Causa da morte de dois grandes ídolos do futebol brasileiro – Pelé e Roberto Dinamite – e enfrentado por celebridades como as cantoras Preta Gil e Simony, o câncer colorretal pode atingir pessoas independentemente de idade, gênero ou classe social. Mas cada vez tem sido mais identificado entre pessoas mais jovem, principalmente mulheres.

A jornalista Cristiane Rhoden, de 43 anos, sabe bem o que isso significa. Em 2020, em plena pandemia, teve o diagnóstico de câncer colorretal em estágio 3, quando o tumor já se disseminou para os linfonodos. Após exames de rastreamento, fez uma biópsia e o diagnóstico foi fechado pelo médico patologista. Ela passou por cirurgia, quimioterapia (tratamento sistêmico) e durante nove meses permaneceu ostomizada, com bolsa de colostomia.

Um período difícil que foi superado. Hoje, Cristiane coordena a TV Câmara de Erechim (RS) e faz o acompanhamento regular junto ao seu médico. “O corpo dá sinais e a gente tem que ficar alerta”, reforça a jornalista sobre os tumores que se iniciam na parte do intestino grosso chamada cólon, no reto, que corresponde ao final do intestino imediatamente antes do ânus, e no ânus.

A campanha Março Azul Marinho, em alusão ao Dia Nacional do Câncer Colorretal (27/3), é voltada para a prevenção e conscientização da doença. Sem considerar o câncer de pele, este é o terceiro tipo de câncer mais frequente do país, atrás apenas do câncer de próstata nos homens e do câncer de mama nas mulheres. Na Região Sudeste, já é o segundo tipo mais incidente entre os homens (28,62 casos por 100 mil), assim como no Centro-oeste (17,25 por 100 mil).

Maior mortalidade pela doença até 2030, diz Inca

No Brasil, a incidência e a mortalidade pela doença é maior em mulheres. Para os anos de 2023 e 2025 o Instituto Nacional do Câncer (Inca) projeta 45.630 casos – correspondendo a um risco estimado de 21,10 casos por 100 mil habitantes – , sendo 21.970 entre os homens e 23.660 casos entre as mulheres. Em 2020, do total de 20.245 mortes por câncer de cólon e reto (9,56 por 100 mil), foram 9.889 entre os homens e 10.356 em mulheres.

Artigo publicado na revista científica Frontiers in Oncology em 10 de janeiro de 2023, de autoria de pesquisadores do Inca, mostrou que a probabilidade de óbito prematuro por câncer colorretal na faixa etária de 30 a 69 anos pode ter um aumento de 10% até 2030.

Na análise de vários tipos de tumores, o câncer colorretal foi o que apresentou o maior aumento projetado nas cinco regiões do Brasil. O estudo traz também uma projeção da mortalidade por câncer no Brasil para o quinquênio 2026-2030, na comparação com o período base de 2011 a 2015.

Maioria dos casos é diagnosticada em fase avançada, alerta SBP

Para a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), o cenário atual é preocupante, pois 80% dos casos de câncer colorretal são diagnosticados em fase avançada, quando os tratamentos são mais invasivos. A entidade reportou uma queda de até 70% nos diagnósticos realizados em serviços de Patologia, durante a primeira onda da pandemia em 2020. Por isso, alguns casos de câncer estão sendo descobertos em estágios mais avançados.

Os exames de rastreamento, recomendados para todas as pessoas a partir de 50 anos, incluem o de sangue oculto nas fezes e, em caso positivo, a colonoscopia, que, caso mostre algo suspeito, permite aos médicos fazer biópsia já durante a sua realização.

“Quando diagnosticado nos estágios iniciais, o câncer tem boas possibilidades de cura. A indicação do rastreamento precoce, por meio da colonoscopia, exame de imagem, antes dos 50 anos, depende da história pregressa familiar. Por isso é sempre bom conversar com o médico gastroenterologista que fará a melhor indicação”, afirma Clóvis Klock, presidente da SBP.

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Ele explica que, na maioria das vezes, o câncer colorretal se desenvolve a partir de pólipos, que são lesões benignas que crescem na parede do intestino. Significa dizer que com a retirada do pólipo, evita-se que se torne um câncer. O cuidado maior é quando são detectados pólipos adenomatosos (adenomas), pois estes podem se tornar um câncer.

