Outubro Rosa: ‘Quem não faz exames não é alcançado pela campanha’

Desabafo é de Claudia Miranda Nunes, que fazia os preventivos, mas morreu nesta terça-feira (17), vítima de câncer de mama

Claudia Miranda Nunes descobriu o câncer de mama em outubro de 2015 e morreu esta semana, vítima da doença. Ela era contra a campanha Outubro Rosa (Foto: Acervo pessoal)
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Claudia Miranda Nunes descobriu o câncer de mama em outubro de 2015 e morreu esta semana, vítima da doença. Ela era contra a campanha Outubro Rosa (Foto: Acervo pessoal)
Claudia Miranda Nunes descobriu o câncer de mama em outubro de 2011 e morreu esta semana, vítima da doença. Ela era contra a campanha Outubro Rosa (Foto: Acervo pessoal)

Ela descobriu o câncer de mama em outubro de 2011. E após longa e dolorosa batalha contra a doença, perdeu o último round justamente neste mês de outubro. A doença chegou ao intestino, ossos, membrana do cérebro e por último ao fígado, rim e medula. A engenheira Claudia Miranda Nunes, a Claudinha, que nos deixou nesta terça-feira (17), em pleno Outubro Rosa, era uma ferrenha crítica da campanha.

“Outubro Rosa, vou falar por mim que descobri em Outubro o Câncer de Mama. Odeio esta campanha. Sempre fiz exames preventivos”, relatava minha amiga em seu Facebook, 15 dias antes de falecer. E explicava: “Infelizmente quem não faz exames não é alcançado pela campanha e quem está doente como eu passa por desleixada. Tem muita gente que não quer nem saber se está doente… Eu me sinto muito mal com esta campanha todos os anos. Desabafo, só isso. Sou metralhada com esta campanha todos os anos”.

A opinião da Claudinha nos convida para uma análise crítica sobre uma ação tão festejada no meio médico e também por tantas marcas. Quem lida com saúde como eu no Blog Vida & Ação sabe o quanto ações como esta podem ser importantes para se esclarecer sobre prevenção e tratamento, ainda que cercadas por tanto marketing, possíveis interesses políticos e mensagens truncadas. Qualquer iniciativa para vencer o preconceito e empoderar mulheres e homens que enfrentam doenças malditas como esta merece ser destacada.

O desabafo de Claudinha abriu um debate no Facebook.  Tenho empatia pela campanha, acho que é uma forma de alertar as pessoas, especialmente as que não tem tanta cultura e acesso a exames”, disse Luciana Souza dos Santos. “A campanha visa ver antes, para tirar proveito da máxima possível antecipação . . . não determinar que não exista . . . abençoe a campanha, pra que outras obtenham, como um mínimo, o que você tem obtido”, pedia o amigo Saulo Wanderley.

Já Suzana Pinto concordava. “Outubro é um mês que seremos bombardeados por campanhas de conscientização de prevenção e conscientização do câncer de mama. A questão é que a maioria dessas campanhas “banaliza” o que é ter Câncer. Prevenção ao Câncer de mama não é rosa, entendo que a cor corresponde o lado feminino, mas acho que não é só isso. Conheço mulheres que estavam em dia com seus exames, e ainda sim foram surpreendidas com o diagnóstico. Acho que as campanhas deveriam ser mais verdadeiras e incentivar fazer mais exames no espaço de tempo menor”.

Suzana acha que a campanha deveria ser mais informativa, ter outro formato, mais real e deveria mostrar as etapas do processo. “Tem tipos de neoplasia de mama que aparecem em menos de 1 ano, surge em meses, depois de uma mamografia. Tenho uma amiga que fez o exame deu tudo ok, depois de 6 meses apareceram 4 nódulos do nada. Até os médicos ficaram surpresos. A mamografia e a ultra não acusaram nada. Cada caso é um caso, não tem receita”, ponderou.

Infelizmente quem não tem acesso a planos de saúde (maioria brasileira) não faz os exames por considerar desnecessário e demorada demais a espera para realizá-lo. A campanha serve para essas mulheres. Quem tem o hábito de fazer anualmente não é o foco da campanha. Acho válida, apesar de não me encaixar nela”, disse Carla Beatriz Menezes Cruz. Ela ainda contou que uma funcionária só foi fazer o exame por causa da campanha. “Tudo bem que ela só realizou o exame em fevereiro, mas a campanha a ajudou. E não vejo como desleixo ter a doença, mas não cuidar. Conscientizar que todas nós podemos ter, independente de tudo (classe social, raça, acesso a bons médicos), sei lá, sou a favor. Acho que quanto mais cedo se descobrir, mais fácil alcançar bons resultados”, destacou

Veja no meu Facebook um pouco da história de Claudinha e seu enorme legado

Claudia Miranda Nunes, a Claudinha, era dessas pessoas espevitadas, inquietas e de brilho próprio que a gente admira e quer ter perto da gente. Esbanjava um sorriso enorme no rosto e tinha opinião e resposta para tudo. Sempre festeira e muito solidária e gentil com os amigos e com todos. Não éramos amigas tão próximas, mas a admirava mesmo à distância. E principalmente por acompanhar um pouco da sua luta nos últimos tempos contra uma doença tão cruel e devastadora. Sim, ela lutou bravamente e com muita dignidade até o fim.

