Comemorado no último domingo de janeiro, o Dia Mundial da Hanseníase, que neste ano acontece no dia 26, busca conscientizar as pessoas sobre a enfermidade. No Brasil, a data também é marcada pelo Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase. No primeiro mês do ano, o Brasil assim como muitos países, destacam o Janeiro Roxo em alerta para o combate à doença infecciosa crônica, causada pelo bacilo Mycobacterium leprae.

A hanseníase é considerada um problema de saúde pública no Brasil, especialmente em algumas regiões que apresentam altas taxas de incidência. O Brasil tem enfrentado nos últimos anos, um desafio persistente no controle da hanseníase e ainda registra um número significativo de novos casos anualmente. É o segundo país em prevalência de hanseníase, atrás apenas da Índia, e responde por 9 em cada 10 casos da doença nas Américas.

Nos últimos dez anos, o Brasil registrou quase 245 mil novos casos da doença. De acordo com o Boletim Epidemiológico de Hanseníase do MS, publicado em janeiro de 2024, o Brasil registrou 22.773 novos casos de hanseníase em 2023, um aumento de 4% em relação a 2022. Em 2024, os casos já haviam mais de 14.400 até setembro de 2024.

O Ministério da Saúde faz campanhas de conscientização e rastreamento, mas as taxas de detecção continuam elevadas, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.  A doença, entretanto, não escolhe região nem classe social. Em Ribeirão Preto (SP), por exemplo, também existem desafios nesse contexto.

Em 2023 houve um aumento do número de novos casos, em relação a 2022. Esse aumento é preocupante, uma vez que a detecção precoce é fundamental para evitar a evolução da doença e suas sequelas. A taxa de detecção embora menor em comparação com outras regiões do Brasil, ainda é significativa e aponta para a necessidade de um trabalho mais efetivo na vigilância e na educação em saúde.

Janeiro Roxo é importante para combater o preconceito

A hanseníase é uma doença infecciosa e contagiosa que atinge a pele, mucosas e o sistema nervoso periférico, ou seja, nervos e gânglios. Embora tenha cura, pode causar lesões e danos neurais irreversíveis se não for diagnosticada a tempo e tratada de forma adequada.  É uma das doenças mais antigas que se tem registros e até hoje carrega os estigmas do seu passado.

Apesar de ser marcada pelo forte preconceito, alimentado pela desinformação, a doença tem tratamento, disponível gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e deixa de ser transmissível com o manejo adequado.

De acordo com especialistas, o preconceito em relação à hanseníase ainda é um problema significativo, apesar dos avanços no diagnóstico e tratamento. Na história da enfermidade ela foi associada a vários termos pejorativos como ‘lepra’ e estabelecido um isolamento compulsório dos pacientes.

Esse estigma tem raízes históricas, culturais e sociais, e pode causar impactos negativos na vida dos pacientes, como isolamento social, discriminação e atraso na busca por atendimento médico. Muitas pessoas ainda acreditam erroneamente que a hanseniase é altamente contagiosa e que não existe cura, o que gera medo e discriminação”, destaca a dermatologista Ana Elisa Mendonça.

Por tudo isso, ela ressalta a importância do Janeiro Roxo. “A iniciativa busca informar a população sobre a transmissão da doença, seus principais sinais e sintomas, a sua forma de tratamento e reforçar que a hanseníase é curável. A campanha tem o objetivo de destacar a importância do diagnóstico precoce e tratamento imediato para interromper a cadeia de transmissão e também, para evitar complicações e sequelas. A conscientização é o primeiro passo para eliminar a doença e garantir mais saúde e dignidade para todos”.

De acordo com a médica Gabriela Morales, a hanseníase é uma doença que afeta a pele, nervos periféricos, mucosas e olhos, levando a incapacidades físicas e a marginalização social. “Apesar de ter cura com a administração de poliquimioterapia, a falta de informação e o preconceito ainda dificultam o reconhecimento e o tratamento precoces”, afirma a médica. 

O tratamento é gratuito e disponível na rede pública de saúde, mas a conscientização sobre a doença ainda precisa ser ampliada para que mais pessoas procurem atendimento. Daí a importância do Janeiro Roxo. “O objetivo da campanha é conscientizar a população sobre formas de contágio, tratamentos e importância do diagnóstico precoce. Por isso é importante sempre ficarmos atentos e procurar um profissional sempre que necessário”, afirma a médica.

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Sintomas da hanseníase

A transmissão ocorre, principalmente, por meio de secreções respiratórias de indivíduos infectados, sendo mais comum em locais com muitas pessoas e condições inadequadas de sociabilidade. Os sintomas iniciais, que incluem manchas na pele, perda de sensibilidade e fraqueza muscular, são frequentemente minimizados, resultando em diagnósticos tardios.

Na pele pode manifestar-se com manchas hipocrômicas (esbranquiçadas) ou avermelhadas com alteração de sensibilidade térmica (calor/frio), tátil (ao toque) ou dolorosa no local da lesão. Pode apresentar edema, placas infiltradas ou nódulos localizados principalmente na face ou nos lóbulos das orelhas. Diminuição do suor e de pelos nas áreas afetadas.

Pode-se observar espessamento, dor ou hipersensibilidade em nervos como ulnar, radial, tibial, fibular. Dormência ou formigamento de mãos e pés. Perda de sensibilidade térmica, tátil e dolorosa ocasionando ferimentos e queimaduras indolores nas mãos e pés. Distúrbios motores nas mãos e pés ocasionando mão em garra e pé caído”, explica a  dermatologista Ana Elisa Mendonça.

Resistência natural

Essa enfermidade é transmissível, mas a especialista explica que muitos têm uma resistência natural à ela. A transmissão da hanseníase ocorre por contato direto, prolongado e íntimo com uma pessoa infectada e sem tratamento. A doença é transmitida principalmente por meio de gotículas respiratórias como espirros ou tosse de uma pessoa infectada.

Ela tem uma alta infectividade, mas cerca de 90% das pessoas infectadas não desenvolvem a doença, devido a uma resistência natural ao bacilo ocasionado pela interação da resposta imune da pessoa contra o bacilo. Assim, o desenvolvimento da doença depende da resposta imune do hospedeiro, a resistência natural ao bacilo tem relação com condições genéticas”, pontua.

Tratamento da doença

Ana Elisa Mendonça detalha como é o tratamento da hanseníase. Ele é feito com um esquema de combinação de medicamentos chamada poliquimioterapia única (PQT- U), que associa alguns fármacos. A duração do tratamento varia de 6 a 12 meses.

Na hanseníase paucibacilar (menos que cinco lesões) preconiza o tratamento por seis meses e na hanseníase multibacilar (mais que cinco lesões) tratamento por 12 meses. O esquema é fornecido gratuitamente pelo SUS e é eficaz para curar a doença, prevenir complicações e interromper a transmissão. É importante que o diagnóstico seja feito e o tratamento instituído o mais rápido possível para interromper a cadeia de transmissão”.

Com Assessorias

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