HPV: mais da metade dos jovens está infectada

Pesquisa indica prevalência de 54,6 %, sendo o HPV de alto risco para o desenvolvimento de câncer presente em 38,4 % dos participantes

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HPV

Estudo realizado pelo Ministério da Saúde em parceria com um hospital gaúcho concluiu que mais da metade dos jovens brasileiros de 16 a 25 anos está infectada pelo papilomavírus humano, o conhecido vírus HPV, que pode causar o câncer de colo de útero e outros tipos de tumor. Do total de pessoas que participaram do estudo (7.586 entrevistas), 2.669 foram analisadas para tipagem de HPV e dentre estas, a prevalência estimada do vírus foi de 54,6%, sendo que 38,4% destes participantes apresentaram HPV de alto risco para o desenvolvimento de câncer.

A pesquisa, apresentada nesta segunda-feira (27), Dia Nacional de Combate ao Câncer, indica ainda que 16,1% dos jovens têm uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) prévia ou apresentaram resultado positivo no teste rápido para HIV ou sífilis.  A maioria dos indivíduos disse estar em uma relação afetiva estável, sendo que 41,9 % estavam namorando e 33,1% casados (ou morando com o parceiro); o restante estava sem relacionamento, sendo solteiro (24,2 %) ou divorciado (0,7 %). Quanto à saúde sexual, a média de idade de início da atividade sexual foi de 15,3 anos sendo 15,4 anos para mulheres e 15 anos para homens.

A diferença média de idade entre parceiros na primeira relação sexual foi de 3,8 anos. Entre as mulheres, 47,7 % já engravidaram, sendo que dessas, 63,4 % tiveram um filho e 35,4 % tiveram 2 ou mais. A idade média para a primeira gestação foi de 17,1 anos. Somente cerca da metade dos indivíduos (51,5 %) referiram usar camisinha rotineiramente e, apenas 41,1 % fizeram uso na última relação sexual. O comportamento sexual de risco foi observado em 83,4 % dos entrevistados, sendo que a média de parceiros sexuais no último ano foi de 2,2 e a média de parceiros nos últimos 5 anos de 7,5.

Os dados finais deste projeto serão disponibilizados no relatório a ser apresentado ao Ministério da Saúde em abril de 2018. A partir deste estudo, a ideia é ampliar a vacinação contra o HPV, que já é indicada entre meninas e meninos a partir dos 9 anos de idade.  “Até então, não havia estudos de prevalência nacional do HPV que possam medir o impacto da vacina no futuro. O sucesso da vacinação deve ser monitorado, não somente em termos de cobertura, mas principalmente em termos de efetividade na redução da infeção pelo HPV”, afirmou a diretora do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Adele Benzaken.

Perfil analisado

A população do estudo foi composta por 5.812 mulheres e 1.774 homens, sendo a média de idade de 20,6 anos. Dos jovens entrevistados, 15,6 % referiram fumar cigarros, 70,8 % relataram já terem feito uso de bebidas alcoólicas e 27,1 % de drogas, ao longo da vida. A droga mais utilizada foi a maconha (23,7 %). Em relação à escolaridade, 37,9 % dos jovens referiram estar estudando; 28,3 % interromperam os estudos e 33,8 % concluíram os estudos.

A maioria das entrevistas era composta de indivíduos que se autodeclararam pardos (56,6 %), seguido de brancos (23,9 %) e pretos (16,7 %). Apenas 111 indivíduos se autodeclararam amarelos (1,7 %) e 74 indígenas (1,2 %). Essa distribuição é  a mesma observada pelo último censo brasileiro onde os grupos raciais pardo e branco representaram a maioria da população dessa mesma faixa etária.

A população que compôs o POP-Brasil foi, majoritariamente, da classe C (55,6 %) ou D-E (26,6 %), seguida da classe B (15,8 %) e somente 112 indivíduos foram incluídos na classe A (2,0 %). Dos indivíduos que referiram estar trabalhando, 21,0 % o fazia sem carteira de trabalho assinada (ou trabalho informal – por conta própria), 20,8 % trabalhavam com carteira assinada, 1,0 % era servidor público e 57,0 % somente estudavam.

Vírus causa verrugas na região íntima e pode causar câncer de colo de útero

O vírus é apontado como causador de vários tipos de câncer, principalmente ao de colo de útero, mas também de pênis, de vulva, de canal anal e de orofaringe, e seu tratamento é complicado. A doença causa feridas principalmente na região genital, mas também em outras partes do corpo, como pernas e braços. O maior perigo está nas verrugas que aparecem internamente, perto do útero, que não são visíveis e, sem tratamento, podem levar ao câncer.

