O Brasil não tem muitos motivos para celebrar o Dia Mundial da Água nesta sexta-feira (22). Infelizmente o acesso à água potável ainda não é uma realidade para muitos brasileiros e brasileiras. São mais de 32 milhões de habitantes que não têm acesso ao recurso hídrico, tão essencial para a vida. O Ranking do Saneamento 2024, divulgado pelo Instituto Trata Brasil, aponta que das 27 capitais brasileiras, somente nove possuem ao menos 99% de abastecimento total de água.

Apesar de a média do indicador ser de 95,68%, a situação no país é bastante heterogênea, uma vez que há capitais no Norte do país com indicadores próximos ou abaixo de 50%, como Macapá (AP) com 54,38%, Rio Branco (AC) com 53,50%, e Porto Velho (RO), com 41,79%.

O panorama de perdas de água também liga um alerta para as capitais brasileiras. Somente duas, Goiânia (GO) e Campo Grande (MS), apresentaram índices menores que 25%, com 17,27% e 19,80%, respectivamente. Entre as capitais, a média é de 41,38% em perdas – porcentagem maior que a média nacional de 37,8%.

“A ineficiência em controlar as perdas de água nos sistemas de distribuição traz impactos negativos ao meio ambiente, à receita e aos custos de produção das empresas e, principalmente, afeta o abastecimento para todos os habitantes da localidade”, informa o Trata Brasil.

 Indicadores de atendimento à água e perdas nas capitais brasileiras

Fonte: Ranking do Saneamento 2024 / GO Associados/ SNIS 2022

Falta investimento público em saneamento

Ainda segundo o Trata Brasil, para que o acesso à água seja uma realidade a toda população brasileira “é imprescindível o fomento do investimento na infraestrutura de saneamento e políticas públicas voltadas aos serviços básicos”.

A instituição lembra que todas as localidades do país têm como meta estabelecida pelo Marco Legal do Saneamento atender 99% da população com água potável e 90% com coleta e tratamento de esgoto até 2033″.

O Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) através da Portaria 490/2021, também estabeleceu que, até 2034, o país deverá alcançar os padrões de excelência nos índices de perdas, isto é, 25% em perdas na distribuição (IN049) e 216 L/ligação/dia em perdas volumétricas (IN051).

O Painel Saneamento Brasil, revela como o acesso à água transforma a vida de pessoas em mais de 893 localidades em todo o país.

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Mudanças climáticas podem levar a perda de mais de 40% da água até 2040

O Dia Mundial da Água também chama a atenção para outro desafio: as mudanças climáticas. Dados de um recente estudo desenvolvido pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) revelam que as regiões Norte, Nordeste, parte do Centro- Oeste e parte do Sudeste podem ter uma perda de mais de 40% da água disponível para uso em 2040 em razão das alterações no clima, causadas pelo aquecimento global.

O estudo Impacto das Mudanças Climáticas nos Recursos Hídricos do Brasil prevê ainda um aumento substancial no número de trechos de rios intermitentes – que secam durante parte do ano. A estimativa é para um cenário de alto grau de emissão de gases de efeito estufa com aumento de 4.5 ºC de aquecimento até 2.100 em relação às temperaturas do período anterior à revolução industrial.

Entretanto, os cenários mais otimistas, com aumento de 2 a 3 ºC, também revelam uma perspectiva negativa, com a queda de 20% a 25% no nível dos rios dessas regiões. Com isso, aumenta o risco de falta de água, especialmente no semiárido. No Sul a tendência é de um aumento de 5% na disponibilidade hídrica até 2040.

O estudo foi elaborado por um amplo conjunto de dados climáticos, como níveis de precipitação, evapotranspiração, disponibilidade hídrica e variação da vazão e sua publicação acende o alerta para a necessidade de ações sistêmicas e de longo prazo para a garantia da disponibilidade hídrica no país, associada a processos de educação ambiental.

Acesso mais fácil aos níveis de qualidade da água no Brasil

Relatório Digital de Qualidade da Água permite acesso simplificado a informações sobre qualidade das águas de rios e reservatórios do País

Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) lança o Relatório Digital de Qualidade da Água nesta sexta-feira (22), em Brasília (DF), durante o Evento em Celebração ao Dia Mundial da Água. O objetivo é fornecer à sociedade informações de uma forma dinâmica sobre a qualidade das águas superficiais tanto de rios quanto de reservatórios acompanhados por redes de monitoramento estaduais que integram a Rede Nacional de Monitoramento da Qualidade da Água (RNQA). 

No relatório, qualquer pessoa poderá visualizar os dados de qualidade por meio de mapas interativos, sendo que os usuários do serviço poderão identificar os pontos de monitoramento por região. O documento pretende disseminar informações sobre qualidade de água no Brasil de forma atualizada de modo a fortalecer a gestão qualitativa dos recursos hídricos. Além disso, a ferramenta permite saber mais sobre o contexto do trecho de rio ou do reservatório pesquisado com a opção de aplicar imagens de satélite na visualização.

Com essa funcionalidade, por exemplo, ao encontrar um ponto de monitoramento com alta DBO (carga orgânica) é possível mudar o fundo para uma imagem de satélite, dar um zoom e verificar o que existe nas redondezas desse ponto e que pode explicar essa DBO elevada, como: um município com baixa coleta e tratamento de esgotos ou mesmo um ponto de monitoramento que fica a jusante (abaixo) de um ponto de lançamento de uma estação de tratamento de esgoto (ETE).

