Por menos desperdício e mais opções saudáveis no varejo

Em São Paulo, evento sobre alimentação saudável reúne representantes do varejo e especialistas para discutir as demandas do novo consumidor

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Crise, que crise?! Apesar de ainda serem mais caros que os tradicionais, os alimentos naturais, orgânicos e livres de aditivos químicos são cada vez mais procurados pelos brasileiros nas gôndolas dos supermercados. Em 2016, segundo o Euromonitor Internacional, o mercado brasileiro de alimentos e bebidas saudáveis registrou R$ 93,6 bilhões em vendas, o que colocou o país na quinta posição no ranking mundial neste segmento.

Não é para menos, já que cerca de 49% da população brasileira estão mais preocupados com o que colocam na mesa, resultado de um maior acesso a estes produtos em supermercados e lojas naturais. Ainda segundo este relatório, nos últimos cinco anos houve um aumento de 98% das vendas deste perfil de produtos. A previsão é que o mercado brasileiro de produtos compreendidos como saudáveis cresça anualmente 4,4% até 2021.

Os números comprovam que a crise passa longe deste setor. Quatro em cada cinco brasileiros estão dispostos a investir em uma alimentação mais saudável e desse número e 30% querem maior itens dessa categoria disponíveis no varejo. É diante deste cenário animador que agentes do mercado de alimentos e bebidas saudáveis se reúnem nos dias 30 e 31 de outubro no Espaço Pro Magno, em São Paulo, para discutir e trocar ideias relacionadas ao segmento que cresce exponencialmente no país.

A primeira edição da WellFood Ingredients Summit, dedicada ao mercado saudável e funcional, apresenta novas tecnologias, produtos e serviços para o mercado brasileiro, cada vez mais preocupado e exigente do que o resto do mundo quando se trata de saudabilidade. Junto, acontece a sétima edição do Building Healthier Brands – Fórum Anual de Tendências, Inovação e Comunicação em Saúde, Nutrição e Bem-estar, que discute o comportamento do consumidor brasileiro e traz novidades sobre os principais temas que rondam o mercado dos que apostam em saúde para o mercado de alimentos, bebidas, suplementos.

Semáforo nutricional: consumidor de olho na embalagem

Recentemente pauta do Congresso Mundial de Nutrição, realizado na Argentina, os selos na frente da embalagem são temática forte de discussão. Foram criados diversos símbolos e formatos de escalas para avaliação de produtos quanto ao seu valor nutricional, o que confirma que os consumidores estão cada vez mais atentos às embalagens.

Por exemplo, o Semáforo Nutricional, criado na Inglaterra e utilizado em alguns países europeus, traz a informação de cada nutriente relacionado à saúde pública, tais como açúcar, sódio e gordura, utilizando as cores do semáforo para indicar as quantidades (alto com vermelho, médio com amarelo e baixo com verde). Na América Latina, além do semáforo, tem-se os selos de cor preta que advertem excesso de algum nutriente. Apesar de o tema ser pauta quente no cenário de regulamentação do governo brasileiro, será uma barreira para os alimentos processados? Ou estes encontrarão seu caminho?

Neste contexto, aspectos como a origem dos alimentos, histórias, significados, lembranças e os cinco sentidos ganham mais espaço na hora de escolher o que colocar na mesa. A preocupação com o valor nutricional e os valores de ética animal e sustentabilidade levam ao aumento de adeptos a produtos orgânicos – crescimento de 20% em 2016 e faturamento de R$ 3 bilhões, segundo o Conselho Nacional de Produção Orgânica e Sustentável.

O mesmo ocorre com os estilos de vida vegetariano e vegano: são mais de 15 milhões de vegetarianos hoje no Brasil, de acordo com o Ibope, parcela de 8% do total da população brasileira. Podem ser números ainda tímidos para quem pensa em produtos de massa. Mas é um caminho e crescimento sem volta. Vale ficar de olho. Gigantes já procuram startups para entender esta nova forma de agir, pensar e lançar produtos. Por isso, o BHB deste ano traz uma mesa com CEOs de marcas brasileiras em diferentes fases de maturidade do negocio.

Inovação em alimentos

Iniciativa da Equilibrium, empresa de comunicação e inovação em saúde e nutrição, o projeto Building Healthier Brands apresenta temas como a inovação em alimentos nos dias de hoje, considerando o impacto do futuro deste no Brasil; dados inéditos de pesquisa sobre comportamento alimentar da população brasileira e de cases de sucessos nacionais no mercado de produtos saudáveis.