HPV é sexualmente transmitido, na grande maioria das vezes. “A doença pode sim evoluir até o câncer de colo de útero, chegando a acarretar óbito, se não tratado. A pessoa infectada pode apresentar verrugas na região íntima e o tratamento normalmente é feito com cauterizações”, afirma o ginecologista Élvio Floresti Junior.

Ele aponta alguns mistérios que envolvem esse vírus. “Diferente do que se pensa, o HPV também infecta os homens. Mas apesar de também poder apresentar verrugas como nas mulheres, muitas vezes são assintomáticos. Nestes casos, o diagnóstico é feito com de exames de peniscopia. Por isso sempre aconselhamos o parceiro a procurar um urologista”, ressalta.

Segundo o especialista, o uso de preservativos na relação sexual é a maneira mais eficaz de combater a transmissão, mas não impede totalmente a contaminação. “O contato oral e manual também pode transmitir o vírus”, aponta o médico. Porém, isso não tira a importância do preservativo na relação sexual e que diminui bastante a transmissibilidade entre os casais, evitando, principalmente a contaminação no colo uterino.

Vacina pelo SUS reduz risco entre meninas e meninos

Agora, com a vacina disponibilizada pelo SUS, a expectativa é que o índice de pessoas infectadas com o HPV diminua. ” A vacina é gratuita para meninas entre 9 e 13 anos e tem 100% de eficácia quando feita antes da primeira relação sexual. O ideal seria que todos as pessoas (homens e mulheres) de até 40 anos fossem vacinados, mesmo estes não estando na faixa etária de maior risco. No entanto, a vacina não invalida o uso de preservativo na relação sexual”, comenta Floresti.

É válido ressaltar que o tratamento do HPV pode ser demorado e envolve desde o uso de pomadas e soluções aplicadas no local, feita pelo médico até cirurgias de cauterização. Se não for tratado e o doente tiver com vida sexual ativa, o vírus é transmitido sem controle e a pessoa infectada pode desenvolver câncer. O mais comum é o de colo do útero nas mulheres já nos homens, próstata e pênis.

Mas apesar de muito importante a prevenção e o tratamento, e importante enfatizar que a grande maioria das pessoas infectadas eliminarão totalmente o vírus com ou sem tratamento. “Apenas a minoria evoluirá para o câncer e a evolução demora alguns anos. Como é uma doença assintomática, infelizmente ainda é grande o número de casos de câncer de colo uterino no Brasil, que está na contramão dos países desenvolvidos onde esse índice está cada vez menor, devido a vacinação e melhor conscientização dos jovens”, conclui Dr. Élvio Floresti Junior.

EUROIMMUN oferece teste para HPV. O EUROArray HPV é um lançamento do laboratório com registro aprovado pela Anvisa. A metodologia empregada é a biologia molecular por microarray que detecta e identifica 30 subtipos de HPV clinicamente relevantes. O DNA isolado de células epiteliais de esfregaços cervicais é a amostra utilizada na detecção. Realiza-se uma reação de PCR para amplificar especificamente o DNA viral e marcá-lo com um corante de fluorescência. Através do microarray, o DNA viral é detectado. A principal vantagem para a realização do teste para HPV EUROArray é que este não requer experiência em biologia molecular. Cada passo é fácil de fazer e a interpretação e armazenamento de dados ocorrem automaticamente no software dedicado EUROArrayScan.

Vírus tem mais de 500 mil anos, diz estudo

De acordo com reportagem publicada recentemente pela Agência Fapesp, a humanidade convive há mais tempo do que se imaginava com o HPV. Um novo estudo, desenvolvido por pesquisadores espanhois e brasileiros, acaba de sugerir que as primeiras infecções pela variante de número 16 do vírus HPV (ou HPV16) ocorreram há mais de 500 mil anos. As infecções atingiram indivíduos do gênero humano pertencentes à espécie ancestral comum do homem moderno (Homo sapiens), dos neandertais da Europa e dos denisovanos da Ásia.

Esta é a conclusão do estudo genético desenvolvido no Instituto Catalão de Oncologia (ICO), em Barcelona, Espanha. O trabalho foi publicado na Molecular Biology and Evolution e é assinado pelos pesquisadores Ville Pimenoff e Ignacio Bravo, do ICO, e pela bioquímica brasileira Cristina Mendes de Oliveira, do Hospital do Câncer de Barretos. Entre 2013 e 2014, Oliveira estagiou no ICO dentro do seu projeto de pós-doutoramento no Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, que contou com apoio da FAPESP.

A família de papilomavírus compreende mais de 200 tipos de vírus, que se encontram espalhados pelo mundo. Todo ser humano sofre, em algum momento da vida, pelo menos uma infecção causada por algum tipo de vírus HPV. Em sua imensa maioria, os casos são assintomáticos.

