Por Rosane Chene*

“Você faz trabalho voluntário?” De acordo com a ‘Pesquisa Voluntariado no Brasil 2021’, do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS) em parceria com o Data Folha, cerca de 57 milhões de brasileiros realizam alguma atividade voluntária no país. Desse total, 74% têm como principal motivador para sua atuação a solidariedade, mas somente 12% deles (20 milhões) fazem trabalho voluntário de forma contínua

O voluntariado faz parte da história do nosso país e nasceu praticamente com sua fundação, com criação da Santa Casa de Santos, em 1543. Nesse processo muita coisa mudou. A atividade do voluntariado foi regulamentada, organizações se multiplicaram e ocupam todos os espaços na nossa sociedade

Na pandemia da Covid-19, o mundo todo sofreu com o impacto devastador de um vírus que só no Brasil ceifou mais de 600 mil vidas. Nesse período triste, o voluntariado exerceu papel essencial que inclusive refletiu no aumento da procura por ações sociais. Em 2021, por exemplo, a atividade se voltou para famílias, comunidades em situação de vulnerabilidade e pessoas em situação de rua. Tendo esse último grupo, saltado de 5% para 25% como público principal dessas ações

Sem dúvida, o voluntariado em inúmeros episódios críticos da sociedade moderna foi fundamental, mas sabemos que mesmo com quase meio milênio de história, a atividade possui raízes profundas no assistencialismo ou na chamada ‘solidariedade pontual’

Com a aproximação das festas de final de ano, especialmente do Natal, isso fica mais perceptível. É nessa época que temas como solidariedade e a empatia ficam ainda mais latentes. É comum nesse período do ano também encontrarmos empresas e organizações que se voluntariam em ‘festas de Natal’ de inúmeras ONGs ou pessoas que se voluntariam para ser, por um dia, o Papai Noel de alguma criança

Todas essas ações são importantes para a população que mais precisa — marca que atinge hoje no país mais 63 milhões de pessoas – entretanto os mais pobres precisam de oportunidades e possibilidades o ano inteiro. Mas, como mudar esse modus operandi e converter a solidariedade pontual em transformação social

Em primeiro lugar, é importante compreender que assistencialismo e justiça social não são sinônimos. Realizar uma doação seja ela financeira, de alimentos, objetos e outros, é extremamente importante, mas ela promove a mudança pontual e não combate a causa estrutural do problema

A justiça social, por outro lado, consiste no compromisso contínuo em minimizar as desigualdades sociais de forma estrutural construindo assim, uma sociedade de todos para todos

Um bom exemplo, de atuação junto à justiça social são a de ONGs como o Projeto Amigos da Comunidade (PAC), que há 19 anos conta com voluntários para tornar possível seus projetos e realiza periodicamente formações e palestras por meio da iniciativa ‘Voluntariado 4.0’, a fim de promover trocas, convivências e oportunidade de entender de maneira profunda outras realidades

Outra possibilidade para o voluntário é a criação de grupos, em que para promover a atuação contínua se estabelece um revezamento, ou seja, cada semana um grupo de voluntários participa. Essa é uma maneira simples, mas eficaz de promover a transformação social adequando as demandas dos envolvidos

No caso das empresas, elas devem estar comprometidas com às premissas do ESG sigla em inglês para environmental, social and governance (ambiental, social e governança), ampliando a responsabilidade social e tendo o voluntariado como parte da cultura da organização, valorizando os colaboradores que participam dos programas de voluntariado e incentivando os demais. É também uma forma de devolver à sociedade os benefícios e os lucros que acumulam no país.

Rosane Chene, empreendedora social e diretora da ONG PAC (Foto: Divulgação)

A verdade é que a transformação social demanda esforços coletivos e não cabe a individualização das ações. O voluntário é um dos fios condutores dessa mudança e é por meio da ação constante que teremos a construção de uma sociedade igualitária como objetivo ordinário não extraordinário.

*Empreendedora social e diretora da ONG PACProjeto Amigos da Comunidade, que há 19 anos conta com voluntários para tornar possível seus projetos.

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