“Dependendo desses resultados, uma amostra é enviada para o médico patologista, que é quem faz a análise de biópsia e o diagnóstico – se é mesmo um câncer, de que tipo é o tumor. O diagnóstico é fundamental para a definição do tratamento”, acrescenta o Dr. Klock.

Segundo ele, a demora no diagnóstico correto permite que o câncer cresça, podendo comprimir e invadir outros órgãos sadios na região do corpo. Outro cenário é quando as células cancerosas se desprendem e se espalham no sangue e/ou vasos linfáticos e nesse caso o câncer migra para outros órgãos, como fígado, pulmão e ossos. Por isso, lembro da importância do acesso aos exames pela rede pública de saúde, alerta o Dr. Klock.

A médica proctologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, Maristela Almeida, explica que a colonoscopia tem como objetivo detectar as lesões que são, na maioria das vezes, as precursoras do câncer, os chamados pólipos intestinais.

Quando pequenos, esses pólipos não produzem sintomas e geralmente são benignos, mas à medida que crescem e não são retirados, podem se transformar em pólipos malignos. Uma vez retirados, essa progressão não acontece”, destaca.

Segundo ela, a periodicidade do exame pode depender do número e tipos de pólipos, pelos antecedentes familiares de câncer e pela presença de doenças que podem aumentar a predisposição a esse tipo de câncer.

Fatores de risco para o câncer colorretal

Ainda de acordo com o Inca, os principais fatores de risco estão associados ao comportamento, como sedentarismo, obesidade, consumo regular de álcool e tabaco e baixo consumo de fibras, frutas, vegetais e carnes magras.

Outros fatores de risco estão associados a condições genéticas ou hereditárias, como doença inflamatória intestinal crônica e histórico pessoal ou familiar de adenoma ou câncer colorretal, e ocupacionais, como exposição a radiações, por exemplo, raios X e gama.

O médico proctologista do Hospital Edmundo Vasconcelos, Desiderio Kiss, explica que os principais fatores de risco para a incidência do câncer é ter uma alimentação pobre em fibras, como cereais, frutas e legumes, alto consumo de carne vermelha, de gorduras e alimentos processados e ultraprocessados.

“Outros fatores como o sedentarismo, consumo excessivo de álcool, tabagismo e obesidade também são significativos. Além disso, a presença desse tipo de câncer na família pode ser um fator de risco”, explica ele, ressaltando que é um câncer mais frequente após os 50 anos mas que tem acometido muitas pessoas mais jovens. Por isso, os médicos ressaltam a importância da realização da colonoscopia a partir dos 45 anos.

De acordo com o Inca, os cânceres de cólon e reto apresentam alto potencial para prevenção primária, com a promoção à saúde por meio de estímulo a hábitos de vida e dietéticos saudáveis, e secundária, a partir da detecção precoce. Em razão de sua história natural, são passíveis de ações de rastreamento e de diagnóstico precoce.

Diagnóstico precoce é essencial para a cura da doença

O médico proctologista Desiderio Kiss lembra que é sempre necessário procurar um médico se há a presença de sintomas que podem ser relacionados ao câncer colorretal como o sangramento anal ou sangue nas fezes, anemia por deficiência de ferro em adultos, emagrecimento sem causa aparente, mudança do hábito intestinal por mais de 30 dias e cólicas abdominais.

“É claro que estes sintomas não são específicos, podendo ocorrer em numerosas outras eventualidades. A imprescindível procurar o médico que poderá, assim, solicitar a colonoscopia que é o principal método para detectar a possível causa desses sintomas. Quando mais breve for realizada, maior a probabilidade de diagnosticar o câncer mais precocemente. A chance de cura com um diagnóstico precoce pode ser de 90%”, afirma.

Para Dra Maristela, por ser um câncer muito relacionado com comportamento e hábitos de vida, tem apresentado incidência muito frequente. “Alia-se a estes fatos, a dificuldade de acesso para exames preventivos, especialmente a colonoscopia e a resistência em procurar médicos quando a pessoa apresenta sintomas intestinais, especialmente os sangramentos anais”, destaca;

Os médicos ainda ressaltam que, em casos de diagnóstico tardio, ainda existem tratamentos adequados, mas que há a chance da doença se espalhar para outros órgãos (pelo desenvolvimento das metástases ou infiltração de órgãos e estruturas adjacentes), diminuindo as possibilidades de cura.

Com Assessorias

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