O HPV infecta preferencialmente a região anogenital e a pele. Mais de 40 tipos de HPV são transmitidos por contato sexual. Boa parte deles é inofensiva. Alguns tipos podem ou não formar verrugas benignas. Uns poucos são malignos e podem provocar o surgimento de lesões cancerígenas.

Dois vírus HPV, os tipos 16 e 18, são responsáveis pela quase totalidade dos casos de câncer cervical ou câncer de colo de útero. De acordo com o World Cancer Report 2014, o câncer cervical é o quarto tipo mais comum de câncer entre as mulheres (mais de 500 mil casos no mundo em 2012) e também a quarta causa mais comum de morte por câncer entre mulheres (270 mil no mesmo ano).

O vírus HPV16 é o tipo mais oncogênico, respondendo por 50% de todos os casos de câncer cervical. São conhecidas quatro variantes do HPV16: A, B, C e D. A variante A, por sua vez, subdivide-se em quatro sublinhagens, de números 1, 2, 3, 4. À medida que estudos epidemiológicos do câncer cervical avançaram nas últimas décadas, um padrão curioso começou a emergir. Percebeu-se que a incidência das variantes e sublinhagens de HPV16 variava de acordo com a região do mundo.

Descobriu-se que as infecções pela variante A (de sublinhagens 1, 2 e 3) e pela variante D são predominantes nas Américas, na Europa, no Oriente Médio e no subcontinente indiano. No norte da África, por outro lado, prevalecem as sublinhagens A1, A 2 e A3. Já na África subsaariana preponderam as variantes A e C. E no leste da Ásia e no Sudeste Asiático sobressai a sublinhagem A4.

“A segunda hipótese por nós levantada considerou que a infecção do HPV16 em humanos poderia ser muito mais antiga do que se pensa. Imaginamos que o HPV16 poderia ter coevoluído não só com a espécie Homo sapiens, mas também com o gênero Homo”, disse a pesquisadora brasileira Cristina Oliveira.

Mais sobre a pesquisa do HPV

O projeto POP-Brasil-Estudo Epidemiológico sobre a Prevalência Nacional de Infecção pelo HPV, conduzido pelo Hospital Moinhos de Vento de Porto Alegre (RS), foi realizado em 119 Unidades Básicas de Saúde e um Centro de Testagem e Aconselhamento nas 26 capitais brasileiras e Distrito Federal. O levantamento contou com a colaboração de mais de 250 profissionais de saúde e identificou os fatores demográficos, socioeconômicos, comportamentais e regionais associados à ocorrência do HPV em mulheres e homens entre 16 e 25 anos de idade, usuários do SUS.

Até o momento, das 27 cidades incluídas, a maioria concluiu a meta do estudo (Aracaju, Belém, Belo Horizonte, Campo Grande, Cuiabá, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Macapá, Maceió, Manaus, Natal, Recife, Salvador, São Luís, Teresina e Vitória) e as outras estão em fase de finalização (Boa Vista, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Palmas, Porto Alegre, Porto Velho, Rio Branco, Rio de Janeiro e São Paulo).

A pesquisa faz parte do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) e foi lançada durante o encontro  “Estudo POP-Brasil: resultados e ações para o enfrentamento da infecção pelo HPV”, na Universidade Federal de Ciências Sociais de Porto Alegre (UFCSPA), nesta segunda-feira (27). Também são parceiros a Universidade de São Paulo (Faculdade de Medicina (FMUSP) – Centro de Investigação Translacional em Oncologia), Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Secretarias Municipais de Saúde das capitais brasileiras e Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal.

Quadro de Prevalência do HPV nas capitais do país

CapitaisPrevalência de HPV
Recife (PE)41,2 %
Florianópolis (SC)44,0 %
Maceió (AL)45,1 %
João Pessoa (PB)45,6 %
Curitiba (PR)48,0 %
Manaus (AM)50,3 %
Belém (PA)50,8 %
Boa Vista (RR)51,0 %
São Paulo (SP)52,0 %
Natal (RN)52,9 %
Porto Velho (RO)52,9 %
Fortaleza (CE)53,4 %
Goiânia (GO)54,1 %
Fortaleza (CE)53,4 %
Goiânia (GO)54,1 %
Teresina (PI)54,3 %
Rio de Janeiro (RJ)54,5 %
Aracaju (SE)54,6 %
Vitória (ES)55,1 %
Rio Branco (AC)55,9 %
Porto Alegre (RS)57,1 %
São Luís (MA)59,1 %
Macapá (AM)61,3 %
Cuiabá (MT)61,5 %
Palmas (TO)61,8 %
Salvador (BA)71,9 %
Brasília (DF)Sem dados suficientes
Campo Grande (MS)Sem dados suficientes
Belo Horizonte (MG)Sem dados suficientes

 Fonte: Ministério da Saúde, Agência Fapesp e  Élvio Floresti Junior, com Redação

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