Aos 30 anos, a cientista e pesquisadora Danielle Ianzer começou a perceber alguns sintomas estranhos em seus movimentos. Durante seis anos, foram várias visitas a diferentes médicos, muitos exames e alguns diagnósticos errados. Até que o quinto neurologista identificou o que ela tinha. Danielle sofria de Parkinson, um mal que acomete, em sua maioria, pessoas acima de 65 anos, mas que em parte dos casos pode afetar pessoas mais jovens.

Mesmo sendo a segunda doença neurodegenerativa em número de casos, ficando atrás somente do Alzheimer no Brasil, o Parkinson ainda é associado a uma ‘doença de idosos’. No entanto, dados publicados em revistas cientificas indicam que cerca de 10% dos diagnósticos são em pessoas com menos de 45 anos. É o chamado Parkinson de Início Precoce ou Parkinson jovem.

Dois exemplos midiáticos do Parkinson precoce são do ator norte-americano Michael J. Fox, diagnosticado com 29 anos e do boxeador também norte-americano Muhammad Ali, que descobriu a doença quando tinha 42 anos, vindo a falecer em 2016.

Projeto esclarece sobre a doença

Para combater a falta de informação da doença entre pessoas mais jovens, Danielle Ianzer criou em 2014 o projeto Vibrar Parkinson. O site vibrarcomparkinson.com é repleto de informações sobre a doença, além direcionar para as redes sociais do projeto e também para o canal no YouTube.

O Vibrar Parkinson realiza palestras e seminários para pacientes, familiares e cuidadores com a presença de profissionais especializados no tratamento da doença.

Por seu caráter degenerativo, o tempo é um aliado importante no tratamento do Parkinson. A demora no diagnóstico favorece a evolução da doença e prejudica a qualidade de vida do paciente. Por esse motivo o projeto Vibrar Parkinson é tão significativo, visando informar a todos, inclusive jovens.

A proposta de Danielle Ianzer também inclui auxiliar familiares e cuidadores dos pacientes com Parkinson, contribuindo com a manutenção de seu bem-estar e da sua qualidade de vida, explica a cientista.

Doença afeta até 600 mil brasileiros

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a doença acomete 1% da população mundial – cerca de cinco milhões de pessoas. A estimativa é que somente no Brasil afete entre 200 mil e 600 mil pessoas, de acordo com algumas fontes. A doença acelera o envelhecimento dos neurônios responsáveis pela movimentação. Com isso, pode ter diferentes sinais, sendo os principais: lentidão, tremores, rigidez e alteração postural.

Várias partes do corpo são afetadas, mas o problema atinge com mais intensidade as áreas do cérebro que controlam os movimentos voluntários. Isso gera sérias dificuldades na execução das atividades rotineiras, como caminhar e segurar objetos.

Ainda sem cura, a doença possui tratamento com medicamentos, atividades físicas e terapias. Em alguns casos um procedimento cirúrgico pode ser necessário. O Parkinson pode se manifestar de diferentes maneiras e em todas as idades, por isso, a visita à um médico neurologista é sempre recomendada.

De acordo com o neurocirurgião Antônio de Salles, do HCor (Hospital do Coração), esta doença acontece, geralmente, em pessoas com idade acima dos 50 anos, mas pode acontecer de forma precoce em alguns casos.

“Embora tais números sejam preocupantes, informações sobre o problema em si e os métodos de tratamento disponíveis ainda são pouco conhecidos no país”, afirma a neurocirurgiã do HCor, Alessandra Gorgulho.

Dia Mundial de Conscientização

A doença foi descoberta por James Parkinson em 1817, sendo chamada de paralisia agitante. Anos após a morte do médico, o neurologista Jean-Martin Charcot homenageou o médico, sugerindo o nome de Doença de Parkinson. A tulipa foi definida como simbolo da doença de Parkinson porque um floricultor holandês, como homenagem, nomeou de Dr. James Parkinson uma nova variedade de tulipa vermelha.

O dia 11 de abril foi escolhido como Dia mundial da Doença de Parkinson. A data é importante para informar como diagnosticar e tratar a doença, além de desconstruir conceitos enganosos sobre o Parkinson. Um desses conceitos é de que o Parkinson é uma doença que atinge somente idosos.

De acordo com o neurologista Marcus Vinicius Della Coletta, secretário do Departamento Científico de Transtornos do Movimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), os pacientes precisam entender que esta é uma enfermidade crônica e que eles necessitarão de tratamento constante.

Os portadores da doença não devem nunca abandonar os cuidados e orientações médicas”, destaca. Ele também ressalta a importância de terapias como fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional n o controle da doença. “O Parkinson não tem cura, mas pode ser controlado”, afirma Dr Marcus.

