Cada mulher menstrua cerca de 400 a 500 vezes durante a vida, apesar disso a menstruação ainda é um tabu. Uma pesquisa realizada pela Sempre Livre em parceria com a KYRA Pesquisa & Consultoria, mostrou que 22% das meninas de 12 a 14 anos não têm acesso a produtos higiênicos adequados para a menstruação a no Brasil. Esse número sobe para 26% quando consideradas adolescentes de 15 a 17 anos.

A chamada pobreza menstrual é um problema de saúde pública que afeta milhões de mulheres em todo o mundo. O termo corresponde à falta de condições de higiene menstrual de forma adequada, o que se deve à ausência de itens básicos, como absorventes, assim como à falta de informações e conhecimento a respeito do tema, entre outros fatores.

No Brasil, o problema atinge especialmente as mulheres em situação de vulnerabilidade social, como aquelas que vivem em comunidades carentes e em situação de rua. Segundo estudos recentes do Instituto Kyra, a pobreza menstrual no Brasil atinge 28% das pessoas de baixa renda na faixa etária entre os 14 e os 45 anos, o equivalente a 11,3 milhões de habitantes. Uma parcela de 40% dessas mulheres se encontra na faixa etária entre os 14 e os 24 anos.

O Dia da Dignidade Menstrual, celebrado neste domingo, 28 de maio, foi criado em 2014 pela ONG alemã WASH United para promover educação menstrual para a sociedade e ações positivas relacionadas à menstruação. No Brasil, a efeméride lança luz sobre um tema que vem ganhando o noticiário e conquistando a sociedade nos últimos anos: a luta contra a pobreza menstrual.

Saúde íntima em risco

Além da falta de acesso a produtos de higiene menstrual, como absorventes, a falta de informação e o estigma social que cercam a menstruação podem acarretar sérias consequências para a saúde física e mental das mulheres e meninas, muitas vezes limitando sua participação na educação, trabalho e sociedade em geral.

Os números do problema no Brasil demonstram claramente a dificuldade destas mulheres em comprar absorventes e outros produtos de higiene menstrual, o que pode levá-las a soluções alternativas precárias, como o uso de papel higiênico, tecidos ou até mesmo materiais insalubres, aumentando o risco de infecções e outros problemas de saúde.

Estudo da Unicef revela que a pobreza menstrual tem forte impacto na saúde da mulher, que acaba contraindo infecções vaginal e no aparelho reprodutor ao substituir absorvente por itens como toalhas, panos, papel higiênicos e jornais, que são mais suscetíveis de contaminação bacteriana.

E no caso das adolescentes, a falta de acesso a produtos de higiene pessoal também causa constrangimento que afeta no desempenho escolar, e consequentemente limita as oportunidades de desenvolvimento profissional. Entre as adolescentes, uma das consequências da pobreza menstrual é a evasão escolar.

Problema também atinge seis em cada dez jovens homens trans e não binários

  • A pobreza menstrual cada vez mais desperta atenções e estimula debates e iniciativas no Brasil. Contudo, esse problema não atinge somente mulheres cisgênero. Também há quem não tenha (ou já não tenha tido) as condições ideais financeiras, de infraestrutura e conhecimentos para lidar com a menstruação entre as pessoas transgênero e não binárias – que compõem 2% da população brasileira, segundo estudo da Unesp.
  • Pesquisa feita pelo Espro (Ensino Social Profissionalizante) junto a adolescentes e jovens de 15 a 23 anos de idade em todo o Brasil, em 2022, constatou que seis em cada dez jovens homens trans e não binários que menstruam já permaneceram mais tempo do que o indicado com o absorvente para economizar dinheiro.

Outros achados da pesquisa do Espro a respeito de jovens trans e não binários que menstruam:

42% dos participantes desse grupo relataram já ter vivido uma situação de falta de dinheiro para comprar absorventes.

38% já faltaram a encontros, eventos e festas por não ter absorvente. Pelo mesmo motivo, 35% já faltaram à escola e 25% ao trabalho.

23% desses jovens nunca receberam orientação sobre menstruação e 42% só receberam algum tipo de orientação após a primeira menstruação.

O estudo do Espro sobre Pobreza Menstrual ouviu quase 3,7 mil jovens de 14 estados brasileiros. Desse total, 13 se declararam homens trans, com 68% afirmando que menstruam; por sua vez, 51 jovens se declararam pessoas não binárias, com 78% afirmando que menstruam.

Distribuição gratuita de absorventes e outras ações

Para enfrentar essa realidade, é fundamental que a sociedade como um todo se mobilize para garantir o acesso a produtos de higiene menstrual de qualidade, além de promover a educação sobre a menstruação e combater o estigma social associado a ela.

Alguns estados brasileiros estão criando legislações específicas obrigando os governos a distribuir absorventes higiênicos para a população feminina em situação de vulnerabilidade.

