Uma infecção generalizada (sepse) levou à morte precoce o jornalista, escritor e autor teatral Artur Xexéo, de 69 anos, neste domingo (27/6), no Rio de Janeiro. Diagnosticado 15 dias atrás com um Linfoma não-Hodgkin, ele foi internado na Clínica São Vicente, na Gávea, zona sul carioca, e fez a primeira sessão de quimioterapia na quinta-feira (24). Na sexta (25), após sofrer uma parada cardiorrespiratória, foi intubado e acabou tendo um choque séptico. Xexeo era colunista do jornal ‘O Globo’, comentarista da GloboNews e comentava a cerimônia do Oscar na TV Globo.

Tema considerado quase um tabu no meio médico, a sepse (ou septicemia) é uma das principais causas de mortalidade nas UTIs brasileiras. Mata tanto quanto a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), presente em boa parte dos quadros de Covid-19. O choque séptico ocorre quando todos os órgãos são comprometidos e pode acometer pacientes a partir de uma simples infecção já existente, ou, na maioria dos casos, ser adquirida dentro dos hospitais. Ex-colegas afirmaram que Xexéo se tratava de uma infecção no olho. Recentemente, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) anunciou que monitora os casos de sepse nos hospitais que atendem planos de saúde.

A sepse é uma síndrome clínica de disfunção de órgãos com risco de vida, causada por uma resposta desregulada a infecções, seja por bactérias, fungos ou vírus, que acaba causando disfunção orgânica, ou seja, dificulta o normal funcionamento do corpo. No choque séptico pode ocorrer falência aguda de múltiplos órgãos, incluindo pulmões, rins e fígado. Os sintomas incluem febre, dificuldade respiratória, pressão arterial baixa, ritmo cardíaco acelerado e confusão mental. O tratamento inclui o uso de antibióticos e fluidos intravenosos, mas em geral, o quadro leva à morte.

Já o linfoma, um tipo de câncer que afeta o sistema imunológico, é uma doença grave, porém, curável. No Brasil, os principais exemplos bem-sucedidos de enfrentamento da doença são os atores Reynaldo Gianecchini e Edson Celulari e a ex-presidente Dilma Rousseff. A doença atinge 15 mil brasileiros por ano e leva a óbito outras 5 mil, como aponta o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Segundo a entidade, por motivos ainda desconhecidos, o número duplicou nos últimos 25 anos, principalmente entre pessoas com mais de 60 anos.

“A boa notícia é o fato de os linfomas terem alto potencial curativo. O diagnóstico precoce é fundamental para alcançar o êxito no processo terapêutico, por isso o esclarecimento à população é essencial”, afirma Mariana Oliveira, hematologista do CPO Oncoclínicas. As chances de remissão em pacientes com linfomas de Hodgkin chegam a superar 80% dos casos quando o diagnóstico acontece ainda no estágio inicial, enquanto os não-Hodgkin de baixo-grau (não agressivos) têm altas taxas de sobrevida, superando a marca de 10 anos.

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70% da população desconhecem os linfomas

O maior desafio em relação à doença é a falta de conhecimento. De acordo com dados da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), cerca de 70% da população mundial não sabem o que são linfomas. “Apesar de não haver prevenção por desconhecimento do que leva ao surgimento da neoplasia, a chave para deter a evolução progressiva do tumor é o conhecimento”, afirma a dra Mariana.

Linfoma é um câncer que afeta o sistema linfático, principal rede de defesa do organismo, e que  podem ser classificados como Hodgkin, mais raro e que afeta em especial jovens entre 15 e 25 anos e, em menor escala, adultos na faixa etária de 50 a 60 anos, ou não-Hodgkin, cujo grupo de risco é composto por pessoas na terceira idade (mais de 60 anos). Em ambos, o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura. mais comum em pacientes que tenham entre 15 e 30 anos de idade e naqueles acima dos 60 anos.