De acordo com Cynthia Antonaccio, nutricionista e fundadora da iniciativa, entender o comportamento alimentar dos brasileiros e buscar formas disruptivas de agir com mentalidade de iniciante das startups são pontos chave para traçar os caminhos deste mercado. “É preciso pensar no porque as pessoas comem o que comem, o que pensam, o que sentem e no que acreditam”, afirma ela. E isso só é possível, segundo Cynthia, mudando a forma de conduzir os negócios, começando pela empatia ao entender genuinamente as dores e problemas dos consumidores.

Consumidores estão cada vez mais exigentes

No primeiro dia do evento (30), Angélica Salado, do Euromonitor, apresentou o panorama de toda a cadeia produtiva com foco nas possibilidades de mercado. Ela destacou o perfil dos consumidores, categorizando-os por faixa etária. Lembrou como os Millenials (nascidos entre 1980 e 1994) tendem a romper com antigos padrões ao exigir mais das marcas. “Eles dão muito feedback às empresas. Querem ser ouvidos, não se conformam apenas com o que já está disponível no mercado”, disse. Esse comportamento, segundo ela, influencia as gerações mais antigas, trazendo um fenômeno conhecido como “Midorexia”, em que pessoas mais velhas buscam os mesmos produtos das mais novas. “É uma tentativa de rejuvenescer”, salientou, ressaltando que a indústria pode aproveitar esse nicho para desenvolver soluções específicas.

Steve Walton, presidente da HealthFocus International, fez uma descrição detalhada do consumidor brasileiro, muitas vezes em comparação a outros países do mundo, traçada com base em pesquisas do instituto. Entre os destaques, lembrou o quanto as pessoas no país têm uma relação próxima com a sua dieta, preocupando-se constantemente em manter o peso. Também salientou o estilo de vida ativo visto no Brasil. “No caminho do aeroporto até o hotel, vi muita gente correndo e andando de bicicleta”, comentou, salientando o mercado em potencial para alimentos saudáveis levando em conta essa observação.Para saber como outros mercados internacionais têm se posicionado, Steve Walton, presidente da Health Focus International traz dados de tendências mundiais e como a indústria de ingredientes tem desenvolvido produtos mais nutritivos e funcionais.

Mais diálogo com Anvisa e Ministério da Saúde

Pela primeira vez, os presidentes de quatro importantes associações do segmento alimentício debateram publicamente questões envolvendo as dificuldades e oportunidades do setor. Tatiana Pires, presidente da Abiad (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres ), reforçou a importância de abrir diálogos com a Anvisa e com o Ministério da Saúde, visando melhorar o processo de regulações de alimentos.

Alexandre Jobim, da Abir (Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas), lembrou como o setor que representa muitas vezes é criticado sem base científica e defendeu campanhas de conscientização do consumidor. “O consumo de refrigerantes caiu enquanto a obesidade aumentou”, disse.

Eduardo Weisberg, da Abis, foi na mesma linha e pediu mais diálogo aberto com os órgãos públicos. presidente da Abimapi (Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados), salientou a boa relação do segmento de panificação e massas com órgãos públicos. “A indústria vem trabalhando com a Anvisa para chegar a um denominador comum no que diz respeito à regulamentação”, comemorou.

Grandes marcas criam programas nutricionais

O Wellfood Sumitt também apresentou cases de grandes empresas de alimentos, em parceria com o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital). Juliana Lofrese, gerente de Nutrition Health da Nestlé, apresentou o case do Nestlé Nutritional Profiling System (NNPS), um programa global criado em 2005 que vem enquadrando todos os produtos da empresa dentro de normas rígidas. Entre as conquistas está a redução de gorduras saturadas, sódio e açúcar de centenas de produtos. “Nutricionistas e engenheiros de alimentos estão unindo esforços para atingir os objetivos”, salientou.

Andrezza Lamoglie, da Nutrição Estratégica e Comunicação da Mondelez, explicou que os esforços globais da companhia estão principalmente no aumento de farinhas integrais e redução do sódio e da gordura saturada em produtos de 10 marcas globais. Outra conquista foi a exclusão de corantes artificiais de uma marca de sucos e outra de chicletes. A Mondelez ainda apresentou sua nova linha de snacks voltados para o bem-estar.