Empresas, organizações sociais e voluntários de todos os cantos do país vêm se mobilizando para ajudar milhares de mulheres brasileiras a enfrentar a pobreza menstrual.

Confira algumas iniciativas:

Agenda Positiva – Dignidade Menstrual

Menstruando Sem Tabus – A Cottonbaby tem feito sua parte para promover a conscientização sobre o tema e proporcionar através dos seus produtos o acesso a itens de higiene menstrual às mulheres que mais precisam, fazendo com que possam viver uma vida mais digna.

Por meio de parcerias com organizações sociais e governamentais, como o projeto “Menstruando Sem Tabus”, e outro no Colégio Municipal Maria Luiza de Melo, em São José , Santa Catarina, onde são entregues absorventes dentre outros produtos de higiene menstrual.

Distribuição de absorventes – A Ever Green, que produz descartáveis para cuidados pessoais, detentora das marcas Modess, Naturalmente e Definity, distribuiu 360 mil absorventes gratuitamente para a população carente e entidade sociais das duas cidades onde mantém unidades em São Paulo e no Ceará.

A unidade fabril de Maracanaú entregou para o município 120 mil absorventes Naturalmente, que vão beneficiar as mulheres de comunidades carentes da região.

Já na unidade da sede, São Bernardo do Campo/SP, foram entregues 240 mil absorventes, para serem distribuídos entre as mulheres assistidas pelo Fundo Social de Solidariedade da Prefeitura de SBC e pelas entidades Casa de Isabel – Centro de Apoio a Mulher e Instituto Escola do Povo.

 

Coleta de doações de absorventes no shopping Fashion Mall, no Rio (Foto: Divulgação)

Doações à Fluxo Sem Tabu – Para colaborar para no auxílio às pessoas em situação de vulnerabilidade que menstruam, a fashiontech AVA Intimates, que desenvolve pijamas e lingeries, e a Amai Woman, marca de absorvente orgânico, feito com matérias-primas naturais e zero plástico, se uniram numa ação de marketing social.

Entre os dias 15 a 31 de maio, as vendas do kit calcinha Ava e absorventes Amai terão 5% da renda revertida para a ONG Fluxo Sem Tabu, que atua no combate à pobreza menstrual fornecendo itens de higiene íntima para as camadas mais vulneráveis da sociedade e lutando pela democratização do acesso à informação sobre menstruação, higiene e corpo.

Coleta de absorventes em shopping – No Rio de Janeiro, o shopping Fashion Mall realiza uma campanha de arrecadação de absorventes até o final de maio. Quem deseja contribuir basta deixar a doação diretamente em uma das caixas coletoras instaladas no mall do empreendimento, dentro do horário de funcionamento do shopping.

A campanha social vai até o final de maio e os itens arrecadados serão destinados à ONG TamoJunto (@tmjrocinha), coletivo que atua desde 2014 em ações humanitárias na comunidade da Rocinha.

Pantys Protest – Aconteceu nesta quinta-feira, dia 25/05, em São Paulo, o Pantys Protest, que reuniu ativistas sobre o tema com objetivo de acabar com a pobreza menstrual até 2030.

O evento teve apoio da Coalizão pela Dignidade Menstrual, que trabalha na criação do primeiro Observatório para Dignidade Menstrual do país, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O Manifesto pela Dignidade Menstrual, criado pela marca de calcinhas Pantys, quer dar visibilidade a um problema de 550 milhões de pessoas que não têm acesso a produtos para menstruação. Para assinar a carta manifesto basta acessar o site neste link. Confira a galeria do evento aqui.

‘Sem medicalização e com dignidade’ – De 26 a 28 de maio, o 4º Encontro Latino Americano de Educação, Saúde e Ativismo Menstrual, realizado pelo braço de educação da Herself, a Escola de Menstruação, em São Paulo, reúne ativistas, profissionais da saúde, educadores e estudantes comprometidos em promover uma mudança significativa na forma como a menstruação é encarada e tratada pela sociedade.

Com o lema “Sem medicalização e com dignidade”, o encontro destaca a importância de desafiar estigmas, tabus e práticas que marginalizam a menstruação, além de promover uma perspectiva mais abrangente e inclusiva da saúde menstrual.

Semana da Emancipação  – A marca Intimus une-se à EcoCiclo em apoio ao programa “Embaixadoras da Menstruação e a “Semana da Emancipação Feminina”, evento online e gratuito, de 28 de maio a 3 de junho, com mais de 10 horas de conteúdo e 7 mesas redondas.

A programação contará com especialistas do país e vai falar sobre como a menstruação pode estar conectada a produtividade, planejamento, inovação, empreendedorismo, direito e muito mais. As mesas de debates poderão ser assistidas no YouTube, e as inscrições devem ser feitas em: Link

Com Assessorias

 

Shares:

Posts Relacionados

1 Comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *