na última cena, a diretora Roseli Tardelli pede que cada um defina HIV com uma palavra e os termos são: resiliência, luta, identidade, vida, empoderamento e repensar.

Aids: a Resposta das ONGs no Mundo

Na mesma noite, às 23h30, o SescTV exibe o documentário “Aids: a Resposta das ONGs no Mundo”. Dirigido por Pedro J. Duarte, mostra os bastidores da 20ª Conferência Internacional de Aids em Melbourne (Austrália), realizada em 2014, e as iniciativas de ativistas ao redor do mundo para a prevenção, a conscientização e o combate à epidemia.

Durante esse encontro, representantes de países como Tonga, Argentina, Uganda, Indonésia, Quênia, Sérvia, Austrália, Zâmbia, Porto Rico, Cazaquistão, Nigéria, Coreia do Sul, Camarões, Canadá, Estados Unidos, África do Sul, Egito e Brasil abordam suas relações com a doença e trocam informações sobre as ações que desenvolvem para educar e conscientizar, contribuindo para a redução do estigma causado pelo preconceito.

Outras demandas importantes ao redor do mundo são a compreensão da informação, especialmente para mulheres e o que elas podem fazer com a sexualidade, bem como aprovação de lei de proteção familiar e de política de gênero, além da necessidade real de se criar uma lei que minimize o estigma das pessoas infectadas.

Alguns ativistas também falaram de seus desejos em relação à doença. “Meu sonho é um mundo sem Aids. Meu sonho é que toda mãe possa ter um parto sem HIV e Aids. Que tenhamos uma geração livre de HIV”, diz o sérvio Karlo Boras.

Além da cura para a Aids, a maioria almeja acesso a medicamentos a todos e todas que vivem com a doença; que as crianças infectadas tenham a chance de crescer, aderir à medicação, viver, casar e ter filhos; que as pessoas com deficiência que tenham a doença também possam se tornar ativistas; e especialmente que as pessoas mantenham a esperança.

30 anos de combate à doença

Em 1987, durante a 3ª Conferência Internacional de Aids, realizada em Washington (EUA), 200 mil pessoas, ativistas e cidadãos vivendo com o vírus, participaram do lado de fora do evento. Queriam ser ouvidas pela comunidade científica e pelo mundo, pois, naquele momento, em que não havia tratamento, o silêncio era uma forma de morte.

No ano seguinte foi proposta a criação do Dia Mundial de Luta Contra Aids e, em 27 de outubro, a Assembleia Geral da ONU e a Organização Mundial de Saúde instituíram o 1º de dezembro como data comemorativa, cinco anos após a descoberta do vírus causador da doença (HIV – vírus da imunodeficiência humana).

Naquela época, 65,7 mil pessoas foram diagnosticadas com o vírus e 38 mil tinham falecido. A iniciativa se consolidou e até hoje o 1º de dezembro é marcado como o dia de uma campanha global que combate o preconceito, a desinformação e o estigma que ainda perduram em torno da doença.

No Brasil, após 30 anos de combate à doença, ainda é preciso uma política de saúde de resposta com participação da sociedade civil, desafios com a estrutura de política de saúde geral, atenção básica e continuidade das diretrizes da Organização Mundial da Saúde com treinamento de profissionais e orientações.

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Agenda Positiva

Cinemas exibem sessões gratuitas de filmes sobre HIV

Imagem de divulgação do filme Lxs dxs bichudas, de Jhoel Zempoalteca e La Jerry, comissionado pela Visual Aids (Foto: Divulgação)

No Dezembro Vermelho, mês de conscientização para medidas de prevenção, assistência, proteção e promoção dos direitos humanos de pessoas vivendo com HIV/aids, os cinemas do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro e São Paulo recebem a programação do Day With(out) Art 2022, iniciativa internacional organizada desde 1989 pela Visual Aids com o objetivo de celebrar as vidas das pessoas que vivem com HIV e lembrar do seu legado de luta e ativismo.

