Incontinência urinária é 2,9 vezes maior após o parto normal

Incontinência urinária em mulheres é três vezes maior do que em homens (Foto: Banco de Imagens)
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Existe dia para quase tudo no amplo e diversificado calendário da saúde. Até mesmo para a incontinência urinária, condição relacionada à perda involuntária de urina, um problema cercado por vergonha e constrangimento. O Dia Mundial da Incontinência Urinária (14 de março) surgiu com objetivo de orientar a população a identificar os sintomas mais comuns e buscar os tratamentos mais efetivos e apropriados para cada caso.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), é difícil mensurar a quantidade de pessoas que têm algum grau de incontinência porque muitos homens e mulheres têm vergonha de falar sobre o assunto ou ainda acham que não existe tratamento efetivo. Porém, estima-se que, no mundo, 200 milhões de pessoas tenham algum grau de incontinência. Só no Brasil são cerca de 10 milhões de pessoas – ou uma em cada 25 .

“A incontinência urinária atinge 10 milhões de brasileiros de todas as idades, sendo duas vezes mais comum no sexo feminino. É um problema que afeta todas as faixas etárias, mas acomete mais a população idosa”, comenta o urologista Rodrigo Brasileiro, membro titular da SBU. “A incontinência  provoca restrições pessoais e sociais, além de alterar consideravelmente a rotina diária dos que sofrem com a doença. Muitas pessoas não buscam tratamento e com isso só aumentam o problema”, destaca o urologista Ronaldo Damião.  

De acordo com Fernando Almeida, professor de Urologia da Unifesp e urologista do Hospital Sírio Libanês, a data é muito importante para a conscientização de que esta doença tem tratamento e não é uma condição “normal” da idade, como muitos pacientes pensam. “Perder urina não é normal e, ainda que a condição não represente risco de vida, traz constrangimento ao paciente e compromete a qualidade de vida e a autoestima, sendo considerada por muitos como “câncer social”, afirma o urologista.

Incontinência por esforço é comum após parto normal

Entre os principais tipos de incontinência estão a incontinência por esforço, que é perda involuntária de urina provocada pelo esforço físico (como tossir, rir, espirrar ou levantar objetos pesados). O problema é comum nas mulheres que tiveram vários partos normais e que têm como indicação de tratamento a cirurgia ou a fisioterapia uroginecológica. Na gravidez, os sintomas costumam ser mais comuns e se agravam no pós-parto. Especialistas indicam que o risco de desenvolver incontinência urinária por esforço é 2,9 vezes maior após parto vaginal, se comparado ao parto cesáreo. A prevalência de Incontinência Urinária e Incontinência Anal durante a gravidez em gestantes previamente continentes tem sido reportada como 39,1 % e 10,3%, respectivamente.

Na incontinência de urgência, a pessoa sente um intenso desejo para urinar, mas quando retarda a chegada ao banheiro, apresenta perda urinária. Neste caso, o tratamento é feito com medicamentos associados à fisioterapia uroginecológica. Há ainda a incontinência por transbordamento, comum em pacientes muito idosos e portadores de diabetes, em que a bexiga não consegue se esvaziar adequadamente e a urina retida vai saindo aos poucos em um verdadeiro processo de transbordamento. “Este é um caso de difícil tratamento, pois a bexiga perdeu sua capacidade contrátil não conseguindo seu esvaziamento”, afirma o Dr Damião.

Maioria dos casos nos homens ocorre após cirurgia da próstata

A maioria dos casos de incontinência urinária masculina causada por enfraquecimento do esfíncter está relacionada à cirurgia para retirada de da próstata. “Dos homens que passam por uma cirurgia de câncer de próstata, até 50% podem ter algum grau de incontinência urinária e em torno de 5% dos casos pode ser necessária alguma forma de tratamento”, conta o urologista.

Neste caso, a cirurgia de prostatectomia pode afetar o funcionamento do esfíncter – músculo responsável pelo controle da urina e que envolve a uretra – causando perda involuntária de urina. Outras possíveis causas da incontinência masculina incluem doenças neurológicas, cirurgias pélvicas, bexiga hiperativa e alterações degenerativas associadas ao envelhecimento.

Como diagnosticar e tratar o problema

De acordo com o Dr Fernando Almeida, a gravidade da incontinência varia. “Em alguns casos, a pessoa não consegue segurar a urina ao fazer esforços como tossir ou espirrar, em outros casos, a vontade de urinar é tão súbita e forte que não dá tempo de chegar a um banheiro”, explica. O médico ressalta ainda que as causas também variam e são distintas. “A avaliação de um urologista é fundamental para definir o tipo de incontinência e o tratamento adequado. “Pode ser um problema intrínseco do próprio esfíncter urinário, distúrbio de função do aparelho urinário ou ser mais um sintoma de uma patologia prostática – condição que acomete cerca de 50% dos homens que passam por uma cirurgia de câncer de próstata”, afirma.

O urologista esclarece que existem tratamentos específicos para cada tipo de incontinência, que podem ser desde fisioterapia de reabilitação do assoalho pélvico, tratamentos medicamentosos, ou tratamentos cirúrgicos. No Brasil, existem duas cirurgias disponíveis: implantação de Sling, que funciona como uma tipóia, que sustenta o canal da urina ou implantação de um esfíncter artificial, que é um pequeno anel em volta da uretra, totalmente contido no corpo e imperceptível, que passa a ser o responsável pelo controle da urina.

Segundo o urologista, no Brasil já existem alguns tratamentos para a incontinência urinária causada pelo enfraquecimento do esfíncter no homem. Entre os mais efetivos podemos citar: implantação de um esfíncter artificial ou as cirurgias de Sling, que consiste na colocação de uma faixa sob a uretra de modo a comprimi-la. Os slings são usados para tratar incontinência urinária principalmente em casos leves a moderados e o esfíncter artificial pode ser utilizado em todos os casos, inclusive em quadros com perda urinária mais grave.

Este último tratamento consiste no implante de um pequeno anel em volta da uretra, totalmente contido no corpo e imperceptível, que passa a ser o responsável pelo controle da urina. “O esfíncter artificial é um recurso que apresenta cerca de 80% a 90% de eficácia para homens com incontinênciaurinária decorrente de cirurgia prostática”, finaliza.

Onde se tratar no Rio de Janeiro

Para atender esse e outros transtornos do aparelho urinário, desde 2016 a Secretaria de Estado de Saúde oferece atendimento através do Núcleo de Disfunções Miccionais, na Policlínica Piquet Carneiro, na Tijuca. O núcleo conta com atendimento adulto e pediátrico e recebe pacientes de todo o Estado do RJ, que são encaminhados ao serviço através da Central Estadual de Regulação. Só em 2017, até outubro, o serviço realizou mais de 5 mil consultas. A unidade é especializada no diagnóstico e tratamento das disfunções urinárias e o nosso objetivo é absorver essa demanda de pacientes e oferecer vários tratamentos urológicos em um só lugar. Além disso também disponibiliza exames e cirurgias, em parceria com o Hospital Pedro Ernesto.

Além do tratamento para incontinência urinária, o núcleo oferece atendimento com urologistas, ginecologistas, pediatras, fisioterapia uroginecológica, consulta de orientação ao cateterismo intermitente, exames de diagnóstico de urodinâmica e urofluxometria, além da realização de cirurgias urológicas ambulatoriais. O atendimento funciona interligado ao Hospital Universitário Pedro Ernesto. “Neste núcleo oferecemos atendimento completo aos problemas miccionais, como a uroneurologia, para pacientes com problemas miccionais de origem neurológica como por exemplo paraplégicos, disfunção miccional em crianças, urogeriatria e até a uroginecologia, voltada para mulheres”, explica Ronaldo Damião, professor titular de urologia da Uerj e coordenador do Núcleo de Disfunções Miccionais da SES.

Como se preparar para o parto normal

As enfermeiras Mônica Milinkovic de la Quintana e Aline Tele Tavares, da Associação Brasileira de Estomaterapia (estomias, feridas e incontinências) alertam para a importância de conscientizar as mulheres que elas podem se preparar para o parto normal também cuidando disso. Confira as principais informações levantadas por elas sobre o tema:

  • Durante a gravidez, os músculos, ligamentos e nervos da região da pelve são submetidos a alterações morfológicas, funcionais e hormonais. As alterações das fibras de colágeno afetam as propriedades viscoelásticas da parede vaginal e dos músculos do assoalho da pelve, o que garante flexibilidade de tais estruturas durante o parto, evitando, assim, o risco de lesão de tais estruturas.
  • O parto representa o evento de maior risco de prejuízos ao qual o assoalho pélvico é submetido durante o ciclo de vida feminino. E, muitas vezes, as disfunções perineais, representadas por Incontinência Urinária (IU), Incontinência Anal (IA) e Prolapso de Órgãos Pélvicos (POP), podem se manifestar muitos anos após, já no climatério.
  • A ocorrência de Incontinência Urinária no decorrer da gravidez, em especial a Incontinência Urinária aos Esforços (IUE), pode resultar de maior mobilidade do canal uretral junto à bexiga. Na maioria dos casos, é condição autolimitante, mas sua persistência pode resultar de uma privação de nervos parcial do assoalho da pelve.
  • Traumas obstétricos constituem a principal causa de Incontinência Anal, consequentemente de lesão do esfíncter anal interno ou externo. Durante o parto, a distensão muscular do levantador do ânus, principal componente muscular do assoalho pélvico, pode ocasionar alargamento do hiato urogenital e, consequentemente, contribuir para a ocorrência de Prolapso de Órgãos Pélvicos

Como o problema pode ser tratado

Segundo elas, IU e IA podem ser tratadas de forma conservadora ou cirúrgica, de acordo com a etiologia, severidade e condição clínica da paciente. O tratamento conservador pode ser conduzido com o Treinamento Muscular do Soalho da Pelve (TMSP). Ele se baseia no princípio de que repetidas contrações voluntárias do levantador do ânus contribuem para aumento de pressão de fechamento uretral, melhorando a função esfincteriana. O treinamento pode ser conduzido com a utilização de biofeedback, técnica que permite que a informação de um processo fisiológico inconsciente seja apresentada ao paciente/ terapeuta como sinal visual, auditivo ou tátil.

“É de suma importância que as disfunções do assoalho pélvico sejam diagnosticadas durante a gravidez e a assistência pré-natal é o melhor instrumento para atingir tal objetivo. Inicialmente a sessão de biofeedback auxilia a gestante a ter propriocepção da musculatura do assoalho pélvico e, a partir daí, as sessões seguintes focam em fortalecimento muscular, oportunizando que o parto vaginal ocorra livre de lesões perineais”, afirmam as enfermeiras.

Fonte: Sociedade Brasileira e Urologia, Associação Brasileira de Estomaterapia eSES-RJ, com Redação

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