De cada dez partos no Brasil, um é de mãe adolescente. Por isso, a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, sempre no início de fevereiro, chama a atenção para a importância de se discutir o planejamento familiar e da gestação. No Rio de Janeiro, um programa vem chamando atenção de meninas adolescentes e jovens mulheres ao oferecer métodos contraceptivos de longa duração gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Trata-se do programa Acolhe RJ, que oferece a oportunidade de evitar uma gravidez num momento indesejado com diferentes métodos contraceptivos. Inaugurado em agosto de 2023, o programa da Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) já ofereceu mais de 6 mil contraceptivos subdérmicos e dispositivos intrauterinos (DIUs) ao longo de seis meses já foram inseridos, pelo SUS, 5.009 implantes subdérmicos e 1.100 DIUs.

Com isso, segundo a pasta, o programa tornou-se a maior iniciativa em saúde sexual e reprodutiva para adolescentes no Brasil. O SUS oferece o implante desde 2021, mas apenas para mulheres adultas (entre 18 e 49 anos), em situação de vulnerabilidade. É a primeira vez que o implante contraceptivo é disponibilizado para adolescentes na rede estadual pelo SUS. Já no segundo mês de funcionamento, mais de 3.600 adolescentes e jovens mulheres, entre 14 e 24 anos, entraram na fila para o atendimento.

“Ao inserir 5 mil implantes subdérmicos e mais de mil dispositivos intrauterinos em seis meses, o Acolhe RJ se torna o maior programa de planejamento reprodutivo do Brasil”, afirma o  ginecologista e obstetra Antônio Braga, coordenador estadual da Saúde das Mulheres, da SES-RJ, ao destacar a importância do Acolhe RJ para a sociedade.

Como funciona o programa Acolhe RJ

O Acolhe faz parte do Ambulatório Médico de Especialidades Jornalista Susana Naspolini (AME), que funciona na capital do estado, em um dos acessos às comunidades do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, em Ipanema, zona sul do Rio. Diariamente, ali acontecem rodas de conversa sobre métodos contraceptivos, prevenção às infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e oferta dos métodos contraceptivos de longa duração reversíveis (LARCs).

Ao chegarem, as jovens assistem a uma palestra palestra explicativa sobre prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos e a exposição de mulheres a situações violentas. Após esclarecer as dúvidas para entender os diferentes tipos de métodos e escolher os que entendem como mais adequado para elas, a consulta ginecológica é marcada no próprio local, para avaliação e possível disponibilização do método anticoncepcional escolhido.

O implante anticoncepcional subdérmico é a grande novidade e pode ser inserido em meninas a partir de 14 anos. Já a colocação do dispositivo intrauterino (DIU) de cobre, indicado para as que têm mais de 16 anos, possibilita a contracepção de longo prazo, até 12 anos. Menores de 18 anos que optem por contraceptivos implantados precisam apresentar autorização do responsável. O programa também oferece pílulas e injeções anticoncepcionais.

“O Acolhe funciona com muita informação e aconselhamento contraceptivo, para que a jovem escolha de uma forma legítima e esclarecida qual é a melhor forma que se adequa a ela. Elas costumam sair bastante satisfeitas, tendo sua demanda de saúde contraceptiva atendida”, afirma a médica Ana Teresa Derraik, coordenadora do projeto.

A jovem estudante de contabilidade Rebeca de Lima contou que tirou todas as sus dúvidas durante a palestra. “Conversei com a ginecologista, com as amigas e isso tirou minha vergonha de procurar um método contraceptivo mais eficaz. É muito importante termos esses métodos gratuitos disponíveis aqui no Rio, porque a gente vive em um país onde a grande maioria das pessoas não tem condições de pagar para ter acesso a esse implante em clínica particular“, contou.

Conscientização sobre gravidez não planejada, consequências e riscos

O Acolhe RJ vai muito além do fornecimento de métodos contraceptivos. O programa promove palestras sobre a saúde da mulher e esclarece sobre como a gravidez precoce não planejada leva a condições sociais de difícil reparação, como a interrupção dos estudos e a entrada precoce e não qualificada no mercado de trabalho. Há ainda impacto na saúde, como as altas taxas de mortalidade materna e do recém-nascido.

A gravidez não planejada na adolescência está entre as principais causas da evasão escolar em todo o Brasil, principalmente no Ensino Médio e afeta principalmente alunas em condições mais vulneráveis. Pesquisa promovida pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostrou que dois milhões de adolescentes deixaram a escola no Brasil, em 2022. Desse total, 14% apontaram a gravidez como motivo para o abandono dos estudos.

Em 2022, do total de 180.297 nascidos vivos no Estado do Rio de Janeiro, 777 foram de mães de até 15 anos e 19.347 tinham mães entre 15 e 19 anos, segundo dados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC). Ou seja, 11,16% foram fruto de gestações precoces.

Secretária de Saúde defende educação sexual nas escolas

Ao visitar o Acolhe, no encerramento da Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, nesta quinta-feira (8), a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello, disse que nos últimos 10 anos, a taxa de gravidez na adolescência caiu 40%, saindo de 18,4% em 2013 para 10,9% em 2023.

“Mas ainda precisamos avançar mais para garantir que tudo ocorra ao seu tempo, entendo que é através da educação em saúde que conseguiremos fomentar comportamento sexual seguro e responsável entre os adolescentes”, afirma.

Para ela, é essencial que esse tema faça parte da orientação familiar e dos currículos escolares. “Da mesma forma, a atenção primária à saúde deve ser sensibilizada para orientar adolescentes sobre educação sexual”, completa.

Como acessar

Após a enorme procura já no primeiro mês de atendimento, as vagas do programa Acolhe RJ passaram a ser oferecidas por meio da Central de Regulação do Estado (CER).

Para ser inserida na regulação, basta que a jovem interessada procure uma unidade básica de saúde (posto médico) ou clínica da família, levando carteira de identidade e cartão do SUS.

A equipe multidisciplinar do Acolhe é composta por 27 médicos, que realizam ação educativa, aplicação do contraceptivo e exames de ultrassonografia; além de 2 enfermeiros e 4 técnicos de enfermagem. Todo o atendimento é realizado gratuitamente pelo SUS.

Com informações da SES-RJ

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