Neste ano, mais de 100 museus e instituições culturais de todo o mundo exibem o programa de filmes Being & Belonging. A mostra chega ao IMS a partir de uma iniciativa do coletivo artístico AMEM. Os dois centros culturais exibem sete curtas-metragens de artistas de diferentes nacionalidades que tratam da realidade de quem vive com HIV hoje. No IMS, a seleção fica em cartaz de 1 a 28 de dezembro, na sede de São Paulo, e de 1 a 21 de dezembro, na sede do Rio. Os curtas serão exibidos sempre na mesma sessão, um em seguida do outro, com entrada gratuita.

O programa trata de temas como pertencimento, identidade, afeto e isolamento. No curta Lxs dxs bichudas, por exemplo, os artistas mexicanos Jhoel Zempoalteca e La Jerry exploram as maneiras pelas quais raça, gênero e geografia moldam a vida e os corpos das pessoas que vivem com HIV em seu país.

Em Memória vertical, por sua vez, a argentina Camila Arce apresenta um poema sobre a experiência de nascer com HIV e crescer como parte da primeira geração com acesso a medicamentos antirretrovirais na América do Sul. Já no curta O beijo da vida, o americano Clifford Prince King reúne depoimentos de pessoas negras que vivem com o vírus, tema também abordado no vídeo Aqui estamos nós: vozes de mulheres negras que vivem com HIV, de Davina “Dee” Conner e Karin Hayes.

Dirigido por Santiago Lemus e Camilo Acosta Huntertexas, o curta Amarelos trata da hipervisibilidade enfrentada na Colômbia por pessoas que desenvolvem icterícia como efeito colateral dos medicamentos antirretrovirais de baixo custo fornecidos pelo governo.

Em Bandeiras vermelhas, uma carta de amor, Mikki investiga as possibilidades de representar o prazer proporcionado pelo uso de substâncias ilícitas, para além da imagem do dano. A mostra traz ainda o filme Nuance, no qual o artista sul-coreano Jaewon Kim apresenta os diálogos e sentimentos trocados com a sua parceira soronegativa.

Como parte da programação, na quinta (1/12), às 18h, Fênix Zion, multiartista, realiza a performance Aids na Moda no térreo do IMS Paulista. Na performance, Zion utilizará as poses fashion, a passarela, a dança vogue e a técnica de pintura expressionista “dripping/gotejamento” para apontar possíveis caminhos sobre con(viver) com a Aids. Às 19h, será exibida a mostra de filmes, seguida de debate com o artista e coreógrafo Félix Pimenta e a produtora cultural Ákira Avalanx e mediação do artista Flip Couto.

Papo positivo: viver com HIV e sem estigmas

O encontro Papo positivo: viver com HIV e sem estigmas, acontece no Sesc Avenida Paulista, traz como pauta os direitos das pessoas que vivem com HIV/AIDS, suas histórias, os preconceitos que sofrem diariamente, estigmas e as diferentes realidades que podem ser encontradas em nosso país.

O bate-papo ocorre no dia 1 de dezembro de 2022, quinta, às 19h30, com a mediação da influenciadora digital Rafuska Queiroz, e as participações da ativista Vanessa Campos e do infectologista e influenciador digital Dr. Vinícius Borges, conhecido como Doutor Maravilha.

Segundo Vinícius Borges (Dr. Maravilha), é mais seguro ter relações sexuais com uma pessoa com HIV indetectável, que faz exames semestrais, do que com alguém que afirma “não ter nada”, mas raramente se testa ou se previne de forma eficaz. Ele ainda orienta em seu canal do instagram sobre o uso do PrEP (Profilaxia pré-exposição), que está disponível pelo SUS e previne contra a infecção do vírus.

Vinícius Borges – Doutor Maravilha – Médico infectologista, pela UFMG. Influenciador digital conhecido pelo canal Doutor Maravilha, focado na saúde da população LGBTQIA+ e direitos humanos. Faz trabalho voluntário na ONG Multiverso.

Rafaela Queiroz – Conhecida como Rafuska Queiroz, Rafaela, é psicóloga, feminista e ativista social em direitos humanos e HIV/aids. Também é criadora da fanpage Florescer. Ela nasceu com HIV e está indetectável há 10 anos.

Vanessa Campos – Natural de Manaus, vive com HIV/AIDS desde 1990. Feminista e ativista, é a idealizadora da fanpage @soroposidhiva, em que fala sobre as vivências com HIV/AIDS, feminismo e política de AIDS.

Com Assessorias

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