Romance aborda delicada relação entre adolescência e depressão

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“A vida adulta nos cobra. A adolescência pode nos estrangular”. “Não se engane, a cabeça de um adolescente guarda todo o desconserto de viver em mundo que lhe cobra sempre metas futuras, quando seu tempo é o presente”. As frases são de Karine Aragão, professora e escritora, que decidiu mergulhar fundo no universo adolescente para entender a delicada relação entre depressão e juventude.

No romance ‘A Teia dos Sonhos’, lançado recentemente pela Editora Muiraquitã, ela traz aos jovens estudantes, por meio de uma linguagem leve, não só reflexões sobre problemas ligados à juventude, mas uma forte mensagem de valorização à vida e às relações interpessoais.

A ideia de escrever o livro surgiu em 2015, depois que uma adolescente teria se jogado de um edifício próximo à escola onde ela trabalhava. Karine é professora de, aproximadamente, 310 crianças do Ensino Fundamental II, em Niterói. A cidade, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), possui um dos maiores índices de suicídios do Estado do Rio de Janeiro.

A Organização Mundial da Saúde chama a atenção para o problema: a depressão é a doença mais comum entre os jovens de 10 a 19 anos, sendo a terceira causa de morte de 1,3 milhão de jovens a cada ano. A depressão fica atrás, apenas, dos acidentes de carro e da Aids.

Sobre o livro

O livro “A Teia dos Sonhos” percorre o turbilhão de emoções que é a adolescência, ao apresentar uma narrativa em primeira pessoa em que Júlia, uma menina de 16 anos, enfrenta a experiência do luto de perder a melhor amiga, Laura, que se suicida na noite em que ambas fazem uma tatuagem para comemorar cinco anos de amizade.

A vida de Júlia fica de cabeça para baixo. Ora tomada pela tristeza, ora pela raiva por nem desconfiar dos motivos que levaram Laura a tirar a própria vida. Júlia se sente enganada – afinal, percebe que a amizade com Laura não era livre de segredos como acreditava.  Envolvente e singelo, “A Teia dos Sonhos” fala sobre amizade, juventude, família; sobre a vida e as perdas que acontecem pelo caminho.

Sobre a autora

Mestre em Literatura Brasileira pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutora em Cultura Contemporânea pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Karine Aragão aborda o tema em um artigo exclusivo para o Blog Vida & Ação. Confira:

“Talvez estejamos vivendo nos tempos das caixinhas lacradas… Sim, há a dúvida nessa minha nova teoria sobre uns e outros que andam por aí, plenos de certezas, dos quais eu sou capaz de fugir em sobressalto, entrando numa sorveteria em dia de inverno. Enquanto isso, vou admirando o caminho das hesitações, do vai e volta, das metamorfoses e, seguindo com meu sorvete na mão, observo como cada vez mais vamos ficando com uma respiração doente, ofegante porque se desgasta para cumprir metas e para caber num lugar que, simplesmente, não lhe é. A vida adulta nos cobra. A adolescência pode nos estrangular.

Antes mesmo de confirmar, a partir do Google Trends, a correspondência crescente na correlação das palavras adolescente, depressão e ansiedade, eu já me questionava sobre a contrariedade de pertencer a uma fase da vida conhecida por um processo instável de escolhas e de autoconhecimento, inquestionavelmente, hormonal, e, ao mesmo tempo, ser sufocado por padrões e metas a serem cumpridas, que lhes cobram, muitas vezes, mutilações para caber em uma vida que não é a deles.

Confesso que eu mesma acho a cena chocante, mas é exatamente isso que fazemos com os adolescentes quando exigimos que eles obedeçam ao que se espera de uma pessoa normal, sem, sequer, temos perguntado como eles se sentem em relação à determinada situação. E, assim, eles vão seguindo, cortando traços de suas personalidades, na eterna busca por serem aceitos.

Temos a ingenuidade, ou superioridade, não sei ao certo, de menosprezar o que pode sentir um adolescente. Achamos que, naquele universo livre (????) de obrigações duras do dia a dia, não podem caber tristezas, conflitos dolorosos, dilemas que levariam qualquer um à loucura. Não se engane, a cabeça de um adolescente guarda todo desconserto de viver em mundo que lhe cobra sempre metas futuras, quando seu tempo é o presente.

Ele acaba tendo que se importar tanto com o que vai ser quando crescer que o agora da vida se esvai e passa… Perceber a corrida desse próprio tempo perdido é extremamente nostálgico. Só que, mais uma vez, não há tempo para paradas e lágrimas na competição que é viver, ele que guarde suas angústias e emoções numa caixinha e a lacre muito bem.

Mais do que diagnosticar um adolescente depressivo, ansioso, desconsertado, triste, sensível, desafiador… é necessário que nos importemos com essa dor de viver que ele pode carregar, na maioria das vezes, sozinho, encolhido dentro de si mesmo. A ajuda de profissionais de saúde é essencial na reconstrução desse sentido do mundo, mas não funciona sozinha.

Uma atitude interessada em apenas ouvir a história de alguém, sem nenhuma forma de julgamento ou de cobrança, pode salvar vidas. Para isso, não é necessário que você esteja profissionalmente preparado para lidar com algum transtorno de personalidade, basta que você se disponha a sair um pouquinho do seu mundo restrito. Talvez, no encontro com o outro, a gente possa esbarrar na gente mesmo…”

*Com a colaboração de Roberta de Souza (Gaia Comunicação)

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