Dados do Detran.RJ mostram que o Estado do Rio de Janeiro registrou aumento de mais de 19% nos acidentes de trânsito nas ruas em 2023, na comparação com o ano anterior. Foram registrados 9.157 atropelamentos e 39.551 colisões no estado. As estatísticas levantadas junto ao Corpo de Bombeiros apontam que de 20.521 acidentes, 5.397 vítimas foram encaminhadas a hospitais e outras 694 morreram. Segundo o balanço divulgado pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), a cada 24 horas, na última década, sete pessoas morreram e outras 100 ficaram feridas em acidentes de trânsito.
A cada 47 minutos, uma vítima de acidente de trânsito chega ao Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Em média, a unidade, que é referência em atendimentos de traumas de alta complexidade no estado, recebeu 31 acidentados por dia nos primeiros quatro meses de 2024.
Entre janeiro e abril deste ano, o hospital realizou 3.705 atendimentos a vítimas de batidas de carros, quedas de motos, capotamentos e atropelamentos. O número é 32% maior do que os 2.804 registrados no mesmo período de 2023, quase mil a mais. No mesmo período de 2022, foram 1.921 ocorrências, o que mostra que os números vêm crescendo.
O crescimento de casos de acidente de trânsito também impacta o número de atendimentos no ambulatório de pós-operatório. Em 2023, foram cerca de três mil consultas e procedimentos, nos quatro primeiros meses. Em 2024, de janeiro a abril, o número saltou para cerca de cinco mil.
Além de lotar as emergências e as enfermarias, o alto índice de acidentes impacta diretamente no banco de sangue do hospital. No Heat, foram necessárias 7.638 bolsas de sangue em 2022 e 8.119 em 2023 para suprir a necessidade de transfusão no atendimento aos pacientes. Esse quadro se agrava ainda mais durante os feriados prolongados e finais de semana.
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‘Nascemos de novo’: diz jovem após acidente com namorado
Diariamente homens, mulheres, jovens, idosos e crianças entram na emergência do hospital com diversas contusões, lesões ou ferimentos em várias partes do corpo. A maioria dos atendimentos é para ortopedia e neurocirurgia.
“São pacientes que demandam cuidados especializados, além de exames de imagens e intervenções cirúrgicas. Muitos saem bem, mas outros ficam com graves sequelas, ou nem sobrevivem”, explica Marcelo Pessoa, coordenador do Centro de Trauma do Heat.
Na estatística dos acidentes está o casal Marcos Vinícios e Isabelle Mendes, de 24 e 21 anos, respectivamente, vítimas de acidente de carro. Socorridos pelo Corpo de Bombeiros, eles deram entrada no Centro de Trauma do Heat desacordados. Foram estabilizados, operados e receberam alta duas semanas depois.
“Nascemos de novo. Foi um acidente muito grave. O Vinicios perdeu o controle do carro ao bater em um buraco na rodovia. Mas recebemos socorro rápido dos bombeiros e da equipe do hospital, a quem agradecemos sempre”, diz Isabelle.
Motoboy perde a perna após ser atropelado
Em abril de 2023, aos 26 anos, o motoboy Brenndho Andrade Freitas acabou perdendo a perna depois que foi atropelado quando retornava para casa, no bairro Mutuá, em São Gonçalo, por uma motorista que, segundo ele e a família, estava alcoolizada.
“Ela me jogou longe. Vi que a minha perna esquerda estava esmagada. Não me socorreu. Como estava perto de casa, chamaram a minha mãe e o Corpo de Bombeiros. Hoje estou aqui, sem uma das pernas por causa de uma imprudência no trânsito. Muitos acidentes, como o meu, podem ser evitados”, diz o rapaz.
Na rota de colisão da imprudência outra vítima foi o estudante J., de 17 anos, morador de Guapimirim. Ele sofreu um acidente de moto no final de janeiro de 2023. Além das escoriações, teve queimaduras de segundo e terceiro graus nas pernas e na região genital. Entre CTI e enfermaria, o estudante ficou 60 dias internado. Ao lado dos pais, J. reconhece que cometeu uma infração grave.
“Peguei a moto de um amigo emprestada para lanchar e acabei me envolvendo em um acidente. Graças a Deus estou vivo, mas poderia ter acontecido coisa pior. Aprendi a lição e espero que ninguém passe pelo que enfrentei por um ato inconsequente”, reconheceu.
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Segundo os médicos, o consumo de álcool antes de dirigir e o uso do celular ao volante estão entre as causas mais comuns dos acidentes. “Temos que frear esses números. São acidentes que podem ser evitados”, diz Marcelo Pessoa (foto).
