Graças à perspicácia e à coragem da equipe de enfermagem do Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart (HMulher), em São João do Meriti, na Baixada Fluminense, o médico anestesista Giovanni Quintella Bezerra, de 32 anos, foi preso em flagrante nesta segunda-feira (11/7), acusado de estupro de uma mulher logo após ela dar à luz a uma criança na sala de parto.

A parturiente estava sob forte efeito de anestesia quando foi submetida pelo médico-monstro a abuso sexual dentro do centro cirúrgico, onde havia outras pessoas trabalhando. A cena foi registrada nesta madrugada por um celular usado por funcionários da equipe de enfermagem, que desconfiavam de movimentos estranhos feitos pelo médico durante a cesariana da paciente.

Eles conseguiram filmar o anestesista colocando o pênis na boca da paciente quando participava do parto dela – o ato durou cerca de 10 minutos. Ao final, ele ainda limpa o rosto da mulher para tentar disfarçar os sinais do estupro. Segundo profissionais da equipe, o médico costumava sedar demais as pacientes. Ele esperou o marido da vítima sair da sala de cirurgia com o bebê nos braços para cometer a violência

À TV Globo, a mãe da parturiente contou que ela estava inconsciente devido à sedação intensa. “Fica calma, relaxa, vai ficar tudo bem”, disse o médico à mulher, que estranhou porque voltou da sala de parto com a boca e o pescoço sujos. “Ela achava que era algum medicamento que tinha entornado”, contou a mãe.

Na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Meriti, o anestesista foi indiciado por estupro de vulnerável, cuja pena varia de 8 a 15 anos de reclusão. Em um vídeo do momento da prisão divulgado pelo G1, ele demonstra surpresa ao receber voz de prisão da delegada Bárbara Lomba e ao tomar conhecimento de que tinha sido gravado abusando da paciente.

Frascos do sedativo utilizado durante o parto foram apreendidos, e funcionários do hospital prestaram depoimento na delegacia. As investigações apuram se o médico teve outras condutas criminosas. Em nota ao mesmo portal, a defesa de Bezerra disse que se manifestaria após ter acesso a depoimentos e provas relacionados ao caso. Posteriormente, o advogado informou à BBC News Brasil que se retirou do caso.

Médico atuava em três hospitais públicos

Formado em 2017 pelo Centro Universitário Fluminense de Volta Redonda, no Sul Fluminense, Giovanni Quintella Bezerra não é servidor estadual, mas prestava serviço há seis meses como pessoa jurídica para os hospitais estaduais da Mãe, da Mulher e Getúlio Vargas, todos da rede estadual, conforme informou a Secretaria de Estado de Saúde (SES). Segundo a pasta, “ele tem título de especialista em anestesiologia e CRM regular”.

Logo pela manhã, a Secretaria e a Fundação Saúde divulgaram nota de repúdio à conduta do médico e se colocaram à disposição da polícia para colaborar com a investigação. Também informaram que será aberta uma sindicância interna para tomar as medidas administrativas cabíveis, além de notificação ao Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj).

Ainda de acordo com a nota, acionadas pela equipe médica da unidade, SES e direção do HMulher denunciaram o crime à Polícia Civil, que foi até a unidade e prendeu o médico em flagrante. As unidades estão em contato com a Polícia Civil para colaborar com as investigações. O caso chocou a opinião pública e causou revolta. Comissão de Defesa da Mulher da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) informou que vai convocar uma audiência especial para discutir o caso e classificou o médico de “monstro, covarde e violento”.

Cremerj: acusado pode ter registro cassado

Giovanni se formou em 2017 e concluiu especialização em Anestesiologia recentemente (Reprodução de internet)

O Cremerj informou recebeu as denúncias e abriu imediatamente um procedimento cautelar para suspensão imediata do médico, devido à gravidade do caso. Também está sendo instaurado processo ético-profissional, cuja sanção máxima é a cassação do exercício profissional do médico. Já o Conselho Federal de Medicina (CFM) informou que caberá defesa no caso.

A Sociedade Brasileira de Anestesiologia divulgou nota apontando a “perplexidade diante da conduta” praticada pelo médico. “Esse tipo de comportamento deve ser punido com o mais absoluto rigor por parte das autoridades competentes e demais entidades médicas, as quais têm o dever de zelar pela boa prática da medicina”.

O órgão informou que convocou uma reunião extraordinária da Diretoria nesta segunda-feira para deliberar sobre a instauração imediata de sindicância para apurar os fatos, observados os direitos do médico à ampla defesa e ao contraditório, à luz do Código de Conduta Profissional da SBA.

“Atitudes como essas são absolutamente inaceitáveis e jamais serão toleradas pela SBA”, que “tem o dever institucional de zelar pela boa prática do ato anestésico e da segurança do paciente, em estrita observância aos princípios morais, éticos e legais”, finalizou.

‘Ato covarde e criminoso em momento sublime’

À noite, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos também soltou uma nota manifestando seu repúdio ao caso e prestando solidariedade à vítima. De acordo com a pasta, “o abusador aproveitou-se da vulnerabilidade da vítima – e da relação de confiança médico-paciente – para praticar um ato covarde e criminoso, justamente no momento mais sublime para uma mulher, que é a maternidade”.

“Esperamos punição exemplar em todos os meios, administrativo e judicial, para que o criminoso nunca mais exerça a profissão e seja condenado, nos termos da lei. Vamos acompanhar o caso. Agora, essa mãe e essa família vão precisar de atendimento para superar o trauma, para recuperarem-se da violência sofrida num momento que deveria ser somente de alegria”, diz a nota.

O Ministério colocou-se à disposição da mãe, caso necessitem de apoio, e parabenizou as enfermeiras e técnicas do Hospital da Mulher “pelo ato de coragem de filmarem e denunciarem imediatamente a conduta criminosa”. Aind agilidade permitiu a prisão em flagrante do anestesista, que agora será levado à Justiça.

Como denunciar casos como este

A pasta informou ainda que “qualquer cidadão pode denunciar esse tipo de violência no Ligue 180, hoje também disponível no aplicativo Direitos Humanos Brasil, no Telegram ‘direitoshumanosbrasilbot’ ou no whatsapp (61) 99656-5008, 24 horas por dia, sete dias por semana, inclusive finais de semana e feriados.

Nos canais digitais é possível enviar fotos, vídeos, áudios ou documentos que comprovem o abuso. Mas nenhuma prova é necessária. Orientamos a denúncia ao menor sinal de desconfiança e garantimos o anonimato. As informações serão encaminhadas aos órgãos competentes.

Com Assessorias, G1 e BBC Brasil

 

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