Entre junho e julho, os casos de Covid-19 causados pela variante Delta do Sars-Cov-2, surgida na Índia, avançaram no Estado do Rio de Janeiro e já representam 26,09% do total. Na capital, a Delta representa 45% das amostras analisadas. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde (SES), a Delta foi identificada em 38 municípios nas nove regiões fluminenses.

Das 368 amostras colhidas em todo o estado analisadas na última rodada, 66,58% eram da variante Gama, antes chamada de P.1, surgida no Brasil, e 26,09% da variante Delta, a B.1.617.2. Na rodada de análises anterior, divulgada no dia 20 de julho e que sequenciou o genoma de 379 amostras coletadas em junho, os resultados apontaram para 78,36% da variante Gama e 16,62% da Delta.

“Dessa forma, é possível afirmar que a variante Delta está em circulação no Estado do Rio de Janeiro, com tendência de aumento e conversão para se tornar a mais frequente, substituindo a variante Gama”, informou a SES. Os dados foram divulgados pela Subsecretaria de Vigilância e Atenção Primária à Saúde (Svaps) e a estimativa foi confirmada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Entre as variantes de preocupação, determinadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a análise mostrou, ainda, a presença de 0,8% da variante Alfa, a B.1.1.7 surgida na Inglaterra.

Sequenciamento genético (Foto: Américo Antônio/Sesa)

Variante é mais transmissível

Não há análises conclusivas, mas os estudos apontam que a variante Delta é mais transmissível que as outras, apesar de não haver indícios de que cause infecções mais graves. A análise genômica do novo coronavírus é feita por amostragem, recolhendo exemplos de maior carga viral, em pacientes que podem ter maior gravidade clínica. Desde janeiro, foram avaliadas 3.555 amostras no estado.

Segundo a Secretaria de Saúde, a partir deste mês a metodologia vai mudar, passando a ter duas etapas. A primeira vai analisar 300 amostras de pacientes internados em nove hospitais das nove regiões epidemiológicas do estado. Na rodada seguinte, as amostras serão coletadas na rede ambulatorial. Com isso, será possível monitorar qual variante tem causado mais internações.

O sequenciamento genômico do coronavírus é um exame diferente do teste diagnóstico de rotina. Ele é feito para identificar modificações sofridas pelo vírus SARS-CoV-2 no estado e embasar políticas sanitárias. Participam do estudo especialistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

OPAS: “Variante Delta é altamente preocupante”

A variante Delta do novo coronavírus é “altamente preocupante”, à medida que a mutação tem se espalhado para quase 20 países nas Américas, disseram autoridades da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o escritório nas Américas da Organização Mundial da Saúde (OMS), ligada às Nações Unidas.

As autoridades de saúde também estão de olho em outra variante, chamada Lambda, mas observam que a detecção irregular na região ainda não causou um grande impacto.

A crescente disseminação da variante Delta nos Estados Unidos, assim como na maior parte da América Latina e do Caribe, deve fazer com que os governos priorizem os esforços de prevenção à Covid-19, como o uso de máscaras e, especialmente, uma aceleração do ritmo de vacinação, de acordo com a diretora da Opas, Carissa Etienne.

“Isso é preocupante porque os casos parecem se espalhar mais facilmente com a variante Delta e não podemos baixar a guarda”, disse. Etienne acrescentou que até o momento apenas 18% das pessoas na América Latina e no Caribe foram totalmente vacinadas. A chefe da Opas também destacou o crescimento de novos casos na Guatemala, no Brasil e em Cuba.

Mesmo que outras variantes como Alfa e Gamma sejam ainda mais comuns nas Américas, a variante Lambda foi recentemente detectada em países da América do Sul duramente atingidos pelo vírus, incluindo Argentina, Peru, Chile e Equador, de acordo com o gerente de incidentes da Opas, Sylvain Aldighieri.

“A Lambda é uma variante na qual estamos interessados e a Delta é uma variante que é altamente preocupante. “No momento, não temos evidências que nos permitam inferir um comportamento mais agressivo ou severo da variante Lambda, embora seja possível que ela tenha uma maior capacidade de transmissão”, acrescentou.

Laboratório itinerante vai acelerar testagem de variantes em SP

Labmóvel, do Instituto Butantan, vai acelerar o diagnóstico da variante Delta (Foto: Divulgação

O Instituto Butantan lançou, nesta quarta-feira (4), o projeto de laboratório itinerante Lab Móvel, que tem o objetivo de acelerar o processo de testagem dos casos suspeitos de covid-19 e o sequenciamento das variantes do vírus SARS-CoV-2 que circulam no Estado de São Paulo. Com as análises realizadas neste laboratório móvel, será possível obter o resultado em até 24 horas e, então, começar o sequenciamento, que pode durar de três a seis dias. Atualmente todo o processo, entre a testagem e o sequenciamento de variantes, leva de 10 a 12 dias, informou o instituto.

O primeiro destino, nesta sexta-feira (6), será Aparecida do Norte, no interior paulista, onde o veículo deve permanecer inicialmente por uma semana, com previsão de realizar o diagnóstico de cerca de 500 amostras. Com mais de 12 metros (m) comprimento e quase 3 m de altura, o veículo dispõe de três sequenciadores genéticos, centrífuga, seladora, geladeira e freezer para armazenamento de amostras, entre outros. O investimento total foi de R$ 3 milhões.

Moradores das cidades que receberão o laboratório itinerante poderão acompanhar de perto os trabalhos dos pesquisadores do Butantan, já que a estrutura do veículo tem uma parte de vidro pela qual é possível observar os procedimentos executados pelos cientistas. Com isso, será possível também aproximar a população da ciência.

O Butantan informou que os municípios que manifestarem interesse em receber o Lab Móvel se responsabilizarão pela coleta de amostras nas unidades básicas de saúde (UBSs) e pelo encaminhamento destas ao veículo itinerante. No Lab Móvel, os especialistas farão o diagnóstico e separarão as amostras positivas para iniciar o sequenciamento e identificar as variantes. “O sequenciamento é necessário porque os vírus sofrem mutações, ou seja, alterações em seus códigos genéticos, gerando variantes”, explicou o instituto.

O Butantan coordena a Rede de Alertas das Variantes do SARS-CoV-2 e recebe dados dos demais parceiros: Hemocentro de Ribeirão Preto/FMRP-USP, FZEA-USP/Pirassununga, Centro de Genômica Funcional Esalq-USP/Piracicaba, Faculdade de Ciências Agronômicas Unesp/Botucatu, Famerp São José do Rio Preto e Mendelics.

Da Agência Brasil

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