O coordenador do Centro de Trauma do Heat ressalta que o simples respeito às principais regras de trânsito, como não utilizar o celular, não fazer ultrapassagem perigosa e não misturar álcool e direção, ajudariam a diminuir significativamente o número de ocorrências.
Atento ao crescimento do número de ocorrências em sua emergência, o Heat aderiu, mais uma vez, ao Maio Amarelo, campanha que tem como objetivo chamar a atenção para o respeito e a responsabilidade no trânsito. A intenção do movimento internacional, em seu 10° ano, é conscientizar para a redução de acidentes, que são a quarta causa de mortes no Brasil.
Aumento de 200% em hospital de referência para a Região dos Lagos
Em 2023, o hospital instalou um novo aparelho de tomografia computadorizada mais potente e moderno. A unidade, administrada pelo Ideas em parceria com o Governo do Estado, conta com um ambulatório de pós-operatório.
No setor, os pacientes são reavaliados por neurocirurgião, cirurgião geral, cirurgião pediátrico, intensivista, cirurgião plástico, oftalmologista, bucomaxilofacial, cirurgião vascular e ortopedista.
“O novo centro de trauma será uma unidade muito importante para o atendimento de média e alta complexidade na Região dos Lagos. O investimento vai evitar a transferência de muitos pacientes politraumatizados”, disse o diretor médico do Herc, Mário Jorge Espinhara.
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A RJ-116, que liga Niterói à Região Serrana, é uma das rodovias estaduais com maior fluxo de veículos e a segunda com maior registro de acidentes, em 2022. Dos 964 ocorridos nas estaduais em 2022, mais de 100 foram nesta rodovia.
A sede do Detran.RJ, na Avenida Presidente Vargas, também ganhará a cor amarela durante todo o mês. Uma atividade educativa será realizada com condutores, simulando a sensação de dirigir embriagado com a utilização de óculos especiais.
A iluminação amarela, cor da campanha, ainda será vista na Câmara dos Vereadores do Rio, às 19h, e na Roda Gigante Yup Star, às 20h. A Lei Seca fará blitzes educativas, em parceria com o DetranRJ, atividades sobre educação no trânsito nas ruas e palestras com agentes PCD’s que foram vítimas da imprudência no trânsito.
Durante todo mês de maio as secretarias e órgãos vinculados do Estado vão realizar atividades educativas em escolas, autoescolas e empresas, palestras, caminhadas culturais e passeio ciclístico. Haverá também distribuição de antenas para motociclistas, fórum no Instituto de Traumatologia e Ortopedia (Into), entre outras atividades.
Oito escolas da rede estadual do Rio vão participar do workshop “Se Liga isso é Trauma”, dia 15 de maio, no Hospital Albert Swcheitzer, em Padre Miguel, Zona Oeste do Rio. Os alunos conhecerão mais sobre a Campanha Maio Amarelo e sobre traumas físicos, que são a principal causa de morte entre os jovens.
“A campanha é importante porque precisamos alertar as pessoas de que os veículos, se utilizados de forma incorreta, podem ser uma arma. A educação no trânsito é primordial para que se evitem acidentes e vítimas”, disse o presidente do Detran.RJ, Glaucio Paz.
Meta da ONU é reduzir acidentes à metade até 2028
Acidentes de trânsito tiram vidas e destroem sonhos. Por isso, é preciso aumentar a consciência dos motoristas sobre bebida e direção e uso de celular ao volante antes de eles destruírem a própria vida, a vida de outros, ou ficarem pra sempre com sequelas. Para isso, é necessário mais projetos educativos.
Anualmente no Brasil, cerca de 45 mil mortes acontecem em decorrência de acidentes de trânsito, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A meta estipulada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para acidentes de trânsito é a diminuição dos casos em, pelo menos, metade até 2028.
O mês de maio foi escolhido depois que a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu o período entre 2011 e 2020 como a Década de Ações para Segurança do Trânsito. Já a cor amarela simboliza a atenção e também a sinalização e a advertência no trânsito. Em 2014, o Movimento Maio Amarelo foi criado pelo Observatório Nacional de Segurança Viária, com a proposta de chamar a atenção da sociedade para o alto índice de mortos e feridos no trânsito.
A campanha visa a unir o Poder Público e a sociedade civil a fim de promover ações de conscientização voltadas aos motoristas sobre a segurança viária para reduzir os acidentes e o alto índice de mortes no trânsito. Saiba mais sobre o movimento em: https://maioamarelo.com/