Conheça algumas celebridades que sofrem ou sofreram de Parkinson

Nem sempre o tremor é o primeiro sintoma

A Doença de Parkinson é uma doença degenerativa do sistema nervoso central, crônica e progressiva. Doentes de Parkinson sofrem uma degeneração na região do cérebro chamada Substância Negra, que causa  uma diminuição intensa da produção de dopamina, que é um importante neurotransmissor – substância química que ajuda na transmissão de mensagens entre as células nervosas. É a dopamina que controla os movimentos finos e coordenados das pessoas

Os sintomas motores mais comuns são tremor de repouso, rigidez muscular, bradicinesia (lentidão nos movimentos) e alterações posturais, incluindo desequilíbrio e maior rigidez muscular. Entretanto, manifestações não motoras também podem ocorrer, como: comprometimento da memória, depressão, alterações do sono e distúrbios do sistema nervoso autônomo. A evolução dos sintomas é usualmente lenta, e variável em cada caso.

Além dos problemas motores mais conhecidos, várias manifestações não motoras podem surgir à medida que a doença progride. “É importante observar os primeiros sinais que podem aparecer entre 10 e 15 anos antes dos sintomas se evidenciarem.  Em muitos casos, o primeiro sinal de Parkinson não é o tremor, pode ser uma rigidez no corpo, dificuldades de movimentação, como entrar ou sair do carro ou de rolar na cama, diminuição do balanço em um dos braços. Procurar um médico é fundamental para o diagnóstico”, alerta  o neurologista André Lima, diretor da Clinica Neurovida.

Diagnóstico precoce retarda progresso da doença

Apesar dos avanços científicos, a doença ainda continua incurável, é progressiva (evolução variável em cada paciente) e a sua causa ainda é desconhecida. Apesar de não ter cura, com o tratamento tem melhora dos sintomas, não apenas combatendo-os, como também retardando o seu progresso.

Segundo Dr Marcus é vital o início do tratamento assim que surgem os primeiros sintomas, pois o controle da doença preserva a qualidade de vida do paciente. “O diagnóstico deve ser feito por um neurologista e é basicamente clínico, faz-se analisando os sintomas, as formas de evolução, a história de outras doenças associadas e o histórico familiar”, afirma o médico.

Embora ainda não tenha cura, existem tratamentos que visam reprimir o seu avanço. Segundo André Lima, é importante que se descubra a doença logo no início, nas primeiras fases, já que, dessa maneira, aumentam as possibilidades de conter a sua evolução melhorando a qualidade de vida do paciente. Ainda não existem exames para diagnóstico de Parkinson. O diagnóstico é clinico. Os exames são de exclusão para outras doenças que podem apresentar os mesmos sintomas.

Tratamento deve ser multidisciplinar

Ainda sem cura, a doença pode ser tratada com diferentes abordagens que incluem: medicamentos, cirurgia, terapias, atividade física. O Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas sobre Parkinson, criado em 2002, atualizado em 2010 e 2017, estabelece o tratamento multidisciplinar., com profissionais como nutricionistas, fisioterapeutas, neurologistas, fonoaudiólogo e psicólogo.

O documento também apresenta os diversos sinais e sintomas da doença. s pacientes devem realizar exercícios de alongamento, mobilização, motores e de força muscular. Também devem ter uma alimentação de qualidade para proporcionar bem estar e melhor qualidade de vida. A fisioterapia é fundamental para a reabilitação do paciente.

Um tratamento com uma fonoaudióloga também é muito importante para retardar e tratar os problemas com a fala, voz e deglutição que aparecem com a doença.

O melhor a fazer a fim de retardar a evolução da doença é praticar exercícios físicos, evitar a hipertensão arterial, controlar a diabetes, não fumar e ter uma vida saudável”, afirma André Lima.

Atendimento garantido no SUS

Atualmente, no Brasil há 27 estabelecimentos habilitados em Neurocirurgia Funcional Estereotáxica 105/008 (método minimamente invasivo de cirurgia cerebral) pelo Ministério da Saúde, sendo dois habilitados como Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Neurologia/Neurocirurgia e 25 habilitados como Centro de Referência de Alta Complexidade em Neurologia/Neurocirurgia.

O SUS oferece ainda os procedimentos de implante de eletrodo e implante de gerador de pulsos, ambos para estimulação cerebral. Na lista de materiais especiais, também constam o conjunto de eletrodo e extensão, além do gerador para estimulação cerebral.

Nova medicação

O Ministério da Saúde atualizou recentemente o Protocolo de Tratamento para Parkinson. Entre as novidades terapêuticas está a indicação dos medicamentos Rasagilina (1mg) e Clozapina (25mg e 100 mg). A oferta dos fármacos tem como objetivo proporcionar mais qualidade de vida aos pacientes com transtornos associados à doença. A Rasagilina foi incorporada em agosto de 2017.

