Nunca foi tão relevante buscar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, priorizando a saúde emocional e evitando problemas como estresse, burnout, ansiedade e depressão. Um movimento global para a adoção da semana de trabalho de quatro dias úteis está conquistando espaço. E empresas brasileiras estão começando a explorar essa ideia inovadora.

O movimento chamado 4 Day Week Global chegou ao Brasil recentemente com o objetivo de testar a possibilidade de redução da jornada de trabalho para quatro dias. A ideia é seguir o princípio 100 – 80 – 100, ou seja, manter 100% do salário, trabalhar 80% do tempo, e ter 100% de produtividade. O projeto começa a ser testado em novembro no Brasil, com 20 empresas selecionadas.

O próprio ministro do Trabalho, Luiz Marinho, lançou recentemente a proposta que tem agitado o cenário trabalhista no país: a adoção a semana de quatro dias úteis. Em sua participação na Comissão de Direitos Humanos do Senado, em outubro, Marinho enfatizou que esse não é apenas um debate governamental, mas uma discussão vital para toda a sociedade.

Para o ministro, a redução da jornada de trabalho é um tópico crucial. Ele acredita que o momento de discuti-lo chegou: “O debate da redução da jornada é importantíssimo. Não é um debate de governo, é um debate para a sociedade, e quem dá a palavra final é o parlamento. Eu acredito que passou da hora.”

Marinho também apontou que a possibilidade da semana de quatro dias já está em discussão em outros países e que algumas empresas brasileiras iniciarão testes em novembro. “Já passou da hora de o  Brasil discutir a jornada de trabalho de 4 dias semanais”.

A ideia por trás desse novo modelo é reduzir a jornada de trabalho para 32 horas semanais, utilizando a lógica do “100 – 80 – 100”: 100% do salário, 80% do tempo e 100% de produtividade. De acordo com ele, a economia brasileira suportaria.

“O debate da redução da jornada é importantíssimo. Não é um debate de governo, é um debate para a sociedade e quem dá a palavra final é o parlamento. Eu acredito que passou da hora”, disse o ministro.

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Como funciona a nova jornada de trabalho reduzida?

O modelo de trabalhar quatro dias por semana, tendo a oportunidade de manter o mesmo salário e benefícios, tem sido discutido globalmente e tem se tornado um exemplo de flexibilidade. A possibilidade de ter mais dias de descanso tem atraído o desejo dos colaboradores que buscam maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

Esta ideia de reduzir a carga horária de trabalho já tem sido muito discutida mundialmente. Na verdade, países como Emirados Árabes Unidos, Islândia e Bélgica já adotam este modelo. A Reconnect Happiness at Work lidera a iniciativa no país, em parceria com a 4 Day Week Global e o Boston College.

A semana de 4 dias traz uma proposta de reduzir a jornada de trabalho – que atualmente consiste em 44 horas semanais – a 32 horas semanais.  O novo arranjo pode ser feito de três maneiras:

  • Tirar a segunda-feira da semana útil;
  • Tirar a sexta-feira da semana útil;
  • Reduzir a carga horária todos os dias.

Para a Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV) no Trabalho jornadas extenuantes de trabalho podem causar estresse e a ideia da semana de quatro dias, já em fase de testes por parte de algumas companhias brasileiras, aparece como uma boa solução ao problema. A entidade destaca a importância de as empresas agirem mais de forma preventiva do que reativa na hora de garantir o bem-estar dos seus colaboradores.

Empresas já adotam a novidade com êxito no Brasil

Mas será que essa iniciativa realmente vai dar certo no Brasil? Já deu, ao menos na avaliação de empresas que já adotaram o modelo. É o caso da yampa – startup de controle e análises financeiras para PMEs que já implementou esse modelo há mais de um ano.

“Nossa experiência nos ensinou que, ao adotar a semana de quatro dias, não apenas melhoramos nossa eficiência, mas também reduzimos o estresse e o risco de burnout da equipe. Nossos colaboradores têm aproveitado esse modelo para desenvolver novas habilidades, passar mais tempo com a família e se concentrar em seu bem-estar’, afirma Bruno Mosé, CEO da empresa.

