Se receber um diagnóstico de câncer está entre as piores vivências que alguém pode ter, receber este diagnóstico durante a fase de amamentação torna o sofrimento inestimável para quem nunca passou por isso. E foi o que aconteceu com Fabiana Justus, de 37 anos, filha do empresário e apresentador Roberto Justus, que teve que interromper a amamentação exclusiva do caçula Luigi, de 5 meses assim que recebeu o diagnóstico de leucemia linfoide aguda (LMA), o tipo mais grave da doença.

No dia 27 de janeiro, ela postou o vídeo do dia em que recebeu o diagnóstico e que pôde ter contato com o bebê. “Tive meu momento com o Luigi [filho mais novo] de manhã, dei mamá na mamadeira pela primeira vez”, escreveu Fabiana nas redes sociais ao comentar sobre o encontro no hospital com o caçula e as duas filhas gêmeas, autorizado pelos médicos.

Mas por que mulheres em tratamento de câncer precisam parar de amamentar? Ouvimos dois especialistas a respeito. Confira:

‘Quimioterapia é incompatível com a amamentação’, diz especialista

Cinthia Calsinski, enfermeira obstetra e consultora internacional de lactação, afirma que a quimioterapia é mesmo incompatível com a amamentação, não há alternativas seguras.

“Se houver a necessidade de tratamento na gestação, existem algumas opções que não ultrapassam a barreira placentária e podem ser utilizadas. Não é o caso da fase de amamentação, infelizmente”, lamenta a especialista.

Paulo Telles, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria, lembra a recomendação da SBP de que a quimioterapia é um tratamento que impossibilita a amamentação.

“Isso porque a medicação passa pelo leite e pode acometer o bebê. Os medicamentos usados na quimioterapia são perigosos para as crianças porque interferem na divisão normal e saudável das células do corpo”, detalha ele.

Algumas mulheres que estiveram nessa situação, segundo Cinthia, costumam dizer que a notícia do diagnóstico e da necessidade de desmame abrupto e precoce são igualmente dolorosas.

“E vale lembrar que esta mulher ainda se encontra no puerpério, momento de fragilidade intensa, alterações hormonais, retorno físico-emocional de todo o organismo para o estado anterior à gestação”, complementa a especialista em obstetrícia.

Por este fator, Dr. Paulo Telles orienta que as pessoas ao redor tomem para si o cuidado com esta mãe num momento extremamente delicado.

“Temos de amparar, acolher e dar ainda mais força e segurança para a lactante que iniciará o tratamento. O bebê ficará muito bem com a alimentação alternativa. Por isso, o mais importante é cuidar da saúde física e emocional da mãe”, reforça, ao convocar toda a rede de apoio que rodeia esta mulher, numa conjuntura onde isso é mais necessário que nunca.

O que acontece com o leite materno durante o tratamento de câncer?

Nestas situações, explica Cinthia, é indicada uma medicação para secar o leite, associada à necessidade de avaliação frequente das mamas, observando possíveis complicações e intervindo o mais precocemente possível.

“Os cuidados básicos nestes casos seriam enfaixamento das mamas e compressas geladas. Massagens e ordenhas devem ser evitadas, a não ser que sejam indicadas por alguma questão específica, e por um profissional especialista no assunto”, explica.

Além do tratamento interferir diretamente no bebê via amamentação, Cinthia informa, ainda, que no próprio momento de investigação diagnóstica já podem ser necessários exames com contrastes, procedimentos com necessidade de medicação, que já podem ter impacto na lactação.

“O tratamento é intenso, necessita de internação prolongada, provoca queda da imunidade e consequente isolamento social pelo risco de infecção”, complementa.

Saiba mais sobre a leucemia

Leucemia é uma doença maligna do sangue que resulta da proliferação anômala e desordenada dos glóbulos brancos (também chamados de leucócitos, as células de defesa), na medula óssea. Isso interfere na produção das demais células, que são os glóbulos vermelhos e as plaquetas, implicando em anemia.

“Os fatores de risco para a leucemia são vários, sendo os mais comuns a idade avançada, antecedentes de exposição à radiação ionizante, benzeno, quimioterapia prévia, agrotóxicos, solventes e também a presença de doenças hematológicas anteriores”, explica Daniela Rocha, hematologista do Hcor.

De forma resumida, existem quatro principais tipos: leucemias mieloides aguda e crônica e leucemias linfocíticas aguda e crônica. A diferença entre elas é a maturidade dos glóbulos brancos. Enquanto nas leucemias agudas os leucócitos imaturos se proliferam mais rápido, nas crônicas são os maduros.

“Não há um método específico para a prevenção da leucemia, mas são recomendados bons hábitos de vida, realização de exames de sangue periódicos, pelo menos uma vez ao ano, e a procura de atendimento médico, caso apresente algum sintoma. A doença pode se apresentar em forma de cansaço, infecções recorrentes, sangramento de mucosas, manchas roxas na pele, aumento de gânglios e dor óssea”, alerta a especialista.

As opções terapêuticas incluem a quimioterapia e/ou drogas mais modernas, como a imunoterapia e as chamadas drogas-alvo, sendo algumas inclusive administradas por via oral na forma de comprimidos. Sempre que possível, recomenda-se uma abordagem multidisciplinar, incluindo a avaliação e acompanhamento de nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos, além do envolvimento e acolhimento dos familiares

“Ainda como forma de tratamento para os pacientes considerados elegíveis, temos o transplante de medula óssea autólogo (com células do próprio paciente) ou alogênico (com células de um doador)”, finaliza a Dra. Daniela.

Com Assessorias

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