O aposentado Servando da Cruz Fernandez completou 62 anos dentro de um hospital. Mas nunca esteve tão feliz. Ele foi o paciente de número 999 a receber um transplante no Hospital São Francisco na Providência de Deus, na Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro.  A unidade acaba de alcançar a impressionante marca de mil transplantes renais realizados em apenas cinco anos de serviço.

Dona Marlene ganhou um rim novo
Dona Marlene, de 76 anos, foi a milésima paciente a ter um rim transplantado na unidade (foto: Divulgação)
Poder receber um novo rim é renascer. Foi um presentão que eu recebi de Deus. O que eu tinha antes, durante 10 anos fazendo hemodiálise, não é vida. O que eu fiz foi sobreviver”, conta.
Não é para menos. Servando passou 10 anos de sua vida tendo que se submeter a frequentes sessões de hemodiálise, um processo de filtração do rim que é feito por uma máquina durante sessões de quatro horas por dia, em média.
Assim como ele, a pensionista Marlene Maximiano de Lemos, de 76 anos, se considera ” uma felizarda”. Ela é a paciente número 1.000 a receber um rim no hospital.
Desde 2007 eu estou nessa luta e agora consegui um rim. É outra vida que eu vou poder levar. Minha mensagem é para quem precisa de um transplante: não desista! Viver é bom!”

Uma vida com muitas perdas

A convivência com a doença renal trouxe muitas limitações para Servando. “Você tem que se adaptar a cada coisa nova que aparece, tem que reaprender a viver aceitando as perdas no trabalho, na vida social. Tudo é afetado: eu não podia mais viajar, tendo que dialisar dia sim, dia não. Então, eu desisti de muita coisa. Esses 10 anos me treinaram para ter uma vida diferente”.

Ele foi obrigado a se aposentar ainda cedo porque não tinha mais condições de trabalhar. “O serviço que eu fazia antes, que era lidar com tecnologia e fazer manutenção de equipamentos. Isso eu não tenho condições. Então, eu vou tentando outras coisas. Fazendo serviços de outras maneiras, sem me esforçar tanto”, conta.

Servando, que vivia triste, quem diria, agora faz planos. “Vou levar uma vida mais tranquila e me dedicar mais às leituras e à minha espiritualidade”.

Referência em transplantes hepáticos em casos de febre amarela

A direção do HSFl comemora ainda outra conquista: o Ministério da Saúde acaba de apontar o HSF como unidade de referência para transplantes hepáticos de pacientes com febre amarela no Rio de Janeiro. O hospital também se orgulha de possuir uma posição de destaque no ranking nacional de transplantes renais da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).

 No ano passado foram realizados 214 transplantes renais, maior número entre as unidades de saúde de todo o Estado do Rio de Janeiro e à frente do Hospital das Clínicas de São Paulo, que realizou 207 transplantes renais e outros oito hepáticos. Somente este ano (até 23 de março), foram realizados 43 transplantes, sendo 15 transplantes renais e seis hepáticos, o que representa um aumento de 30% e 50%, respectivamente, em comparação ao mesmo período do ano passado.

Após a alta, prevista para a próxima semana, Servando terá que voltar ao hospital regularmente, para fazer acompanhamento contínuo, como outros pacienres transplantados. A taxa de sucesso é alta: 90%. A taxa média de perda de enxerto (transplante) no primeiro ano é de 10%. Esse é o número de pessoas que perdem o transplante e não a vida.

Médica participou de todos os 1.000 transplantes

Dra. Deise De Boni_HSF
A nefrologista Deise De Boni participou de todos os 1.000 transplantes realizados no hospital nos úlrimos cinco anos (foto: Divulgação)

À frente da equipe de transplantes renais do HSF está a nefrologista Deise de Boni Monteiro de Carvalho. Ela tem marcas difíceis de serem superadas: participou de todos os mil transplantes feitos na unidade e de mais 3.500 ao longo de sua carreira.   e participou de todos os mil transplantes realizados na unidade. Uma celebração no próximo dia 28 de abril, reunirá Eduardo, Deise e toda a equipe que contribuiu para essa conquista.

Formada em medicina pela Universidade de São Paulo, Deise veio para o Rio de Janeiro há 49 anos. Trabalhou no Hospital Geral de Bonsucesso, onde participou de cerca de 2 mil transplantes renais.  Para a médica, que coleciona números favoráveis a sobrevida de seus pacientes, é uma grande alegria ver a chance de uma nova vida para os transplantados.

Esses pacientes viram nossos amigos. Um trabalho cuidadoso e que nos enche de orgulho. Dar uma sobrevida a essas pessoas que saem da hemodiálise e passam a ter qualidade de vida, é o nosso ideal” (Deise de Boni, nefrologista, participou de todos os 1.000 transplantes realizados na unidade hospitalar)

Coração e córneas: novos transplantes na unidade

Enquanto a direção do hospital está na expectativa de consolidar uma nova conquista ainda este ano – os 500 transplantes hepáticos -, já planeja a criação de um centro de pesquisa e formação profissional em transplantes, o que vai ajudar ainda mais a salvar vidas.

“Estamos implantando duas novas modalidades de transplantes no HSF este ano: córnea e coração, sempre pensando na preservação da vida. Vamos aumentar o número de cirurgias e, consequentemente, beneficiar um maior número de pessoas, mantendo o nível de excelência que conseguimos ao longo destes cinco anos de atuação”, estima Frei Paulo Batista, diretor geral do hospital.

Para a nefrologista Deise Carvalho, a realização de novas modalidades de transplantes, que deve ocorrer no segundo semestre deste ano, é um novo desafio para o hospital, que tem número bem expressivos no ranking nacional de transplantes.

Envolvimento e dedicação da equipe

Para a médica, que foi fundadora e faz parte da atual diretoria da ABTO, o sucesso no trabalho do Hospital São Francisco se deve à equipe e às boas condições de trabalho: “Conseguimos alcançar esta marca porque contamos com uma equipe fantástica e um hospital que nos oferece boas condições de trabalho e um serviço ativo desde sua implantação em 2013”, destacou Deise Carvalho.

Para o coordenador do programa de transplantes do hospital, Eduardo Costa Pinto, os bons resultados podem ser explicados pelo envolvimento e pela dedicação da equipe. Sobre a entrada de duas novas modalidades de transplantes, comentou: “Ganha a vida, a qualidade de vida desses pacientes que tanto precisam desse serviço e todos nós que nos sentimos gratificados”, afirmou.

Números no Brasil

De acordo com a ABTO, de 2010 a 2017 o número de doadores cresceu 69% no país, o que demonstra uma mudança de atitude do brasileiro. O Brasil é o segundo país em números absolutos de transplantes renais: (5.426), ficando à frente da França (3.676), Reino Unido (3.246) e Espanha (2.994) transplantes, conforme os últimos dados disponíveis, fechados em 2016. A taxa de sobrevida dos transplantados renais é na ordem de 93%.

Fonte: Hospital São Francisco da Providência de Deus, com Redação

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