Um caso recente mostra o despreparo não só dos profissionais, mas dos espaços de saúde como clínicas e hospitais, para enfrentar a grave questão da obesidade no Brasil. O jovem Vitor Augusto Marcos Oliveira, 25 anos, morreu dentro de uma ambulância, na porta do Hospital Geral de Taipas, na zona norte de São Paulo, enquanto esperava por maca para pessoas com obesidade. O jovem pesava 190kg e teve atendimento recusado em seis unidades de saúde da cidade.

“Infelizmente o caso do Vitor não é um caso isolado. Pessoas com obesidade grave não encontram serviços de saúde adequados para atendê-los nem sob o ponto de vista de estrutura, como cadeiras e macas, nem muitas vezes sob o ponto de vista de profissionais preparados para receber essas pessoas”, diz a psicóloga Andrea Levy, presidente da ONG Obesidade Brasil, a primeira organização sem fins lucrativos do mundo direcionada a pessoas com obesidade.

Com 190kg, Vitor Oliveira, de 25 anos, morreu dentro de uma ambulância, na porta do hospital, enquanto esperava por maca para pessoas com obesidade (Reprodução da internet)

Atualmente são 41 milhões de pessoas com obesidade no Brasil, o que corresponde a 26% da população. Segundo dados apontados pelo Atlas Mundial da Obesidade 2022, material publicado pela Federação Mundial de Obesidade (World Obesity Federation), a doença deve atingir quase 30% da população adulta brasileira em 2030. Junto aos números alarmantes, existe ainda a preocupação com o preconceito que vem atrelado à obesidade.

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Preconceito atrelado à gordofobia gera sofrimento

A gordofobia engloba casos de pessoas excluídas, inferiorizadas, humilhadas ou que sofrem com atitudes que reforçam estereótipos. E todas essas questões influenciam de alguma forma no tratamento. Durante o mês, a campanha do Janeiro Branco reforça a importância do cuidado com a saúde mental.

“As atitudes gordofóbicas não levam as pessoas a buscarem tratamento para a obesidade. Pelo contrário, afastam as pessoas dos serviços de saúde, já que despertam o medo de serem julgadas até pelos próprios profissionais de saúde”, afirma a psicóloga, clínica e bariátrica, especialista em Obesidade e Transtornos Alimentares pelo HC-FMUSP.

Com mais de 20 anos de atuação em clínica de Obesidade e Cirurgia Bariátrica e autora do livro “Cirurgia Bariátrica: manual de instruções para pacientes e familiares”, a psicóloga explica também que a gordofobia ainda pode fazer com que muitos tenham vergonha de procurar um esporte ou uma academia por medo de serem ridicularizados e de ouvirem piadinhas. O que pode fazer com que eles se afastem do convívio social e até mesmo de atividades como ir à praia ou à piscina.

Preconceito até na hora de conseguir emprego

Além das atividades pessoais, o lado profissional acaba comprometido já que o preconceito se estende para o momento da contratação nas empresas. Recrutadores utilizam justificativas sem sentido para recusar o candidato com obesidade e ainda existem concursos públicos que exigem o padrão IMC (Índice de Massa Corpórea) nos anúncios. Na Justiça do Trabalho, são 419 processos com a expressão “gordofobia”, desde 2014 até meados de 2022.

Todas essas situações dificultam o tratamento da obesidade e reforçam a importância de um acompanhamento psicológico para que os resultados sejam obtidos da melhor forma. Há também a questão de outros problemas de saúde como ansiedade, transtornos alimentares, depressão, entre outros que podem refletir no consumo excessivo de alimentos não saudáveis, o que acaba agravando a obesidade.

“A obesidade é uma doença crônica e multifatorial e está estreitamente ligada às questões de saúde mental. Sabemos que quanto mais grave é a obesidade, maior é a chance da pessoa ter, concomitantemente um quadro de transtorno do humor, como a depressão, ansiedade, transtornos de personalidade que podem ser desencadeados ou agravados pelo comprometimento da qualidade de vida que a própria obesidade gera. Por isso, quanto mais precocemente for iniciado o tratamento, melhor será o prognóstico”, conclui Andrea.

Sobre a ONG Obesidade Brasil

O Instituto Obesidade Brasil é a primeira organização sem fins lucrativos do mundo direcionada a pessoas com obesidade e surge com o objetivo de conscientizar e trazer informações claras e objetivas, sempre com mentoria científica, com linguagem acessível sobre obesidade, prevenção, diagnóstico, tratamento, novas tecnologias e direcionamento aos centros públicos e gratuitos de atendimento, ajudando da melhor forma possível.

A ONG foi fundada em fevereiro de 2020 para conscientizar pessoas de que a obesidade é uma doença multifatorial e crônica e conta com um Conselho Científico composto por especialistas colaboradores de todo o território brasileiro, de perfil multidisciplinar, que adota o conceito de saúde universal e trabalha para que todos tenham acesso à ajuda médica especializada.

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