A decisão de adotar a semana de quatro dias foi resultado de extensa pesquisa e análise cuidadosa. Ele enfatiza que a empresa acreditava que poderia fazer isso funcionar e trazer benefícios tanto para seus funcionários quanto para a empresa.

“A jornada de quatro dias de trabalho tem sido um verdadeiro marco na nossa jornada no yampa. Quando decidimos implementar essa mudança, nós nos arriscamos, mas sempre com a visão de tornar o quinto dia útil tão produtivo quanto os outros quatro”, explica o executivo.

Para isso, foram feitas algumas adaptações, como garantir que a equipe de contato com o cliente mantivesse um ritmo constante. “Não podemos passar um dia inteiro sem comunicação. No entanto, o objetivo central era claro: aproveitar esse dia extra para melhorias, crescimento pessoal, visitar a família ou simplesmente relaxar, mas sem perdê-lo de forma improdutiva.”

Melhoria de eficiência de 82%

Os resultados até agora têm sido notáveis. Nos primeiros seis meses, o yampa viu uma melhoria de eficiência de cerca de 82%, realizando em quatro dias o que costumava levar cinco. Além disso, a produtividade aumentou em torno de 30%, graças a um foco aprimorado, menos reuniões e um ambiente de trabalho menos estressante.

No entanto, a abordagem do yampa não se baseia apenas em números. A cada trimestre, a empresa revisa os resultados da semana de quatro dias, ajustando conforme necessário. Bruno Mosé destaca: “Nossa intenção nunca foi tornar isso permanente sem questionamento. Queríamos aprender com cada ciclo e aprimorar nossa abordagem.”

Ao pesquisar experiências bem-sucedidas em outros países que já adotaram a semana de quatro dias, percebemos que essa é uma tendência global que veio para ficar. Em média, empresas em todo o mundo viram melhorias de 50% a 70% em produtividade e crescimento ao adotar esse novo modelo de trabalho.

Percepção sobre a qualidade de vida cresceu de 57% a 86% em empresa

A Vockan, representante da QAD no Brasil e que desenvolve ERP e soluções para a indústria de manufatura, também implantou esse novo modelo e já colhe bons resultados. De acordo com pesquisa realizada com os colaboradores participantes do projeto, o aumento geral da satisfação – que engloba gestão do tempo, saúde física e mental, realização de tarefas pessoais, entre outras – foi de 54%, antes do projeto piloto, para 70%. Com relação à percepção sobre a qualidade de vida, cresceu de 57% a 86%.

De acordo com Daniela Aguiar, colaboradora da área de Suporte da Vockan, com a adoção da semana de quatro dias de trabalho, os benefícios foram diversos, principalmente ao que se refere à qualidade de vida.

“Ter um dia de descanso proporcionou possibilidades maiores para a minha vida pessoal. E com a nova jornada de trabalho, a empresa está indo para um caminho mais humanizado, sendo cuidadas e priorizadas”, acredita.

O programa teve início em novembro do ano passado com a área de Suporte, que presta atendimento aos clientes no Brasil e fora do país, além de dar apoio para toda a rede de consultores da empresa, representando 50% da equipe administrativa da companhia. O estudo ainda mostra que o índice sobre o nível de felicidade dos colaboradores aumentou em 43% e o de produtividade, em 23%.

O projeto da semana de 4 dias nasceu a partir do desejo da liderança da Vockan, que implementou, desenvolveu e criou suas próprias metodologias. Para Fabrício Oliveira, CEO da empresa, o novo regime de trabalho foi tão bem-sucedido que o programa deve ser expandido até o final do ano para outras áreas.

“A produtividade permaneceu alta com um aumento no bem-estar da equipe, foco do trabalho e comprometimento, mantendo o alto nível de entregas para os clientes. Os funcionários relataram uma variedade de benefícios relacionados à qualidade de vida, níveis de estresse, vida pessoal e saúde mental”, afirma.

