Morte de surfista abre debate sobre perfil do suicida

De acordo com a psicanalista Rita Martins, é preciso desmitificar que a pessoa com depressão é também um potencial suicida

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O surfista catarinense Jean da Silva, de 32 anos, era descrito como uma pessoa saudável, tranquila e de bem com a vida. Não tinha o menor perfil de quem um dia poderia atentar contra a vida de alguém, que dirá a própria. Mas o suicídio do jovem, campeão brasileiro de surfe em 2010, deixou as pessoas perplexas.

De acordo com a psicanalista Rita Martins, é preciso desmitificar que a pessoa com depressão é também um potencial suicida. “É muito diferente a pessoa não ter interesse por nada, querer morrer, daquela que tem a intenção de tirar a própria vida. Se suicidar requer uma força, uma energia que o depressivo pode não ter”, afirma ela.

A especialista explica que a ideação suicida é um dos nove sintomas elencados no Diagnóstico de Saúde Mental (DSM-V). “Alguém com fibromialgia ou hérnia de disco, com forte dor é tão propenso a atentar contra sua própria vida, quanto o depressivo”, ressalta. Pode-se ainda associar o suicídio a outras questões como bulliyng, uso de drogas, violência sexual, baixa autoestima, solidão dentre outras. Para ele morrer, é a única saída para mudar sua condição atual.

“O papel do médico e do terapeuta é acolher essa pessoa, estender a mão, sem julgamentos e ajudá-la a estancar sua dor. Falar sobre o que lhe afeta, pode até não curar, mas reduz os sintomas. Isto ocorre porque os pensamentos e sentimentos começam a se organizar internamente. Quando morre alguém desta forma, o impacto psicológico do ato se estende aos familiares e amigos”, explica a psicanalista.

Ao ViDA & Ação, a psicanalista Rita Martins fala sobre doenças emocionais que podem levar ao suicídio.

1) A fadiga, o excesso de trabalho, o estresse constante, a pressão por resultados, o assédio moral ou sexual… tudo isso pode levar a um quadro depressivo capaz de culminar num suicídio?

Andrew Solomon em seu livro “o demônio do meio dia” menciona um estudo realizado na universidade de Columbia, nos EUA, que aponta que o estresse é um dos fatores que mais impulsiona o desejo suicida. Entretanto, vale ressaltar que grande parte dos casos de suicídio, está associado a algum transtorno mental.

2) Como identificar se a pessoa pode atentar contra a própria vida? No caso do rapaz que não tinha aparente perfil de um suicida, o que fazer?

Detectar a previamente não é nada fácil, porque nem sempre a pessoa dá sinais, ou seja, pode não haver frases de alerta ou mudança no comportamento. Aliás, tirar a própria vida, pode não ser um ato pensado, pode ser uma decisão de impulso. Gostaria de chamar a atenção para um ponto bastante sutil: às vezes a pessoa não tira subitamente a vida, mas adota um comportamento suicida deixando de se cuidar. Por exemplo, um diabético que resolve consumir  açúcar ou quando alguém leva uma vida promíscua sem preservativos etc.

3) A família nunca está preparada para perder um parente que tirou a própria vida. Como encarar um possível ‘sentimento de culpa’ por não ter feito nada pra evitar?
Os pais e os amigos de alguém que tirou a própria vida se torturam tentando recapitular, fazendo uma retrospectiva, tentando puxar da memória indícios, pistas e se perguntam: o que eu deixei passar? Como não notei? E com isso sentem um enorme e dolorosa culpa. Deste modo, as pessoas que ficam, precisam de acolhimento, de suporte emocional profissional.

 

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