O medicamento promove a melhora da evolução clínica dos pacientes que iniciaram o medicamento na fase inicial da doença. A Clozapina já era oferecida no SUS para tratamento de transtorno bipolar e esquizofrenia, e agora passa a ser ofertada também para controle de sintomas psicóticos das pessoas com Parkinson.

O SUS já ofertava acesso a sete medicamentos para tratamento da doença: Pramipexol; Amantadina; Bromocriptina; Entacapona; Selegilina; Tolcapona e Triexifenidil. Ainda existem outros três medicamentos (Levodopa+Carbidopa, Biperideno e Levodopa), que são ofertados por meio do Programa Farmácia Popular. Esses medicamentos podem ser retirados com até 90% de desconto.

Novidades em tratamento: marca-passo cerebral

Apesar de ser degenerativa e de não ter cura, a doença de Parkinson possui alternativas de tratamento capazes de auxiliar os portadores da doença a retomar o controle de seus movimentos. Para controlar os sintomas, são utilizados medicamentos, que ajudam a repor a dopamina, e outras substâncias necessárias para a estimulação nervosa e controle dos movimentos.  Entre elas está o implante do chamado marca-passo cerebral.

Esta técnica é inovadora e tem obtido sucesso em conter o avanço dos sintomas da doença e proporcionar melhor qualidade de vida aos pacientes que chegam a obter uma melhora de até 90% após a cirurgia, dependendo de seu estado de saúde”, revela o Dt De Salles, responsável pela aplicação da técnica dentro do HCor.

Neuromodulação ajuda pacientes

Outra técnica que vem sendo empregada é a neuromodulação, que consiste na aplicação de um campo elétrico ou magnético que modifica e modula o Sistema Nervoso Central ou Periférico. Segundo a fisioterapeuta e sócia do Centro de Excelência em Recuperação Neurológica (CERNE), Mariana Carvalho Krueger, a técnica é utilizada no tratamento de pacientes com dores crônicas, como Doença de Parkinson, Acidente Vascular Encefálico (AVE), traumatismo raquimedular e traumatismo cranioencefálico, esclerose múltipla, paralisia cerebral e autismo.

A prática se dá por meio da aplicação de corrente contínua de baixa intensidade sobre o crânio, a qual é capaz de gerar excitabilidade ou inibição cortical e, assim interferir no desempenho de diferentes funções neurológicas. Desta forma, o procedimento pode influenciar as funções motoras, sensoriais e cognitivas. Já os efeitos dependem principalmente da polaridade de corrente aplicada, da intensidade, do tempo de aplicação, da área estimulada e da densidade desta corrente.

Segundo a fisioterapeuta, o procedimento das duas correntes tem sido utilizado com resultados positivos na recuperação motora e principalmente na instabilidade postural de pacientes que enfrentam a doença de Parkinson,  na espasticidade e aprendizado motor pós AVC, depressão e para melhora da memória e das habilidades motoras e cognitivas. Em nenhum dos casos é preciso raspar o cabelo do paciente. “No caso da EMT, como é preciso acoplar perfeitamente a bobina na região e mantê-la imóvel durante a aplicação, poderá ser usada uma toca, que impede a bobina de escorregar”, explica Mariana.

Tipos de estimulação transcraniana

A Estimulação Transcraniana por Corrente Contínua (ETCC) consiste na aplicação de correntes contínuas de baixa intensidade (de 1 a 2 mil ampéres) por meio de eletrodos colocados sobre o couro cabeludo, para aumentar ou inibir a atividade elétrica de determinadas áreas do cérebro e, desta forma, modular a excitabilidade cortical e interferir no desempenho de diferentes funções.

O aparelho é constituído basicamente por quatro componentes principais: eletrodos (ânodo e cátodo), amperímetro (medidor de amplitude de corrente elétrica), potenciômetro (componente que permite a manipulação da amplitude da corrente) e baterias para gerar a corrente aplicada. “A técnica é indolor, o paciente sente apenas um leve formigamento no local”, destaca a fisioterapeuta.

Já a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) utiliza os princípios da indução eletromagnética para produzir correntes iônicas focais no cérebro de indivíduos conscientes. A corrente induzida tem a capacidade de despolarizar neurônios ou modular a atividade neural. O estimulador magnético é composto por duas unidades principais, uma bobina e um gerador de corrente.

Para interferir na atividade neuronal, a bobina deve ser posicionada sobre o escalpo do indivíduo e direcionada para a área de interesse. A mudança constante da orientação da corrente elétrica dentro da bobina é capaz de gerar um campo magnético, induzindo correntes elétricas em áreas corticais, as quais podem despolarizar neurônios e gerar potenciais de ação que fazem a neuromodulação.

Do estagiário Andrei Felipe, estudante de Jornalismo do 6º período da Facha, sob supervisão e edição da jornalista Rosayne Macedo, editora do ViDA & Ação

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