Finais de semana prolongados à escolha do colaborador

O sistema de trabalho na Vockan é híbrido, sendo recomendável um dia na semana no formato presencial para integração dos times. Para a equipe de Suporte que já aderiu à semana de quatro dias, os finais de semana podem ser prolongados, podendo escolher entre a sexta-feira ou a segunda-feira como dia de descanso.

Logo após a implantação da jornada de 4 dias de trabalho, a Vockan se filiou à 4 Day Week Global, organização sem fins lucrativos, sediada na Nova Zelândia. Assim, passou a ser a primeira empresa brasileira a se vincular à instituição global, que busca, principalmente, novas formas de trabalho, sem alterações de salário e benefícios.

A primeira ação da Vockan junto a esta comunidade internacional aconteceu em abril de 2023, acompanhando a experiência de planejamento e implementação junto às empresas portuguesas que acabaram de iniciar o teste piloto. Para Oliveira, essa filiação diz muito sobre o mindset da empresa e posicionamento sobre o futuro do trabalho.

“Somos uma companhia jovem, recém-lançada no mercado, mas com vasta experiência no segmento de tecnologia. Por isso, sabemos da importância de um ambiente corporativo que prioriza a flexibilidade e valoriza o equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Com o novo programa, nosso foco também está na retenção de talentos e atração de novos profissionais”, enfatiza.

Modelo de 4 dias aumenta a produtividade

Um dos principais tópicos na discussão sobre diminuir a jornada de trabalho no Brasil é a respeito da produtividade. Existe uma preocupação de que o funcionário sinta-se sobrecarregado por ter menos tempo disponível para o trabalho e, assim, se torne improdutivo.

No entanto, estudos concluíram que, na verdade, trabalhar menos horas pode aumentar a produtividade. Tendo um dia a mais para descansar, os funcionários conseguem se concentrar mais em suas atividades, evitando, assim, desperdício de tempo e distrações durante sua jornada de trabalho. Além de garantir maior energia e motivação no dia a dia.

Entre junho e dezembro de 2022 na Inglaterra, o Instituto de pesquisas Autonomy reuniu 61 empresas de diversos setores para testar a eficácia da redução da jornada.  Após o fim do estudo, foi revelado que 92% das empresas participantes decidiram manter a jornada de trabalho reduzida, já que seus trabalhadores apresentaram um ganho significativo na sua produtividade.

CLT: O que diz a lei sobre jornada de trabalho?

A Consolidação das Leis do Trabalho, popularmente conhecida como CLT, determina em seu artigo 58 que a jornada de trabalho para funcionários da rede privada deve ser de oito horas diárias. Já a Constituição Federal determina que a soma das horas trabalhadas semanalmente não pode ultrapassar 44 horas.

Além disso, o artigo 59 da CLT permite que o funcionário faça até, no máximo, duas horas extras por acordo individual, convenção coletiva ou acordo coletivo de trabalho. Sendo assim, qualquer período de trabalho que supere as 44 horas trabalhadas por semana é considerado hora extra. Essas horas valem pelo menos 50% a mais que o valor da hora que o trabalhador cumpre normalmente.

Esta é a jornada de trabalho mais “tradicional”. A lei também determina outros tipos de jornada. Entre elas, temos a jornada de trabalho de escala 6×1, no qual o empregado atua por 6 dias e folga 1. Além disso, existe a jornada 12×36, onde o funcionário trabalha por 12 horas consecutivas e dispõe de 36 horas de descanso, e a jornada 24×48, em que, a cada 24 horas trabalhadas, o funcionário tem direito a 48 horas de repouso. Esses dois últimos são mais comuns entre trabalhadores da área da saúde.

Independente do modelo de jornada, é muito importante que tanto empregador quanto funcionário estejam cientes do que foi acordado entre ambas as partes, até para não prejudicar a produtividade do funcionário e o bom funcionamento da empresa.

Com Assessorias

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