Disfunções no sistema imune, que provocam inflamações crônicas das células, podem acometer qualquer pessoa. No entanto, pacientes transplantados, portadores do vírus HIV e quem sofre de doenças autoimunes estão mais suscetíveis a desenvolverem linfomas, devido às alterações imunológicas provocadas por essas condições”, afirma Otávio Baiocchi, hemato-oncologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Atenção para as ínguas nas axilas, virilhas e pescoço

O linfoma surge quando ocorrem mutações em células do sistema linfático, que atuam na “filtragem” do sangue. Os linfomas afetam as defesas do organismo e ocasionam o aumento de tamanho dos linfonodos, popularmente conhecido como íngua, que se manifestam nas axilas, virilha e na região do pescoço. Apesar do crescimento do linfonodo estar diretamente ligado ao processo infecioso do sistema imunológico, isso não costuma ser um processo doloroso.

Por isso, o especialista reforça a importância da população conhecer os sintomas da doença como forma de auxiliar no diagnóstico precoce e tratamento adequado dos linfomas. O especialista reforça que além das ínguas, febre intermitente, sudorese noturna sem causa aparente, coceira na pele e perda repentina e significativa de peso são sintomas secundários característicos de linfomas.

Nos dois casos, os sintomas da doença são praticamente os mesmos: aumento do baço, suor noturno, perda de peso sem motivo aparente, febre são alguns deles. Os sintomas em geral são aumento nos gânglios linfáticos (linfonodos ou ínguas, em linguagem popular) nas axilas, na virilha e/ou no pescoço, dor abdominal, perda de peso, fadiga, coceira no corpo, febre e, eventualmente, pode acometer órgãos como baço, fígado, medula óssea, estômago, intestino, pele e cérebro.

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Formas de tratamento não seguem um padrão

Mariana Oliveira explica que as duas categorias – Hodgkin e não-Hodgkin -, contudo, apresentam outros subtipos específicos, com características clínicas diferentes entre si e prognósticos variáveis. “Por isso, o tratamento não segue um padrão, mas usualmente consiste em quimioterapia, radioterapia ou a combinação de ambas as modalidades”, explica a médica.

Otávio Baiocchi diz ainda que, apesar de haver o registro de cerca de 70 subtipos de linfomas – o de Xexeo era o Hodgkin das células T -, todos eles são potencialmente curáveis desde que haja o diagnóstico precoce e que o tratamento seja conduzido por um médico especializado e familiarizado com as particularidades da doença. “Quem trata linfoma deve ter um conhecimento aprofundado sobre o assunto, para desvendar os defeitos apresentados pela doença e assim, poder oferecer um tratamento personalizado e eficaz a cada paciente”.

Em certos casos, terapias alvo-moleculares, que têm como meta de ataque uma molécula da superfície do linfócito doente, podem ser indicadas. “Estas proteínas feitas em laboratório atuam como se fosse um ‘míssil teleguiado’ – que reconhece e destrói a célula cancerosa do organismo”, ressalta o médico. Ainda, dependendo da extensão dos tumores e eficácia das medicações, pode haver a indicação de transplante de medula óssea.

Autotransplante e imunoterapia são alternativas terapêuticas

Diante dos desafios impostos pela crescente incidência da doença, novas alternativas terapêuticas vêm surgindo para combater os linfomas, especialmente para os que não respondem aos tratamentos convencionalmente indicados. “A medicina tem avançado nos últimos anos principalmente através da terapia celular”, afirma a especialista.

Ela conta que o autotransplante ,tratamento no qual é realizada uma quimioterapia mais intensa seguida pela infusão da medula do próprio paciente é uma delas. A terapia com CAR T é outra, e a principal novidade da área. Altamente especializadas, foram desenvolvidas, a partir de uma modificação genética das células, para atacar especificamente o tipo do câncer do paciente e aprovadas pela FDA (Food and Drug Administration), órgão regularizador do setor nos Estados Unidos. As drogas utilizadas nestas situações obtiveram taxas de sucesso que variaram de 50% a 80% dos casos, o que é animador.

E o recente arsenal de combate aos linfomas também incluí a imunoterapia. Com bons resultados apontados por estudos e pesquisas de referência global, o tratamento estimula o organismo do paciente a reconhecer e combater as células tumorais. “De forma bastante simplificada, podemos dizer que os imunoterápicos desativam os receptores dos linfócitos e, assim, permite que as células doentes sejam reconhecidas. Isso faz com que o organismo volte a combater o tumor – e sem causar efeitos colaterais comuns a outras medicações habitualmente adotadas nos processos terapêuticos”, finaliza Mariana Oliveira.

Com assessorias Oncoclínicas e Hospital Alemão Oswaldo Cruz

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