O passo principal para que órgãos e tecidos sejam doados após a morte é conversar com a família e deixar claro o desejo de ser doador. A doação só ocorre mediante a autorização dos parentes próximos. Rins, pâncreas, córneas, válvulas cardíacas, pele, osso, coração, esclera (o branco do olho), pulmão e fígado são possíveis de serem transplantados. As histórias de famílias que doaram órgãos de parentes ganham materialidade e simbolismo nas mudas plantadas nos jardins.

Em 2013, o psicólogo Luiz Antônio da Silva teve a ideia de criar um jardim para acolher e confortar famílias que decidem doar órgãos de parentes. Assim surgiu o Jardim do Doador do Hospital Estadual Alberto Torres (HEAT), em São Gonçalo. Por meio do plantio de mudas de jasmim, o projeto busca transmitir a mensagem de que a doação, da mesma forma que as plantas, pode dar frutos e flores. A iniciativa inspirou a abertura, na última sexta-feira (23), do Jardim do Doador de Órgãos do Hospital Estadual Roberto Chabo, em Araruama.

“Quando uma família diz ‘sim’ à doação de órgãos, ela proporciona uma segunda chance de vida para outras pessoas. E para eternizar esse ato de amor, foi criado o jardim. É um espaço reservado para as famílias, simbolizando a coragem que elas tiveram ao decidir pela doação de órgãos. É um espaço onde a sociedade pode se afagar e se alentar, num momento tão complexo para todos nós”, diz o psicólogo.

Para a técnica de enfermagem Renata de Oliveira, de 46 anos, visitar a muda de jasmim plantada no espaço em São Gonçalo, há cerca de um ano, por ela, pelas duas filhas e pela neta, é uma oportunidade de se sentir em contato com o filho Pedro. Ela conta que a iniciativa da doação de órgãos partiu dela, que recebeu apoio e acolhimento da equipe do hospital quando o filho morreu após um acidente de moto, em agosto de 2021.

“Com seus órgãos, ele salvou oito vidas e, com a pele, ajudou umas 50 pessoas. É a continuação da vida. Ele não está mais com a gente, mas sabemos que ainda está fazendo o propósito dele, porque todos nós temos um propósito na vida. É aquela sensação de que a vida continua. A consciência de que ajudamos outras famílias”, disse Renata, que ficou emocionada ao ver o pé de jasmim crescido depois de 12 meses.

Retomada dos transplantes aos patamares anteriores à pandemia

Setembro encerra com o verde da esperança, com a retomada dos transplantes aos patamares anteriores à pandemia no Estado do Rio de Janeiro. De janeiro a julho deste ano, já foram realizados 1.528 transplantes, o que corresponde a 61,5% do total feito em 2019. De janeiro a julho de 2022, foram realizados 1.528 transplantes, sendo 491 órgãos sólidos, 102 de medula óssea, 308 de córnea, 55 de esclera e 572 tecidos músculo esqueléticos.

Em todo o ano de 2021, foram 2.468 transplantes, número superior ao registrado em 2020, que fechou em 1.936, o mais baixo da série, especialmente após a recomendação do Ministério da Saúde para adoção de critérios mais rigorosos para evitar o contágio do coronavírus. Em 2019, 2.481 transplantes foram registrados.

Com o objetivo de diminuir o tempo de espera e potencializar o número de doações, a campanha Setembro Verde, alusiva ao Dia Nacional da Doação de Órgãos, comemorado nesta terça-feira (27), vem promovendo ações de conscientização. Entre elas, a iluminação em verde do Monumento ao Cristo Redentor, na noite desta terça-feira (27).

Novos centros transplantadores no estado

O Programa Estadual de Transplantes, vinculado à Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, é responsável por todo o processo de doação e transplantes de órgãos, além de capacitação da rede de apoio, tornando-se referência no país. Para isso, segundo a SES, foram adotadas estratégias como credenciamento de novos centros transplantadores, treinamento de equipes transplantadoras, capacitação para melhorar o acolhimento às famílias enlutadas e a sensibilização da população para a doação de órgãos.

O programa investiu, ainda, na implantação de três Coordenações Intra-Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes com dedicação exclusiva, que funcionam no Hospital Estadual Getúlio Vargas, no Hospital Estadual Alberto Torres e no Hospital Adão Pereira Nunes. Além disso, há 80 comissões instituídas em outros hospitais públicos e privados.

Esta iniciativa proporcionou um contato direto entre os médicos que cuidam de possíveis doadores e os familiares desses pacientes. As medidas fizeram com que o estado saísse dos últimos lugares do ranking nacional para ocupar as primeiras colocações, ocupando atualmente o terceiro lugar em doação em número absoluto no país.

Mais informações podem ser obtidas pelo Disque Transplante 155.

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