Já Elizabeth Vargas, gerente de Nutrição da Unilever, trouxe os resultados do Improving Nutrition, programa que tem como meta para até 2020 reformular sua linha de produtos para alinhamento com as recomendações dietéticas da OMS. Entre as novidades estão a redução de gorduras saturadas, açúcar e sódio. “Em uma empresa desse tamanho, qualquer alteração em produtos provoca um impacto muito grande. Trata-se de uma ação de saúde pública”, afirmou. Segundo ela, alguns dos principais pilares são os cuidados com a saúde do coração, combate à obesidade e redução da subnutrição.

Renata Azevedo, diretora de Assuntos Regulatórios da Herbalife, deu detalhes dos desafios de adequar os produtos funcionais dentro das estruturas da Anvisa. Na sequência, representantes de três gigantes internacionais do segmento alimentício mostraram uma forte tendência: a da preocupação constante em aumentar significativamente a saudabilidade de seus produtos.

 

Supermercado aproveita legumes fora de padrão

Todos os dias, 40 mil toneladas de alimentos são desperdiçados no Brasil. Num mundo de tantas carências, como a indústria e o varejo estão lidando com o desperdício? Boa parte de vegetais que, por terem crescido com aparência incomum, embora tenham alto valor nutritivo, é descartada antes mesmo de chegar aos supermercados. São cenouras com duas pernas, beterrabas gigantes, entre outros legumes que seriam um “patinho feio” nas gôndolas.

Pensando nisto, o SuperPrix criou a campanha  “As aparências enganam”, que tem como objetivo ajudar a combater o desperdício de alimentos. Simples assim – ao comprar vegetais não tão “bonitos”, o cliente paga 30% menos e ainda ajuda a quem mais precisa. Parte da renda das vendas destes vegetais é revertida para uma instituição beneficente, a Agência do Bem. A nutricionista da rede, Érica Schattka, apoia a iniciativa: “O resultado final é esteticamente e nutricionalmente igual ao de uma receita feita com produto perfeito”.

A Agência do Bem é uma Ong que tem como missão promover o desenvolvimento humano, visando à cidadania plena de populações de baixa renda através da educação. Dentre seus diversos projetos em andamento existe a Orquestra e Coro Nova Sinfonia, que é composta por mais de 40 jovens de diferentes comunidades na região de Jacarepaguá, das Escolas de Música e Cidadania. A última apresentação foi realizada dia 25, na inauguração da Barraca “As aparências enganam”, no recém inaugurado SuperPrix Barra, no Shopping Rio

Seminário Sem Desperdício

O Seminário Sem Desperdício, que acontece dia 31 de outubro no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR), reunirá especialistas da Dinamarca, Espanha, França, Holanda e Suécia, além de pesquisadores brasileiros e representantes de empresas nacionais. Serão discutidas estratégias nacionais e outros instrumentos voltados para a indústria, o varejo e o consumidor, ou seja, as etapas finais da cadeia alimentar.

Casos de sucesso de países europeus que podem ser implementados em outros locais e servir de base para a estruturação de ações no Brasil serão apresentados como práticas pontuais ou como um plano mais amplo já em execução. Durante a programação, a FAO Brasil apresentará o panorama sobre perdas e desperdício na América Latina, representantes de países da União Europeia apresentarão as iniciativas nacionais, e os especialistas brasileiros abordarão os bancos de alimentos e a rede Save Food Brasil, entre outras palestras.

As ações na indústria e no varejo serão abordadas como oportunidades de ação para reduzir as perdas nas etapas finais da cadeia agroalimentar, tais como o caso do varejo do Rio de Janeiro e da indústria de embalagens do Brasil. O seminário faz parte de um projeto aprovado pela plataforma Diálogos Setoriais, parceria estratégica entre União Europeia e Brasil para favorecer o intercâmbio de conhecimentos, experiências e melhores práticas sobre temas de interesse mútuo, e foi enquadrado na categoria Top-Down por se tratar de área prioritária e de diálogo político de alto nível entre os governos envolvidos.

Ainda por meio do projeto, que tem duração de um ano, será contratado um consultor externo para conduzir um estudo quantitativo sobre desperdício de alimentos no Brasil, com foco no consumo das famílias, uma demanda da União Europeia e também uma lacuna identificada em estudos já realizados no País. O Seminário terá transmissão online pelo Facebook, nos perfis da Embrapa (www.facebook.com/Embrapa) e da iniciativa Sem Desperdício (facebook.com/SemDesperdicioBrasil). Mais informações no site da Embrapa.

 

Da Redação, com assessorias

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