Conheci Claudinha há pelo menos uns 12 anos, através de uma querida amiga em comum, a Patricia Curvelo. Fizemos parte do grupo Festa e Solidariedade, que promovia eventos em benefício de ongs e projetos sociais (ela sempre foi uma cidadã do bem e para o bem). Mais recentemente, participávamos juntas do grupo Amigas Guerreiras (agora, Amigos Guerreiros), no Whattsapp, que reúne só gente solidária e querida, da estirpe de Claudinha, e com quem aprendo a cada dia.

Fui dormir ontem meio combalida, me sentindo estranha, parecia um resfriado… Devia pressentir que algo estava por acontecer (vai entender os sinais?!). Hoje amanheci com essa triste notícia. Claudinha se despediu desse plano logo cedo, após lutar com toda a garra e coragem contra um câncer que descobriu num mês de outubro. E é justamente em pleno Outubro Rosa, de conscientização para o câncer de mama, que ela nos deixa órfãs do seu sorriso, da sua alegria, da sua espontaneidade e amor pela vida.

Há apenas 15 dias, Claudinha chegou a publicar em seu Face que odiava a campanha. “Outubro Rosa, vou falar por mim que descobri em Outubro o Câncer de Mama. Odeio esta campanha. Sempre fiz exames preventivos”, relatava. E explicava: “Infelizmente quem não faz exames não é alcançado pela campanha e quem está doente como eu passa por desleixada. Tem mta gente que não quer nem saber se está doente… Eu me sinto mto mal com esta campanha tds os anos. Desabafo, só isso. Sou metralhada com esta campanha tds os anos”.

Respeitemos a opinião da Claudinha, que nos convida para uma análise crítica sobre uma ação tão festejada no meio médico e também por tantas marcas. Quem lida com saúde como eu no Blog Vida & Ação sabe o quanto ações como esta podem ser importantes para se esclarecer sobre prevenção e tratamento, ainda que cercadas por tanto marketing, possíveis interesses políticos e mensagens truncadas. Qualquer iniciativa para vencer o preconceito e empoderar mulheres e homens que enfrentam doenças malditas como esta merece ser destacada.

Mas estou aqui para falar da Claudia que, sempre cheia de energia e vitalidade, enfrentou tudo com tamanha coragem e força. Assumiu a carequice imposta pelo tratamento com altivez (me lembro de como surpreendeu a todos quando tirou a peruca em pleno samba no Carioca da Gema, na Lapa). É claro que ela deve ter tido dias de medo, de angústia, de desesperança. Mas, sobretudo, partiu lutando e acreditando até o fim que poderia vencer.

Ela nos deixa uma enorme lição: jamais esmorecer diante das intempéries da vida. E viver sempre “Um dia de cada vez” (aliás, este é o nome de outro grupo que criamos no Whattsapp, onde nos apoiamos solidariamente em nossas pequenas ou grandes batalhas diárias).

A partida tão precoce de Claudinha me fez sentar aqui pra escrever ainda que superficialmente sobre uma história da qual ela foi protagonista (repito, não a acompanhava tão de perto e não vi a dor que viveu essas últimas duas semanas). Mas e quantos passam pela vida apenas como coadjuvantes, vendo a vida passar sem se agarrar a ela e vivê-la intensamente? Ela era, foi e será sempre protagonista. E tenho certeza que deixou uma legião de fãs e admiradores. Esse é o maior legado que deixamos por aqui.

Penso que guerreiros como ela, como outra querida amiga, Lilia Pereira, que nos deixou ano passado após enfrentar uma leucemia com a mesma dignidade, ou como minha mãe que lutou sete anos contra um AVC, ou como meu pai que lutou três meses contra uma septicemia são realmente imortais. Suas histórias vão durar para sempre em nossas memórias.

E assim podemos refletir sobre a instantaneidade da vida e sobre o tempo, nosso bem mais precioso e que tantas vezes viramos as costas para ele, ignoramos, relutamos em aceitar que ele é incontrolável e efêmero demais … E nos diluímos a cada dia, chafurdados em tantas lamentações e apegos bobos. A morte nos encoraja a viver mais e melhor cada dia.

Valeu, Claudinha, por mais esse aprendizado. Siga na luz. Gente como você foi feita para brilhar e não parar morrer de fome de vida!!! Você transpôs essa e encontrará, certamente, uma vida de muita paz.

Um beijo enorme e fique com Deus!!!!

  • Post publicado em 17 de outubro de 2017, no Facebook

 

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