Inicialmente o Relatório apresenta informações sobre os seguintes parâmetros de qualidade da água: oxigênio dissolvido, Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e fósforo Total. Futuramente novos parâmetros serão acrescentados, assim como informações sobre o cumprimento ou não das metas de qualidade de água dos enquadramentos que já foram aprovados no País.

A ferramenta também contempla estatísticas sobre o monitoramento e sobre os resultados das análises das coletas de água realizadas entre 2010 e 2023, que são apresentadas em mapas temáticos e interativos.

Como calcular o Índice de Qualidade das Águas

O Relatório apresenta o Índice de Qualidade das Águas (IQA) para cada ponto onde é possível fazer o cálculo desse indicador, o qual é composto por nove parâmetros: temperatura da água, pH, oxigênio dissolvido, DBO, coliformes termotolerantes, nitrogênio total, fósforo total, sólidos totais e turbidez.

Com o IQA é possível realizar a análise simultânea de diversos parâmetros considerados importantes para a avaliação geral da qualidade da água em um único resultado, que varia de zero a 100. Para facilitar a comunicação dos resultados para a sociedade, os valores do IQA são agrupados em categorias de qualidade da água, variando entre péssima e ótima. Com o passar do tempo, outros índices de qualidade serão adicionados ao Relatório.

Ao clicar nos pontos de monitoramento dos mapas, é possível ter mais informações sobre o trecho no qual ele se encontra, como a média das concentrações, as datas inicial e final do período analisado, o número de observações no período e até mesmo o percentual de desconformidade das concentrações em relação aos padrões de qualidade de água definidos no enquadramento.

O enquadramento dos corpos d’água em classes, segundo seus usos preponderantes, é um instrumento da Política Nacional de Recursos Hídricos que estabelece metas progressivas intermediárias e meta final de qualidade da água por trecho de rio de acordo com o uso mais exigente a que esse trecho de rio seja destinado, além de reforçar ações preventivas no combate à poluição das águas.

Dessa forma, ele é um instrumento de planejamento que orienta o uso e ocupação do solo na bacia e define os investimentos necessários para despoluição de modo a garantir água com qualidade suficiente para atender aos usos pretensos mais exigentes.

Agenda Positiva

Planeta.doc Festival leva debate sobre água para as universidades

Ameaças à preservação dos recursos hídricos no país reforçam a importância da educação ambiental na temática da Água. Para contribuir com esse desafio, o Planeta.doc Film Festival lança nesta sexta-feira (22), a Mostra Cinematográfica Planeta Água para professores e alunos de universidades brasileiras.

Com 50 filmes na programação, muitos premiados em festivais do mundo inteiro, a nona edição do Festival Internacional de Cinema Socioambiental Planeta Doc é totalmente focada na questão da água e pode ser acessada por meio da plataforma www.planetdoc.org.

O objetivo da mostra é levar a discussão sobre os recursos hídricos aos ambientes acadêmicos, considerando os impactos da escassez, do desaparecimento de nascentes e rios, do aumento da poluição da água e dos problemas relacionados ao saneamento e  mudanças climáticas, entre outros.

Com impacto nacional e internacional, o festival Planetadoc visa estender a discussão sobre a regeneração da vida na Terra, a fim de promover a mudança de olhares e paradigmas, replicando as inovações que possam beneficiar a sociedade humana e a biodiversidade do planeta.

As ações da nona edição do Festival Planetadoc se estendem até o dia 15 de abril, com a realização do Planeta Doc Conferência Terra, Planeta Água, em formato online, evento que reúne cientistas, cineastas e educadores para um debate público sobre a questão da água, também veiculado na Plataforma Planetdoc.

O Festival Planeta.doc fomenta a estruturação de uma rede nacional de universidades que utilizem o cinema como ferramenta  de sensibilização, apoiando  a formação e construindo espaços proveitosos de debates e soluções em torno do desafio de promover políticas, tecnologias e ações mais sustentáveis em nossa época. As inscrições de universidades, alunos, professores na Plataforma podem ser realizadas em www.planetdoc.org/cadastro.

A iniciativa conta com o patrocínio exclusivo da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e com a parceria da Rede Profciamb, programa de pós-graduação em rede nacional para o ensino das ciências ambientais, que já reúne nove importantes universidades do país.

Dia Mundial da Água

“A Água nos Une, o Clima nos Move” é o tema do Dia Mundial da Água 2024 (22 de março) no Brasil, relacionando que as mudanças climáticas e a segurança hídrica estão intrinsecamente interligadas. A data foi criada em 22 de março de 1992, durante a Assembleia Geral da ONU em solo brasileiro.

A data foi lançada durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92, no Rio de Janeiro, como um esforço da comunidade internacional para colocar em pauta as questões essenciais que envolvem os recursos hídricos no planeta.

Em fevereiro de 1993, foi divulgada a Declaração Universal dos Direitos da Água, documento composto por dez artigos com sugestões que visam despertar a consciência ecológica para essa questão.

Com informações do Instituto Trata Brasil e ANA

 

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